*Resenha sugerida e dedicada ao amigo e fã do blog Caio Lara
The Beatles, ou o “Álbum Branco”, é o décimo álbum de estúdio da banda inglesa de rock The Beatles. Ele foi lançado em 22 de novembro de 1968 e foi gravado de 30 de maio a 14 de outubro do mesmo ano. A produção ficou a cargo de George Martin (lendário produtor dos Beatles) e os estúdios Abbey Road Studios e Trident Studios, ambos em Londres, na Inglaterra, foram utilizados para a gravação.
Desde o fim de 1966 os Beatles já havia deixado as turnês e se tornado uma banda exclusivamente de estúdio. O último show foi em 29 de agosto de 1966, no Monster Park, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Os quatro músicos da lendária banda passaram os primeiros meses de 1968 na Índia, para aprenderem a meditação transcendental com o guru Maharishi Mahesh Yogi, seu criador. A experiência seria fundamental para a criação de canções que constariam no álbum.
Entretanto, a banda deixou a Índia antes do tempo necessário. Ringo Starr foi o primeiro a sair, queixando-se do tédio e do tempero indiano, com o qual não se adaptou. Paul McCartney foi o segundo. Harrison e Lennon deixaram a Índia juntos, algumas semanas depois. Lennon teria se desapontado com Maharishi Mahesh Yogi, pois supôs que este teve um caso com Mia Farrow, o que serviu de inspiração para a canção do álbum em questão chamada “Sexy Sadie”.
Após deixarem a Índia, Lennon e McCartney foram para Nova Iorque para anunciar a criação da Apple Records, selo discográfico que distribuiria os trabalhos que seriam lançados pela banda a partir dali. Em tempo, acabou também como selo dos álbuns solos do ex-membros dos Beatles após a dissolução da banda até 1975.
Embora se esteja tratando de um álbum de importância indiscutível, o “Álbum Branco” pode ser considerado o começo do fim da banda. Foi durante sua gravação que uma série de eventos começou a provocar desentendimentos entre os membros da banda que, com o decorrer do tempo, tornar-se-iam insolúveis.
O padrão de gravação que havia nos discos anteriores, com o grupo trabalhando em conjunto de forma entusiasmada e dinâmica deu espaço a um modo de atuar drasticamente individual por parte dos músicos. Muitas vezes foi comum ver Lennon em um estúdio, McCartney em outro e Starr e Harrison em um terceiro, cada qual com técnicos responsáveis pela gravação diferentes.
Os motivos para desentendimentos na banda têm algumas possíveis explicações.
Com a morte do Manager da banda, Brian Epstein, em agosto de 1967, a banda se dividiu quanto ao novo gerente da banda. Lennon, Harrison e Starr desejavam que o novo gerente fosse Allen Klein, que gerenciava os Rolling Stones. McCartney, entretanto, desejava que o novo manager fosse o empresário Lee Eastman, pai da então namorada e futura esposa de Paul, Linda. Os outros três membros da banda ficaram receosos de que Eastman favoreceria seu futuro genro em detrimento dos interesses da banda. Klein acabou escolhido, embora Paul nunca tenha ratificado o contrato, e depois se descobriu que Allen desviou 5 milhões de libras da banda.
Mas não era somente isso: incomodava aos demais membros do grupo a suposta arrogância de Paul McCartney, cada vez mais se colocando em uma posição de líder do grupo e a dificuldade da dupla Lennon e McCartney em aceitar as novas composições de George Harrison.
A banda possuía uma espécie de pacto de que, na época das gravações, namoradas ou esposas estariam fora dos estúdios enquanto os músicos gravavam e compunham. Mas John Lennon acabou ‘quebrando’ este pacto com sua nova namorada, Yoko Ono. Lennon afirmou que após começar a se relacionar com Yoko sua criatividade aflorou e suas composições ficaram consideravelmente melhores, sendo a presença de Ono fundamental.
Já George Harrison afirmou que: "John apresentou as instalações de Abbey uma vez, e ela nunca mais foi embora… Aparecia todo santo dia”.
