Free é o
segundo álbum de estúdio da banda britânica de mesmo nome, ou
seja, o Free. Seu lançamento oficial ocorreu em outubro de 1969 pelo
selo Island Records. As gravações se deram entre janeiro e junho
daquele mesmo ano, nos estúdios Morgan Studios e Trident Studios, em
Londres, na Inglaterra. A produção ficou por conta de Chris
Blackwell.
O Blog
tem como um de seus melhores posts aquele sobre o álbum Fire And
Water (1970), justamente do Free, que pode ser visto aqui.
Brevemente, far-se-á uma pequena introdução sobre o grupo para
depois se analisar o álbum.
Tons Of
Sobs, primeiro álbum do Free, foi lançado no Reino Unido em 14 de
março de 1969. O estilo proposto em sua estreia é predominantemente
o Blues Rock.
Embora o
álbum não houvesse conseguido repercutir nas paradas de sucesso do
Reino Unido, chegou ao humilde 197º lugar nos Estados Unidos.
O Free
era uma nova banda quando gravou Tons Of Sobs e seus músicos eram
extremamente jovens; nenhum deles havia feito vinte anos e o mais
jovem, o baixista Andy Fraser, estava com apenas 16 anos de idade.
O grupo
havia conseguido uma boa experiência através de constantes turnês,
sendo que seu álbum de estreia consistiu na maior parte de seu
set-list ao vivo.
Quando a
banda assinou contrato com a Island Records, de Chris Blackwell, Guy
Stevens foi contratado para produzir o álbum (e ele mais tarde se
tornaria inesquecível produzindo os primeiros álbuns do Mott the
Hoople e do lendário álbum do The Clash, London Calling, de 1979).
Andy Fraser |
Ele optou
por uma atitude minimalista na produção, muito devido ao
extremamente baixo orçamento de cerca de 800 libras, criando um som
muito cru e estridente. Embora a relativa inexperiência da banda,
com estúdios, também fosse um fator que contribuiu para o resultado
final da produção.
Mesmo
assim, o trabalho traz canções memoráveis como “Walk In My
Shadow” e “I'm A Mover”.
Mas o
Free conquistaria o público através de suas performances
impressionantes nos shows da banda.
Na turnê
para divulgar seu primeiro trabalho, o Free faria shows de abertura
para o Blind Faith (de Eric Clapton) no Reino Unido e depois seguindo
para a Europa onde fariam a abertura de bandas como Spooky Tooth e
Jethro Tull.
Entre a
turnê de divulgação para seu trabalho de estreia, o Free
intercalava sessões de estúdio já trabalhando para seu segundo
disco, desta feita autointitulado.
Há uma
diferença marcante na musicalidade da banda para seu segundo
trabalho, bem como na voz de Paul Rodgers. Se Tons Of Sobs havia sido
produzido por Guy Stevens, Free foi produzido pelo próprio chefe da
Island Records, Chris Blackwell.
Este
álbum viu o florescimento da parceria musical entre Paul Rodgers e o
baixista Andy Fraser, que havia sido vislumbrado em Tons Of Sobs em
canções como “I'm A Mover”, sendo que oito das nove faixas são
creditadas à parceria Fraser e Rodgers.
Possivelmente,
como um dos resultados da influência de Fraser como compositor, o
baixo é muito mais proeminente neste trabalho em relação ao álbum
anterior. O instrumento é usado como uma guitarra-base, dirigindo as
músicas, enquanto a guitarra de Kossoff se desenvolve a partir dele.
O álbum
é notável por sua capa extremamente inovadora e impressionante,
creditada a Ron Rafaelli, da The Visual Thing Inc. Ele é destaque no
livro 100 Best Album Covers, ao lado de exemplos mais
conhecidos, como a lendária capa, de autoria de Peter Blake, para
Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.
Paul Rodgers |
Rafaelli
fez a capa fotografando sua modelo com luzes estroboscópicas para
fazer uma silhueta de encontro a um fundo, no qual poderia, então,
sobrepor um design.
Assim, o
álbum tem um design de uma mulher feita de estrelas pulando em todo
o céu. O nome da banda é impresso em letras extremamente pequenas
na parte superior da capa (desta forma, como o formato CD é muito
menor que o LP, isso o torna quase ilegível no primeiro).
Vamos às
faixas:
I'LL
BE CREEPIN'
Um bom riff é a base da primeira faixa do álbum Free. O baixo de Andy Fraser está bastante proeminente e domina o ambiente. A pegada Bluesy é muito marcante e o ritmo cadenciado encanta. A atuação vocal de Paul Rodgers é impecável. O solo principal da guitarra de Paul Kossoff esbanja talento. Faixa incrível!
A letra é
sobre desilusão amorosa:
Take
all you things and move far away
Take
all your furs and rings baby
But
don't you sing hurray
You
can change your address
But
you wont get far
Don't
make no difference wherever you are
Yeah
'cos I'll be creepin' baby
And
I'll be creeping 'round your door
“I'll
Be Creepin'” foi lançada como single, mas não obteve maior
repercussão em termos de paradas de sucesso.
