19 de agosto de 2017

MONTROSE - PAPER MONEY (1974)


Paper Money é o segundo álbum de estúdio da banda norte-americana Montrose. Seu lançamento oficial aconteceu em 11 de outubro de 1974 através do selo Warner Bros. A produção ficou por conta de Ted Templeman e do próprio grupo.



Hoje é hora do Montrose retornar às páginas do RAC, com a sua primeira aparição podendo ser lida aqui. Como é o costume, vai-se abordar os fatos que antecederam ao lançamento do álbum para depois se ater ao álbum propriamente dito.

Montrose

Em 17 de outubro de 1973 era lançado Montrose, o álbum de estreia do grupo homônimo.

A opinião do site sobre o álbum e um pouco de sua história estão no post de setembro de 2012, cujo link se apontou acima.

Fato é que Montrose é um disco muito influente e um sucesso comercial tardio, não tendo o retorno financeiro esperado na época de seu lançamento.

Embora o álbum não tenha sido um grande vendedor após sua liberação inicial, atingindo o 133º lugar na Billboard norte-americana, como foi dito, o disco provou ser um sucesso internacional latente que, ao longo de várias décadas, vendeu mais de um milhão de cópias, atingindo o status de platina.

Muitas vezes, a banda é citada como 'a resposta da América para o Led Zeppelin', sendo considerada altamente influente entre os músicos de Hard Rock/Heavy Metal, incluindo o gigante Iron Maiden, que gravou e tocou versões de músicas do álbum.

Ronnie Montrose

O Montrose foi inicialmente administrado pelo manager Dee Anthony. O primeiro membro a deixar a formação original do Montrose foi o baixista Bill Church, o qual foi substituído por Alan Fitzgerald, para o segundo álbum da banda.

Paper Money

Parecendo desencantado com o que ele percebeu ser a única dimensionalidade e a pequena popularidade, comercialmente falando, do som Hard Rock/Proto-Metal de sua banda, Ronnie Montrose insistiu em mudar a fórmula para o lançamento do segundo disco do grupo, ampliando o estilo rítmico e sônico da pegada da banda, e geralmente diminuindo a intensidade, a alta energia e a abordagem metálica que definiu a estreia do grupo em 1973.

A diversidade musical é a força motriz de Paper Money, que abre com a faixa “Underground”, um improvável cover de uma música lançada no ano anterior pelo excêntrico Chunky, Novi & Ernie, em uma tentativa de apresentar uma faixa 'amigável' às rádios.

Apresentando um som de guitarra semelhante a um órgão, criado usando um gabinete de alto-falante Leslie em vez de um amplificador de guitarra convencional, e, recebendo uma grande reforma musical que obscurece as letras escuras e obscenas da música, “Underground” define o tom de um álbum que é imprevisível a cada volta e cobre um amplo espectro musical.

Ronnie Montrose aumenta e expande sua própria presença neste trabalho, contribuindo com vocais na balada esparsa e pensativa “We're Going Home”, a qual apresenta o mellotron fornecido pelo tecladista convidado Nick DeCaro, quem mais tarde se juntaria à banda Open Fire do próprio Ronnie Montrose.

Embora a produção de Ted Templeman não tenha os brilho, presença e imensidão gerais encontradas em Montrose, o álbum ainda consegueria manter uma coesão geral com sua imprevisibilidade sedutora.

Sammy Hagar

A faixa-título, “Paper Money”, é um sermão sobre a inutilidade do materialismo e o poderoso dólar que é sublinhada pela abordagem de Ronnie Montrose.

A capa é absolutamente simples. Lançado em outubro de 1974, Paper Money tem a produção de Ted Templeman e do próprio grupo.

Vamos às faixas:

UNDERGROUND

Quem conhece o álbum de estreia do Montrose percebe, logo de cara, que a sonoridade proposta aqui é bem diferente. O ritmo é repleto de um balanço soul, no qual o maior destaque é o baixo de Alan Fitzgerald. Bons vocais de Sammy Hagar.

A letra envolve sensualidade de uma forma sombria:

Take me now or let me die
Well you take me and you break me
Well you take me and you break me
Take me now or take me underground

Conforme dito, trata-se de um cover para a música “Underground”, lançada no ano anterior, pelo grupo Chunky, Novi and Ernie.



CONNECTION

"Connection" possui uma sensibilidade melódica notável, pois é uma faixa sensível, lenta, mas muito bem constituída. O piano de Mark Jordan é bonito, mas o baixo de Alan Fitzgerald se sobressai mais uma vez. A atuação de Sammy nos vocais é formidável.

A letra é uma brincadeira com a palavra Connection (conexão):

No connection,
I just can't make no connection
All I want to do baby, yeah
Everything I wanna do is get back to you

Trata-se de uma versão para a faixa “Connection”, do Rolling Stones, presente no álbum Between the Buttons, de 1967.



THE DREAMER

Já em "The Dreamer", o grupo resgata um pouco da pegada presente em seu primeiro disco. Há um riff bem pesado e presente advindo da guitarra de Ronnie Montrose. O ritmo é mais cadenciado, mas o flerte com o Hard Rock é mais deliberado.

