Paper
Money é o segundo álbum de estúdio da banda norte-americana
Montrose. Seu lançamento oficial aconteceu em 11 de outubro de 1974
através do selo Warner Bros. A produção ficou por conta de Ted
Templeman e do próprio grupo.
Hoje
é hora do Montrose retornar às páginas do RAC,
com a sua primeira aparição podendo ser lida aqui. Como é o
costume, vai-se abordar os fatos que antecederam ao lançamento do
álbum para depois se ater ao álbum propriamente dito.
Montrose
Em
17 de outubro de 1973 era lançado Montrose, o álbum de
estreia do grupo homônimo.
A
opinião do site sobre o álbum e um pouco de sua história estão no
post de setembro de 2012, cujo link se apontou acima.
Fato
é que Montrose é um disco muito influente e um sucesso
comercial tardio, não tendo o retorno financeiro esperado na época
de seu lançamento.
Embora
o álbum não tenha sido um grande vendedor após sua liberação
inicial, atingindo o 133º lugar na Billboard norte-americana, como foi
dito, o disco provou ser um sucesso internacional latente que, ao
longo de várias décadas, vendeu mais de um milhão de cópias,
atingindo o status de platina.
Muitas
vezes, a banda é citada como 'a resposta da América para o Led Zeppelin', sendo considerada altamente influente entre os músicos
de Hard Rock/Heavy Metal, incluindo o gigante Iron Maiden, que
gravou e tocou versões de músicas do álbum.
Ronnie Montrose |
O
Montrose foi inicialmente administrado pelo manager Dee
Anthony. O primeiro membro a deixar a formação original do Montrose
foi o baixista Bill Church, o qual foi substituído por Alan
Fitzgerald, para o segundo álbum da banda.
Paper
Money
Parecendo
desencantado com o que ele percebeu ser a única dimensionalidade e a
pequena popularidade, comercialmente falando, do som Hard
Rock/Proto-Metal de sua banda, Ronnie Montrose insistiu em mudar a
fórmula para o lançamento do segundo disco do grupo, ampliando o
estilo rítmico e sônico da pegada da banda, e geralmente diminuindo
a intensidade, a alta energia e a abordagem metálica que definiu a
estreia do grupo em 1973.
A
diversidade musical é a força motriz de Paper Money, que
abre com a faixa “Underground”, um improvável cover de uma
música lançada no ano anterior pelo excêntrico Chunky, Novi &
Ernie, em uma tentativa de apresentar uma faixa 'amigável' às
rádios.
Apresentando
um som de guitarra semelhante a um órgão, criado usando um gabinete
de alto-falante Leslie em vez de um amplificador de guitarra
convencional, e, recebendo uma grande reforma musical que obscurece
as letras escuras e obscenas da música, “Underground” define o
tom de um álbum que é imprevisível a cada volta e cobre um amplo
espectro musical.
Ronnie
Montrose aumenta e expande sua própria presença neste trabalho,
contribuindo com vocais na balada esparsa e pensativa “We're Going
Home”, a qual apresenta o mellotron fornecido pelo tecladista
convidado Nick DeCaro, quem mais tarde se juntaria à banda Open
Fire do próprio Ronnie Montrose.
Embora
a produção de Ted Templeman não tenha os brilho, presença e
imensidão gerais encontradas em Montrose, o álbum ainda
consegueria manter uma coesão geral com sua imprevisibilidade
sedutora.
Sammy Hagar |
A
faixa-título, “Paper Money”, é um sermão sobre a inutilidade
do materialismo e o poderoso dólar que é sublinhada pela abordagem
de Ronnie Montrose.
A
capa é absolutamente simples. Lançado em outubro de 1974, Paper
Money tem a produção de Ted Templeman e do próprio grupo.