SONGS
OF YESTERDAY
Outra vez em um ritmo bem cadenciado, "Songs Of Yesterday" traz o baixo de Andy Fraser como o principal destaque da canção, em uma posição dominante. Quem também brilha é o baterista Simon Kirke, fazendo um ótimo trabalho. Kossoff transborda feeling nos solos e Rodgers tem outra grande atuação nos vocais.
A letra
possui alto teor de melancolia:
Sad
song
Then
i'll get on
On my
way
Just
like a song of yesterday
Listen
to what i'm gonna say
LYING
IN THE SUNSHINE
Uma lenta e suave melodia é a marca inicial da terceira composição presente no disco. O andamento arrastado traz um clima melancólico para a música, mas longe de ser ruim. Paul Rodgers opta por uma atuação vocal mais sóbria e contida e que se casa de maneira eficiente com o instrumental. A faixa demonstra uma faceta mais intimista do conjunto.
A letra
possui sentido de leveza:
So let
us lie in the sun
Let us
dream all alone
Let
our worries fly away
So
happy here
So let
me stay
TROUBLE
ON DOUBLE TIME
O Rock com forte influência de Blues está de volta em "Trouble On Double Time". Aqui a guitarra de Paul Kossoff está mais ativa, embora o baixo de Andy Fraser ainda se sobressaia de maneira bastante acentuada. Kossoff destrói em outro solo muito bom. Mais um grande momento do álbum.
A letra é
simples e se refere à fidelidade:
You
know my school teacher
Told
me before i left school
That a
man with two women's
Not a
man but a fool
MOUTHFUL
OF GRASS
"Mouthful Of Grass" é uma faixa instrumental, a qual é dominada por um andamento arrastado e preenchida por um sentimento bastante bucólico. Há uma certa influência celta na melodia da canção, na qual se destacam Fraser e Kossoff.
WOMAN
"Woman" traz novamente uma pegada Bluesy, mas com uma dose surpreendente de peso, flertando muito proximamente com o Hard Rock da década seguinte. Desta maneira, a guitarra de Paul Kossoff brilha intensamente, sobre uma base perfeita construída por Fraser e Kirke. Como toque final, outra brilhante atuação de Rodgers. Faixa sensacional!
A letra é
divertida e tem teor de interesse:
Marry
me today
I'll
give you everything, except my car, baby
Marry
me today
I'll
give you everything, but my guitar
But my
guitar and my car
FREE
ME
A introdução de "Free Me" apresenta o baixo de Fraser ainda mais dominante, em um clima tenso e obscuro. A voz de Rodgers contribui decisivamente para este aspecto sombrio apresentado pela canção. Kossoff faz um solo minimalista por volta dos dois minutos e meio que extrapola no feeling. Uma composição com forte influência Blues/Soul em um momento interessantíssimo do disco.
A letra
intercala amor e sofrimento:
Morning
comes
And
the evening follows
Life
without you
Knows
no tomorrow
You
leave me weary
And
you leave me tired
But
you fill my soul
With
strange desire
But I
love you babe
Yes I
love all of you
BROAD
DAYLIGHT
"Broad Daylight" talvez seja a faixa mais conhecida do álbum Free. A canção apresenta a guitarra de Paul Kossoff imprimindo peso e intensidade em um novo toque no Hard Rock. A melodia apresentada é belíssima, envolve o ambiente, catalisada pela monumental atuação de Paul Rodgers. O solo da guitarra de Kossoff é incrível. Um clássico.
A letra é
uma mensagem de esperança:
Now
the clock says it's time for bed
Time
for sleep the moon just said
Time
for tears in your dreams
Will
the tears all disappear come
“Broad
Daylight” é um dos maiores clássicos do Free. Mesmo assim,
lançada como single, não conseguiu repercutir nas principais
paradas de sucesso.
MOURNING
SAD MORNING
A nona - e última - faixa de Free é "Mourning Sad Morning". Logo no início é possível ouvir a flauta de Chris Wood, um dos fundadores da banda Traffic. Trata-se de outra canção com uma pegada mais leve e lenta, mas desta feita com uma musicalidade bastante triste e melancólica. Rodgers casa de maneira perfeita seu vocal com a sonoridade e é o maior destaque da música.
A letra
possui sentido romântico:
In the
evening i sit
And my
thoughts they turn to you
In the
evening i think of my home
And i
need you to remember
All
the love we used to know
Think
of me sometimes
My
love
Considerações
Finais
Com seus
singles causando pouco (ou mesmo nenhum) barulho, o álbum não foi
nada bem, comercialmente falando, em seu período de lançamento.
Mesmo
assim, atingiu a modesta 22ª posição na principal parada de
sucesso britânica, mas não repercutiu nada na correspondente
norte-americana.