A letra possui um tom pessimista:

I look at the future and what lies ahead
The silver bullets have turned to lead
All the more I laugh, all the more I'm gonna cry
The more I live, the more I'm gonna die



STARLINER

"Starliner" é uma faixa instrumental bem construída, na qual o maior destaque é a talentosa guitarra conduzida por Ronnie Montrose. Embora curta, ele mistura uma pegada psicodélica, com influências do Rock dos anos 50, e uma pitada de Space Rock. Interessante.



I GOT THE FIRE

Direta e com uma sonoridade bastante Hard Rock, "I Got the Fire" vai diretamente ao ponto, sem rodeios, em seus poucos mais de 3 minutos. Ronnie Montrose brilha com sua guitarra, fazendo um solo belíssimo, repleto de feeling. A seção rítmica pulsante constrói uma base formidável e Hagar faz vocais precisos.

A letra é em tom sensual:

If you think you can beat me at my own game
Well baby, I say you're a liar
Well, I got the fire


“I Got the Fire” foi o principal single lançado para promoção de Paper Money. O resultado final do solo de guitarra de Ronnie Montrose contou com a sorte, pois uma falha de estúdio fez com que soasse um ruído reverberante de baixo impacto em sua introdução.

“I Got the Fire” tem uma versão cover pela banda Axe em seu álbum Offering, de 1982.

A canção também foi regravada pelo Iron Maiden. O grupo reintitulou a música para “I've Got the Fire”, no lado B de seu single “Flight of Icarus”, em 1983. Embora tenha sido lançada pela primeira vez como o lado B da canção “Sanctuary”, resultado de uma gravação ao vivo no clube Marquee, em 1980.



SPACEAGE SACRIFICE

Nesta faixa, a banda aposta em uma sonoridade um pouco mais contida, com um aspecto um tanto quanto mais sombrio (mesmo que levemente). Quem conduz magistralmente os caminhos da canção é o baixo de Alan Fitzgerald, mas dando espaço para que a guitarra de Ronnie Montrose brilhe. Enfim, uma música instigante.

A letra fala sobre sacrifício:

Well, everyone thought they were going somewhere
They were going somewhere
There was nowhere, it was nowhere!
Don't think twice - spaceage sacrifice



WE'RE GOING HOME

Já em "We're Going Home", o Montrose aposta em uma sonoridade mais Bluesy, com um inegável aspecto mais doloroso. O Mellotron, tocado por Nick DeCaro, está presente por toda a canção. A guitarra de Ronnie Montrose, quando aparece, deslancha talento. É o guitarrista quem faz os vocais da música e, embora não brilhe, também não compromete.

A letra é um convite a olhar para o futuro:

No more crying, no more tears
No more wasting days and years
Sun is rising on a brand-new day
People singing while children play



PAPER MONEY

A oitava - e última - faixa de Paper Money é a canção-título, ou seja, "Paper Money". Na derradeira música do álbum, a seção rítmica formada pelo baixista Alan Fitzgerald e pelo baterista Denny Carmassi está ainda mais ativa e presente, construindo uma sonoridade cheia de balanço e ritmo. Os vocais de Sammy Hagar estão ótimos e a guitarra de Ronnie Montrose complementa o trabalho.

A letra fala sobre o mercado financeiro:

My car cost me fifteen grand,
Some say I got a deal
Melt it down, I've got a thousand pounds of junk
And ten dollars worth of steel



Considerações Finais

Apesar de nos dias atuais não possuir nem parte da importância musical da estreia da banda, Paper Money fez algum barulho na época de seu lançamento.

Apesar da saída estilística significativa da estreia icônica da banda, da resposta morna das críticas e das reações variadas dos fãs, Paper Money vendeu duas vezes mais cópias que Montrose e foi a melhor performance do conjunto nas paradas de sucesso, atingindo a 65ª posição na Billboard, a principal parada norte-americana de discos.

Eduardo Rivadavia, do site AllMusic, dá ao trabalho uma nota 3 de um máximo de 5, explicando: “No momento em que eles entraram no estúdio para começarem a trabalhar em seu segundo álbum, Paper Money, de 1974, as rodas já estavam começando a sair do vagão sobrecarregado do Montrose. Embora envolvessem praticamente o mesmo elenco de personagens responsáveis pela inovadora estreia da banda, Montrose (incluindo o produtor Ted Templeman e o engenheiro Donn Landee), as sessões de gravação para Paper Money foram muitas vezes prejudicadas pela rápida deterioração da relação entre o homem principal do grupo, Ronnie Montrose, e seu talentoso cantor principal, Sammy Hagar”.

Por fim, Rivadavia conclui: ““Spaceage Sacrifice” é, é claro, pouco mais do que uma prima pobre para o monstruoso single da estreia, “Space Station No. 5”, e o tremor horrível de “We're Going Home” (que Hagar teria se recusado a cantar, permitindo que Ronnie faça as honras) é francamente embaraçoso. Em suma, não necessita de dons psíquicos para ler os sinais aqui: Hagar logo diria seu 'adios' oficial e o Montrose nunca mais seria o mesmo”.