Outro motivo de tensão foi o tempo para a gravação das faixas. Algumas, dado o perfeccionismo exigido, principalmente, por McCartney, tiveram cerca de 60 tomadas. Isto acabou irritando bastante a todos.
Fato mais comprobatório da tensão que acabou tomando conta do grupo durante as gravações do álbum foi quando o baterista Ringo Starr deixou a banda, em 22 de agosto de 1968, cansado das excessivas gravações e de ser colocado em uma posição menor perante aos demais membros do grupo. Duas semanas após a sua saída, Ringo voltaria à banda, dado que os outros três membros da banda imploraram por sua volta. Durante a sua ausência, o sensacional músico Paul McCartney assumiu as baquetas em “Back In The USSR” e “Dear Prudence”.
Para se ter uma ideia do clima durante as gravações, mesmo antes da saída temporária de Ringo, o engenheiro de som Geoff Emerick, que trabalhava com o grupo desde Revolver (1966) anunciou em 16 de julho de 1968 que não trabalharia mais com a banda devido ao “desgosto e deterioração do ambiente de trabalho”.
O próprio produtor do álbum e de longa data da banda chegou a afirmar que trabalhar com os Beatles estava se tornando insuportável e que suas maiores qualidades estavam se tornando desfocadas.
A arte da capa ficou a cargo de Richard Hamilton e o conceito adotado foi o contraste com a capa do álbum anterior, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), que era muito colorida. Foi a primeira capa de álbum que não continha os membros do grupo, sendo simplesmente branca, com o nome da banda em alto-relevo.
O álbum branco foi o primeiro (e único) álbum duplo da banda. O produtor George Martin e Ringo Starr eram a favor de se lançar apenas um álbum, com as melhores músicas. Harrison afirmou que havia uma batalha de egos na banda e que lançar o álbum duplo era uma forma de mostrar o seu trabalho de compositor e limpar o catálogo da banda na época. Já McCartney disse que o álbum saiu da forma que deveria.
A ótima “Back In The U.S.S.R.” abre o álbum. É um rock vigoroso, composta por McCartney e ele mesmo gravou a bateria da faixa como dito anteriormente, pois Starr havia saído da banda. Lennon e Harrison trabalham muito bem nos Backing Vocals. Na verdade, trata-se de uma brincadeira de Paul com a música de Chuck Berry “Back In The USA”. Grande faixa de abertura.
“Dear Prudence” é uma composição de John Lennon. Foi feita durante o retiro da banda na Índia e sua sonoridade reflete um pouco da sonoridade típica daquele país. É uma faixa mais calma e de excepcional qualidade.
“Glass Onion” é uma canção com certo apelo psicodélico e traz uma brincadeira de John Lennon sobre o fato das pessoas procurarem mensagens subliminares nas composições da banda.
“Ob-La-Di, Ob-La-Da” é um clássico da banda. É quase um Reggae, com um ótimo ritmo contagiante, bem alto astral. Composta por McCartney, durante a sua gravação, chegou a ser gravada por mais de 60 vezes, fato que irritou profundamente Lennon, que chegou a afirmar que “odiava a música”. O grupo Marmelade alcançou o topo das paradas inglesas com uma regravação desta faixa.
“While My Guitar Gently Weeps” foi composta por George Harrison, sendo uma ótima canção. O solo da música foi tocado pelo guitarrista Eric Clapton, amigo íntimo de Harrison. Mesmo assim seu nome não foi creditado no álbum. Ótimo solo!
“Martha My Dear” é uma homenagem que McCartney fez à sua cadela Martha e contém um ritmo bem mais próximo ao Jazz. É a faixa que abre o lado B do primeiro disco.
“Blackbird” é uma faixa que conta com Paul cantando e tocando violão. É uma bela balada que conta com sons de pássaros ao fundo, com uma marcação rítmica bem simples. É uma das melhores do álbum.
“Piggies” é mais uma composição de George Harrison para o álbum. Suas letras contém uma forte crítica social. “Rocky Racoon” é uma composição de Paul que conta com George Martin ao piano, com um estilo voltado ao velho oeste americano.