Vamos
às faixas:
UNDERGROUND
Quem conhece o álbum de estreia do Montrose percebe, logo de cara, que a sonoridade proposta aqui é bem diferente. O ritmo é repleto de um balanço soul, no qual o maior destaque é o baixo de Alan Fitzgerald. Bons vocais de Sammy Hagar.
A
letra envolve sensualidade de uma forma sombria:
Take
me now or let me die
Well
you take me and you break me
Well
you take me and you break me
Take
me now or take me underground
Conforme
dito, trata-se de um cover para a música “Underground”, lançada
no ano anterior, pelo grupo Chunky, Novi and Ernie.
CONNECTION
"Connection" possui uma sensibilidade melódica notável, pois é uma faixa sensível, lenta, mas muito bem constituída. O piano de Mark Jordan é bonito, mas o baixo de Alan Fitzgerald se sobressai mais uma vez. A atuação de Sammy nos vocais é formidável.
A
letra é uma brincadeira com a palavra Connection (conexão):
No
connection,
I
just can't make no connection
All
I want to do baby, yeah
Everything
I wanna do is get back to you
Trata-se
de uma versão para a faixa “Connection”, do Rolling Stones,
presente no álbum Between the Buttons, de 1967.
THE
DREAMER
Já em "The Dreamer", o grupo resgata um pouco da pegada presente em seu primeiro disco. Há um riff bem pesado e presente advindo da guitarra de Ronnie Montrose. O ritmo é mais cadenciado, mas o flerte com o Hard Rock é mais deliberado.
A
letra possui um tom pessimista:
I
look at the future and what lies ahead
The
silver bullets have turned to lead
All
the more I laugh, all the more I'm gonna cry
The
more I live, the more I'm gonna die
STARLINER
"Starliner" é uma faixa instrumental bem construída, na qual o maior destaque é a talentosa guitarra conduzida por Ronnie Montrose. Embora curta, ele mistura uma pegada psicodélica, com influências do Rock dos anos 50, e uma pitada de Space Rock. Interessante.
I
GOT THE FIRE
Direta e com uma sonoridade bastante Hard Rock, "I Got the Fire" vai diretamente ao ponto, sem rodeios, em seus poucos mais de 3 minutos. Ronnie Montrose brilha com sua guitarra, fazendo um solo belíssimo, repleto de feeling. A seção rítmica pulsante constrói uma base formidável e Hagar faz vocais precisos.
A
letra é em tom sensual:
If
you think you can beat me at my own game
Well
baby, I say you're a liar
Well,
I got the fire
“I
Got the Fire” foi o principal single lançado para promoção de
Paper Money. O resultado final do solo de guitarra de Ronnie
Montrose contou com a sorte, pois uma falha de estúdio fez com que
soasse um ruído reverberante de baixo impacto em sua introdução.
“I
Got the Fire” tem uma versão cover pela banda Axe em seu
álbum Offering, de 1982.
A
canção também foi regravada pelo Iron Maiden. O grupo
reintitulou a música para “I've Got the Fire”, no lado B de seu
single “Flight of Icarus”, em 1983. Embora tenha sido lançada
pela primeira vez como o lado B da canção “Sanctuary”,
resultado de uma gravação ao vivo no clube Marquee, em 1980.
SPACEAGE
SACRIFICE
Nesta faixa, a banda aposta em uma sonoridade um pouco mais contida, com um aspecto um tanto quanto mais sombrio (mesmo que levemente). Quem conduz magistralmente os caminhos da canção é o baixo de Alan Fitzgerald, mas dando espaço para que a guitarra de Ronnie Montrose brilhe. Enfim, uma música instigante.
A
letra fala sobre sacrifício:
Well,
everyone thought they were going somewhere
They
were going somewhere
There
was nowhere, it was nowhere!
Don't
think twice - spaceage sacrifice
WE'RE
GOING HOME
Já em "We're Going Home", o Montrose aposta em uma sonoridade mais Bluesy, com um inegável aspecto mais doloroso. O Mellotron, tocado por Nick DeCaro, está presente por toda a canção. A guitarra de Ronnie Montrose, quando aparece, deslancha talento. É o guitarrista quem faz os vocais da música e, embora não brilhe, também não compromete.