Depois de construir uma acrimonia entre o guitarrista-fundador, Ronnie Montrose, e o vocalista, Sammy Hagar, o pico de animosidade seria alcançado durante a turnê europeia de 1974-75, no qual a banda promovia Paper Money (que também contava com Tower of Power, Little Feat e The Doobie Brothers).

Sammy Hagar se separou do grupo em fevereiro de 1975, partindo para construir uma carreira-solo. Hagar foi substituído pelo vocalista Bob James, oriundo de Los Angeles.

Buscando ampliar e mudar o som da banda, o tecladista Jim Alcivar também foi adicionado ao grupo. A seção rítmica de Paper Money (o baterista Denny Carmassi e o baixista Alan Fitzgerald) foi mantida.

A nova formação do Montrose, como um quinteto, fez sua estreia ao vivo em San Francisco, no Winterland Ballroom, em 5 de abril de 1975. Nesta fase, o grupo se separou do produtor Ted Templeman.

Com a nova fomração, o Montrose lançaria seu terceiro álbum de estúdio, Warner Brothers Presents ... Montrose!; em setembro de 1975.



Formação:
Sammy Hagar - Vocal
Ronnie Montrose - Guitarra; Vocal principal em “We're Going Home”
Alan Fitzgerald - Baixo
Denny Carmassi - Bateria
Músicos Adicionais:
Mark Jordan - Piano em “Connection”
Nick DeCaro - Mellotron em “We're Going Home”

Faixas:
01. Underground (Rappaport) – 3:33
02. Connection (Jagger/Richards) – 5:42
03. The Dreamer (Hagar/Montrose) – 4:05
04. Starliner (Montrose) – 3:36
05. I Got the Fire (Montrose) – 3:06
06. Spaceage Sacrifice (Hagar/Montrose) – 4:55
07. We're Going Home (Montrose) – 4:52
08. Paper Money (Hagar/Montrose) – 5:01

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/montrose/

Opinião do Blog:
O álbum de estreia do Montrose, sobre o qual já comentamos, está entre os melhores discos de Rock de todos os tempos, seja por sua incontestável qualidade, seja por sua inegável influência para diferentes bandas - o Iron Maiden que o diga.

Quando se ouve o seu sucessor, Paper Money, há um certo sentimento de decepção. E o RAC vai explicar o porquê.

Claro, a banda ainda é muito talentosa e dispensa maiores apresentações. O falecido Ronnie Montrose foi um ótimo guitarrista, embora sua guitarra não seja tão marcante e memorável neste trabalho como o fora em Montrose.

Sammy Hagar é um vocalista muito acima da média, desde aqueles tempos. Ouça a versão de "Connection", dos Rolling Stones, presente no álbum e confirme a afirmação. Mas, para o site, o maior destaque do álbum é a ótima presença do baixista Alan Fitzgerald, construindo a base da sonoridade do disco com maestria, sendo muito bem acompanhado pela bateria de Denny Carmassi.

As letras são interessantes e merecem uma conferida.

O grupo, em Paper Money, peca por uma abordagem menos agressiva e impressionante que de sua esplendorosa estreia. A guitarra de Ronnie está menos presente e afiada, o peso é consideravelmente menor e as composições são bem menos envolventes.

Mas há boa música no disco. "The Dreamer" é um Hard Rock competente e lembra o que o Montrose havia concebido em sua estreia. A viajante "Spaceage Sacrifice" é uma faixa interessante, bem como a versão do grupo para "Connection" é bem legal.

Mas o RAC escolhe "I Got the Fire" como a melhor do álbum em uma pequena amostra do que o conjunto era capaz de conceber.

Enfim, embora Paper Money nem sequer consiga minimamente se aproximar da qualidade do álbum Montrose, ainda assim é um trabalho que merece ser ouvido. Apresenta um grupo, que com problemas sérios de convivência, mesmo assim conseguiu produzir um disco divertido e com boas canções. Infelizmente, após o lançamento do disco, o Montrose jamais seria o mesmo.

Um comentário:

  1. Acho que eu sou a única pessoa do mundo que prefere "Paper Money" ao primeiro álbum. Óbvio que para quem prefere o som mais hard rock "Montrose" é imbatível, mas considero que a variação de sons em "Paper Money" adiciona um charme inteiramente especial ao disco. "Connection" é de fazer chorar um VFS (Velho Fã dos Stones - uma expressão da imprensa brasileira do começo dos anos 80) como eu - é impressionante como a banda conseguiu transformar o original em algo muito superior, e "I Got the Fire" satisfaz o pessoal que prefere o 1º LP. Mas o melhor ficou para o final: "Paper Money" possui uma melodia cativante, um trabalho fantástico de bateria, e uma das letras mais inteligentes abordando Economia já feitas por uma banda de rock, ao mostrar que papel-moeda, sem garantia nenhuma, vale quase nada. O único problema do Montrose foi ter durado pouco...

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