Mas, com
o passar do tempo e o Free se tornando conhecido – bem como seus
membros no decorrer de suas próprias carreiras – o álbum Free passou a ser
admirado e muito respeitado. Tanto que a banda Three Dog Night fez
versões cover de “I'll Be Creepin'” e “Woman”.
Ao mesmo
tempo, enquanto Fraser e Rodgers fortaleciam uma parceria como
compositores, as tensões dentro da banda aumentavam.
Kossoff,
cuja espontaneidade natural tinha sido alimentada até então,
particularmente, ressentia-se em ser obrigado a seguir rigidamente
partes muito específicas da guitarra-base criadas por Fraser.
Foi um
período estranho que viu ambos, Kossoff e o baterista Simon Kirke,
chegarem perto de deixarem a banda.
Só a
intervenção sempre diplomática do chefe da gravadora, Chris
Blackwell, parece ter evitado isso, assim como manteve a banda
disciplinada e focada na gravação do disco.
Dave
Thompson, do Allmusic, dá ao álbum uma nota 4 de um 5 máximo possível,
apontando o disco como uma referência no Blues Rock britânico.
Apesar
dos problemas, a banda continuou junta, fazendo turnês e se mantendo
sempre exibindo seu talento em shows durante todo o ano de 1969.
Assim,
entre um show e outro, o grupo entra o ano de 1970 já compondo e
fazendo gravações do que seria seu terceiro álbum de estúdio,
Fire And Water.
Formação:
Paul
Rodgers - Vocal
Paul
Kossoff - Guitarra
Andy
Fraser - Baixo
Simon
Kirke - Bateria
Faixas:
01. I'll
Be Creepin' (Fraser/Rodgers) – 3:27
02. Songs
of Yesterday (Fraser/Rodgers) – 3:33
03. Lying
in the Sunshine (Fraser/Rodgers) – 3:51
04.
Trouble on Double Time (Fraser/Rodgers/Kirke/Kossoff) – 3:23
05.
Mouthful of Grass (Fraser/Rodgers) – 3:36
06. Woman
(Fraser/Rodgers) – 3:50
07. Free
Me (Fraser/Rodgers) – 5:24
08. Broad
Daylight (Fraser/Rodgers) – 3:15
09.
Mourning Sad Morning (Fraser/Rodgers) – 5:04
Letras:
Para o
conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
http://letras.mus.br/free/
Certamente o Free não teve o sucesso que merecia e, até hoje, permanece uma banda não tão conhecida do público em geral, ao menos no Brasil. Mas trata-se de uma das formações mais talentosas da história do Rock.
Seus álbuns iniciais, como o que está apresentado neste post, mostra uma banda com forte influência do Blues norte-americano, fundindo-o de maneira especial com sua forte veia Rock. Mais que isto, já em Free, a banda apresenta pequenos toques do Hard Rock sensacional que apresentaria no futuro, como no álbum Fire And Water (1970).
Saber que se tratavam de adolescentes gravando este trabalho de tanta qualidade realmente causa espanto. O baixo de Andy Fraser está o tempo todo presente, criando a base sobre a qual a guitarra de Paul Kossoff desfila todo o talento do músico. Tudo isto é recheado com uma atuação impecável de Paul Rodgers, um vocalista muito acima da média.
As letras são simples, mas não comprometem a qualidade do trabalho.
O álbum Free ainda não representa o ápice do conjunto homônimo, mas é um disco de qualidade muito alta. As composições são fortes e de um bom gosto absurdo.
A Bluesy "I'll Be Creepin'" encanta com seu ritmo lento e forte, bem como em "Songs Of Yesterday". As baladas com toques melancólicos funcionam de maneira muito eficiente como em "Lying In The Sunshine" e em "Mourning Sad Morning".
Ainda há a incrível e pesada "Broad Daylight", um clássico inconteste da banda. Sem falar em "Woman", uma das melhores composições do catálogo do grupo.
Enfim, o Free era uma banda composta por músicos muito jovens, mas com um talento extraordinário para suas baixas idades. Seu segundo trabalho apresenta um grupo desenvolvendo sua identidade musical, demonstrando canções inspiradas e de muito bom gosto, apontando para um futuro que seria brilhante. Álbum muito bem recomendado pelo Blog!
Disco maravilhoso de uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos. Todos os discos até o Free Live! são muito bons. Free at Last é um pouco abaixo dos anteriores e Heartbreaker encerrou a carreira da banda em alta, e é uma pena que Paul Kossof não sobreviveu e a carreira solo de Andy Fraser não decolou - sobraram apenas Rodgers e Kirke no grande Bad Company. A versão ao vivo de Free Me é de arrepiar!
ResponderExcluirPois é, Marcello. Uma pena o Paul Kossoff ter vivido tão pouco, ele foi um guitarrista espetacular. O Free também é uma das minhas bandas preferidas. Abraço!
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