A
letra é um convite a olhar para o futuro:
No
more crying, no more tears
No
more wasting days and years
Sun
is rising on a brand-new day
People
singing while children play
PAPER
MONEY
A oitava - e última - faixa de Paper Money é a canção-título, ou seja, "Paper Money". Na derradeira música do álbum, a seção rítmica formada pelo baixista Alan Fitzgerald e pelo baterista Denny Carmassi está ainda mais ativa e presente, construindo uma sonoridade cheia de balanço e ritmo. Os vocais de Sammy Hagar estão ótimos e a guitarra de Ronnie Montrose complementa o trabalho.
A
letra fala sobre o mercado financeiro:
My
car cost me fifteen grand,
Some
say I got a deal
Melt
it down, I've got a thousand pounds of junk
And
ten dollars worth of steel
Considerações
Finais
Apesar
de nos dias atuais não possuir nem parte da importância musical da
estreia da banda, Paper Money fez algum barulho na época de
seu lançamento.
Apesar
da saída estilística significativa da estreia icônica da banda, da
resposta morna das críticas e das reações variadas dos fãs, Paper
Money vendeu duas vezes mais cópias que Montrose e foi a
melhor performance do conjunto nas paradas de sucesso, atingindo a
65ª posição na Billboard, a principal parada norte-americana de
discos.
Eduardo
Rivadavia, do site AllMusic, dá ao trabalho uma nota 3 de um máximo
de 5, explicando: “No momento em que eles entraram no estúdio para
começarem a trabalhar em seu segundo álbum, Paper Money, de
1974, as rodas já estavam começando a sair do vagão sobrecarregado
do Montrose. Embora envolvessem praticamente o mesmo elenco de
personagens responsáveis pela inovadora estreia da banda, Montrose
(incluindo o produtor Ted Templeman e o engenheiro Donn Landee), as
sessões de gravação para Paper Money foram muitas vezes
prejudicadas pela rápida deterioração da relação entre o homem
principal do grupo, Ronnie Montrose, e seu talentoso cantor
principal, Sammy Hagar”.
Por
fim, Rivadavia conclui: ““Spaceage Sacrifice” é, é claro,
pouco mais do que uma prima pobre para o monstruoso single da
estreia, “Space Station No. 5”, e o tremor horrível de “We're
Going Home” (que Hagar teria se recusado a cantar, permitindo que
Ronnie faça as honras) é francamente embaraçoso. Em suma, não
necessita de dons psíquicos para ler os sinais aqui: Hagar logo
diria seu 'adios' oficial e o Montrose nunca mais seria o
mesmo”.
Depois
de construir uma acrimonia entre o guitarrista-fundador, Ronnie
Montrose, e o vocalista, Sammy Hagar, o pico de animosidade seria
alcançado durante a turnê europeia de 1974-75, no qual a banda
promovia Paper Money (que também contava com Tower of Power,
Little Feat e The Doobie Brothers).
Sammy
Hagar se separou do grupo em fevereiro de 1975, partindo para
construir uma carreira-solo. Hagar foi substituído pelo vocalista
Bob James, oriundo de Los Angeles.
Buscando
ampliar e mudar o som da banda, o tecladista Jim Alcivar também foi
adicionado ao grupo. A seção rítmica de Paper Money (o baterista
Denny Carmassi e o baixista Alan Fitzgerald) foi mantida.
A
nova formação do Montrose, como um quinteto, fez sua estreia ao
vivo em San Francisco, no Winterland Ballroom, em 5 de abril de 1975.
Nesta fase, o grupo se separou do produtor Ted Templeman.
Com
a nova fomração, o Montrose lançaria seu terceiro álbum de
estúdio, Warner Brothers Presents ... Montrose!; em setembro
de 1975.