“Don’t Pass Me By” é uma contribuição de Starr para o álbum, música bem alegre, em clima de alto astral. “Why Don’t We Do It In The Road” é uma faixa em que Paul toca todos os instrumentos e Lennon sempre achou esta uma das melhores faixas de Paul. “Julia” fecha o primeiro disco, com uma ótima balada composta por John Lennon em homenagem à sua mãe.
“Birthday” abre o segundo disco de “The Beatles”. É mais uma canção bem rock and roll, com ótimo ritmo e bem agitada. É uma das últimas composições genuinamente feita em parceria Lennon e McCartney. Conta com a participação de Yoko Ono e Pattie Harrison (esposa de George) no coro de vozes.
“Yer Blues” é uma das melhores do álbum, um blues com muito feeling e sentimento composto por John Lennon. A melodia é pesada e, de certa forma, melancólica. Faixa sensacional.
“Sexy Sadie” é uma canção composta por John Lennon que reflete seu desapontamento com o guru indiano Maharishi que, supostamente, ficava flertando com as mulheres que faziam parte do grupo de meditação, em especial com Mia Farrow.
Outro clássico presente na obra é “Helter Skelter”. Foi a tentativa de Paul McCartney fazer a música mais pesada dos Beatles, supostamente, em resposta a “I Can See For Miles”, do grupo The Who. Há uma lenda que haveria uma versão de “Helter Skelter” que teria duração de 27 minutos e que permanece inédita até hoje. Bandas do quilate de U2 e Motley Crüe fizeram versões da faixa. Certamente uma das melhores do álbum.
“Revolution 1” é uma faixa praticamente acústica que abre o lado B do segundo disco. Recebe no nome o número 1 porque é a versão original de “Revolution”, gravada com guitarras para o lado B do single “Hey Jude”.
“Savoy Truffle” é mais uma contribuição de Harrison para o álbum. Faixa alegre que contém algumas referências à faixa “Ob-La-Di, Ob-La-Da”. “Cry Baby Cry” é uma balada composta por John Lennon e tem como elemento principal o piano. “Revolution 9” é praticamente uma colagem de sons desconexos e criou mais atrito entre John e Paul, já que este não a considera uma música “Beatle”. “Good Night” é uma bela balada composta por John Lennon, na qual Ringo Starr está no vocal e é acompanhado por orquestrações. A faixa fecha o álbum.
Como dito anteriormente, nesta fase o grupo não realizava mais turnês, embora fizessem aparições em programas de televisão à época.
Durante a gravação do “Álbum Branco”, a banda gravou a faixa “Hey Jude”, um dos maiores sucessos da banda e música que foi composta para não entrar como parte de nenhum álbum. É o primeiro single lançado pela Apple Records e é, até hoje, o single mais vendido da carreira da banda. Seu lado B, como dito anteriormente, é uma modificação da faixa “Revolution 1”, constante no álbum, mas desta vez tocada mais rápida e com guitarras, chamada de “Revolution” apenas.
Evidentemente o álbum foi um sucesso absoluto e é o décimo álbum mais vendido nos Estados Unidos. Foi também o primeiro álbum gravado em 8 canais e o último a ser lançado no Reino Unido com a mixagem alternativa mono, uma vez que a versão americana já contava com a tecnologia estéreo.
Formação:
George Harrison – Vocal e Backing Vocals; Guitarra Base e Solo, Violão, Baixo de 4 e 6 cordas; Hammond órgão; Bateria e Percussão
John Lennon – Vocal e Backing Vocals; Guitarra Base e Solo, Violão, Baixo de 4 e 6 cordas; Hammond órgão; Bateria e Percussão, Gaita, Saxofone e assobios.
Paul McCartney – Guitarra Base e Solo, Violão, Baixo de 4 e 6 cordas; Hammond órgão; Bateria e Percussão (Bateria em "Back in the U.S.S.R." e "Dear Prudence").