Formação:
Sammy
Hagar - Vocal
Ronnie
Montrose - Guitarra; Vocal principal em “We're Going Home”
Alan
Fitzgerald - Baixo
Denny
Carmassi - Bateria
Músicos
Adicionais:
Mark
Jordan - Piano em “Connection”
Nick
DeCaro - Mellotron em “We're Going Home”
Faixas:
01.
Underground (Rappaport) – 3:33
02.
Connection (Jagger/Richards) – 5:42
03.
The Dreamer (Hagar/Montrose) – 4:05
04.
Starliner (Montrose) – 3:36
05.
I Got the Fire (Montrose) – 3:06
06.
Spaceage Sacrifice (Hagar/Montrose) – 4:55
07.
We're Going Home (Montrose) – 4:52
08.
Paper Money (Hagar/Montrose) – 5:01
Letras:
Para
o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.letras.mus.br/montrose/
O álbum de estreia do Montrose, sobre o qual já comentamos, está entre os melhores discos de Rock de todos os tempos, seja por sua incontestável qualidade, seja por sua inegável influência para diferentes bandas - o Iron Maiden que o diga.
Quando se ouve o seu sucessor, Paper Money, há um certo sentimento de decepção. E o RAC vai explicar o porquê.
Claro, a banda ainda é muito talentosa e dispensa maiores apresentações. O falecido Ronnie Montrose foi um ótimo guitarrista, embora sua guitarra não seja tão marcante e memorável neste trabalho como o fora em Montrose.
Sammy Hagar é um vocalista muito acima da média, desde aqueles tempos. Ouça a versão de "Connection", dos Rolling Stones, presente no álbum e confirme a afirmação. Mas, para o site, o maior destaque do álbum é a ótima presença do baixista Alan Fitzgerald, construindo a base da sonoridade do disco com maestria, sendo muito bem acompanhado pela bateria de Denny Carmassi.
As letras são interessantes e merecem uma conferida.
O grupo, em Paper Money, peca por uma abordagem menos agressiva e impressionante que de sua esplendorosa estreia. A guitarra de Ronnie está menos presente e afiada, o peso é consideravelmente menor e as composições são bem menos envolventes.
Mas há boa música no disco. "The Dreamer" é um Hard Rock competente e lembra o que o Montrose havia concebido em sua estreia. A viajante "Spaceage Sacrifice" é uma faixa interessante, bem como a versão do grupo para "Connection" é bem legal.
Mas o RAC escolhe "I Got the Fire" como a melhor do álbum em uma pequena amostra do que o conjunto era capaz de conceber.
Enfim, embora Paper Money nem sequer consiga minimamente se aproximar da qualidade do álbum Montrose, ainda assim é um trabalho que merece ser ouvido. Apresenta um grupo, que com problemas sérios de convivência, mesmo assim conseguiu produzir um disco divertido e com boas canções. Infelizmente, após o lançamento do disco, o Montrose jamais seria o mesmo.
Acho que eu sou a única pessoa do mundo que prefere "Paper Money" ao primeiro álbum. Óbvio que para quem prefere o som mais hard rock "Montrose" é imbatível, mas considero que a variação de sons em "Paper Money" adiciona um charme inteiramente especial ao disco. "Connection" é de fazer chorar um VFS (Velho Fã dos Stones - uma expressão da imprensa brasileira do começo dos anos 80) como eu - é impressionante como a banda conseguiu transformar o original em algo muito superior, e "I Got the Fire" satisfaz o pessoal que prefere o 1º LP. Mas o melhor ficou para o final: "Paper Money" possui uma melodia cativante, um trabalho fantástico de bateria, e uma das letras mais inteligentes abordando Economia já feitas por uma banda de rock, ao mostrar que papel-moeda, sem garantia nenhuma, vale quase nada. O único problema do Montrose foi ter durado pouco...
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