Ringo Starr – Bateria e Percussão; Piano Elétrico e Sleigh Bell (sinos) em "Don't Pass Me By"; Backing Vocals em "The Continuing Story of Bungalow Bill"; Vocal em "Don't Pass Me By" e "Good Night"
Faixas:
Disco 1
01. Back in the U.S.S.R. (Lennon/ McCartney) - 2:43
02. Dear Prudence (Lennon/ McCartney) - 3:56
03. Glass Onion (Lennon/ McCartney) - 2:17
04. Ob-La-Di, Ob-La-Da (Lennon/ McCartney) - 3:08
05. Wild Honey Pie (Lennon/ McCartney) - 0:52
06. The Continuing Story of Bungalow Bill (Lennon/ McCartney) - 3:13
07. While My Guitar Gently Weeps (Harrison) - 4:45
08. Happiness Is a Warm Gun (Lennon/ McCartney) - 2:43
09. Martha My Dear (Lennon/ McCartney) - 2:28
10. I'm So Tired (Lennon/ McCartney) - 2:03
11. Blackbird (Lennon/ McCartney) - 2:18
12. Piggies (Harrison) - 2:04
13. Rocky Raccoon (Lennon/ McCartney) - 3:32
14. Don't Pass Me By (Starr) - 3:50
15. Why Don't We Do It in the Road? (Lennon/ McCartney) - 1:40
16. I Will (Lennon/ McCartney) - 1:45
17. Julia (Lennon/ McCartney) - 2:54
Disco 2
01. Birthday (Lennon/ McCartney) - 2:42
02. Yer Blues (Lennon/ McCartney) - 4:00
03. Mother Nature's Son (Lennon/ McCartney) - 2:47
04. Everybody's Got Something to Hide Except Me and My Monkey (Lennon/ McCartney) - 2:24
05. Sexy Sadie (Lennon/ McCartney) - 3:15
06. Helter Skelter (Lennon/ McCartney) - 4:29
07. Long, Long, Long (Harrison) - 3:03
08. Revolution 1 (Lennon/ McCartney) - 4:15
09. Honey Pie (Lennon/ McCartney) - 2:40
10. Savoy Truffle (Harrison )- 2:54
11. Cry Baby Cry (Lennon/ McCartney) - 3:02
12. Revolution 9 (Lennon/ McCartney) - 8:13
13. Good Night (Lennon/ McCartney) - 3:11
Letras:
Para conteúdo das letras, recomendamos o acesso a: http://letras.terra.com.br/the-beatles/
Detalhes aqui: https:// beginnerguitarhq.com/play- guitar-like-the-beatles/
Detalhes aqui: https://
Opinião do Blog:
Somente o nome Beatles já é um revelador de qualidade quando está se falando de Rock. Praticamente toda a discografia da banda é formada por álbuns clássicos, indiscutivelmente.
Destacamos este álbum pelo fato de ser o começo do fim da banda mais bem sucedida comercialmente e mais reconhecida da história da música. O fato do ambiente pesado de gravação não influenciou na enorme qualidade das músicas, pelo simples fato da banda contar com músicos da mais alta qualidade.
Esta também é uma forma de reconhecer todo o legado da banda para a música em geral, não apenas para o rock. Ao ouvir o álbum, depara-se com a enorme versatilidade da banda em termos de sonoridades diversas que encontramos ao longo do álbum. É indiscutível a contribuição do grupo para a música moderna. Bandas de diferentes estilos citam os Beatles como influência, por exemplo, Black Sabbath, Ramones e Oasis, todas muito diferentes entre si.
Então, se você não é fã do quarteto de Liverpool, no mínimo deve reverenciá-los, pois a música que você adora curtir todos os dias tem enorme contribuição musical e técnica por parte dos Beatles. Portanto, nosso muito obrigado!
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Ob-La-Di, Ob-La-Da
Daniel, frequentemente o White Album é o primeiro colocado nas listas de melhores álbuns da história. Particularmente eu gosto mais do Abbey Road, mas o disco branco é histórico. Talvez se fosse um disco apenas (e não duplo), fosse mais sensacional ainda. Pra quem gosta de música com "M" maiúsculo é um prato cheio. Destaque para a guitarra do George em While My Guitar Gently Weeps. De arrepiar! Caio Lara
ResponderExcluirObrigada Beatles por ter existido e por sua grande influência no mundo do Rock'
ResponderExcluirUm Viva para The Beatles \o/
Grande grande grande álbum. Toda semana eu escuto pelo menos uma música dele.
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