29 de novembro de 2018

MÖTLEY CRÜE - SHOUT AT THE DEVIL (1983)



Shout at the Devil é o segundo álbum de estúdio da banda norte-americana Mötley Crüe. Seu lançamento oficial aconteceu em 26 de setembro de 1983 através do selo Elektra Records. As gravações ocorreram entre abril e julho daquele mesmo ano, no Cherokee Studios, em Hollywood, nos Estados Unidos. A produção ficou por conta de Tom Werman.

Finalmente o RAC traz o retorno do Mötley Crüe com outro álbum que se tornou um dos pilares do Glam Metal: Shout at the Devil. Vai-se abordar os fatos que se antecederam ao lançamento do disco para depois se ater ao tradicional faixa a faixa.



Too Fast for Love

Em 10 de novembro de 1981, foi lançado Too Fast for Love, o álbum de estreia do Mötley Crüe.

O Blog já abordou este disco e suas opiniões podem ser encontradas aqui.

Too Fast for Love não foi nenhum sucesso imediato e suas qualidades somente foram reconhecidas anos depois, quando o Mötley Crüe se tornou um fenômeno de popularidade.

A turnê canadense de promoção ao disco, em 1982, foi catastrófica e deixou o grupo praticamente sem dinheiro.

Nikki Sixx

Começo do sucesso

As coisas começaram a mudar para o Mötley Crüe devido a 2 fatores fundamentais.

O primeiro foi o surgimento e popularização da MTV norte-americana, em 1º de agosto de 1981. A banda soube, como poucas, tirar proveito do uso de videoclipes para sua promoção. (Nota do Blog: MTV (anteriormente um inicialismo de Music Television) é um canal de televisão norte-americano básico por cabo e satélite. Ela é uma subsidiária da ‘Viacom Music and Entertainment Group’, a propriedade principal da divisão Viacom Media Networks da Viacom. O canal possui a sua sede na cidade de Nova Iorque. Lançada em 1 de agosto de 1981, o propósito original do canal foi tocar videoclipes guiados por personalidades televisivas conhecidas como ‘video jockeys’, ou Vjs).

O segundo, mas não menos importante, foi a participação da banda no US Festival, no dia 29 de maio de 1983. Ao lado de nomes como Ozzy Osbourne, Scorpions e Van Halen, a atuação catártica do grupo chamou a atenção tanto do público quanto da mídia. Estima-se que um público total de 670 mil pessoas tenha assistido aos 4 dias de shows.

Vince Neil e Mick Mars

Shout at the Devil

Contando com sua formação clássica, o Mötley Crüe aproveitou os frutos de sua apresentação no US Festival para lançar o que seria seu segundo álbum de estúdio, Shout at the Devil.

Vince Neil nos vocais, Nikki Sixx no baixo, Mick Mars na guitarra e Tommy Lee na bateria formavam o quarteto na época.

Envolta a polêmicas, como de costume, o título do álbum e o uso de um pentagrama na capa do mesmo trouxeram muita controvérsia à banda após seu lançamento, em 1983, quando grupos cristãos e conservadores afirmaram que o conjunto estava encorajando seus ouvintes a adorarem Satanás.

Aliás, a arte da capa é obra de Bob Defrin.

Entre abril e julho de 1983, o Mötley Crüe se reuniu no Cherokee Studios, em Hollywood, no Estado norte-americano da Califórnia, para gravar o trabalho sob a produção de Tom Werman, o qual já havia trabalhado com nomes como Ted Nugent, Cheap Trick e Blue Öyster Cult, entre outros.

Vamos às faixas:

IN THE BEGINNING

Esta pequena faixa funciona apenas como introdução ao disco.

A letra é uma ode ao mal:

Now, many many lifetimes later
Lay destroyed, beaten, beaten down
Only the corpses of rebels
Ashes of dreams
And bloodstained streets.…

O produtor Geoff Workman é quem faz a narração das letras na faixa.



SHOUT AT THE DEVIL

A guitarra de Mick Mars e a bateria de Tommy Lee anunciam uma música matadora. "Shout at the Devil" possui o peso, a intensidade e, claro, o tipo de melodia que faz o Heavy Metal conquistar uma grande legião de seguidores. Clássico!

A letra é, literalmente, diabólica:

He's the wolf screaming lonely in the night
He's the blood stain on the stage
He's the tear in your eye
Been tempted by his lie
He's the knife in your back
He's rage
He's the razor to the knife
Oh, lonely is our lives
My heads spinnin' round and round
But in the seasons of wither
We'll stand and deliver
Be strong and laugh and

“Shout at the Devil” é um clássico do Mötley Crüe.

A faixa foi lançada como single, mas não obteve repercussão nas principais paradas de sucesso.

Em 1982, a banda gravou uma versão demo de “Shout at the Devil”. Esta versão permaneceu inédita por muitos anos, até a edição remasterizada do álbum Shout at the Devil, de 2003. A versão demo apresenta uma introdução diferente e tem letras ligeiramente alteradas.

A canção foi uma das várias as quais grupos conservadores alegaram encorajar a adoração ao diabo.

Curiosamente, a letra menciona duas músicas do Aerosmith: “Round and Round” e “Seasons of Wither”.

A música foi regravada pela própria banda para o álbum Generation Swine, de 1997, intitulada “Shout at the Devil ‘97” e foi quando ela também ganhou um videoclipe.

A faixa também aparece nos games Guitar Hero II, Guitar Hero Smash Hits e Rocksmith 2014. É usada como canção tema de atletas como o lutador Brock Lesnar e o arremessador Joba Chamberlain.

Entre versões covers conhecidas temos as de grupos como Stuck Mojo, Hollywood Undead e Sum 41, esta última com o baterista Tommy Lee.



LOOKS THAT KILL

"Looks that Kill" continua com o peso em voga e o ritmo em alta rotação, graças a um riff matador oriundo da guitarra de Mick Mars. Os ótimos vocais de Vince Neil aumentam as possibilidades desta ótima música, a qual lembra muito o Judas Priest!

A letra possui sentido sexual:

She's got the looks that kill
Now she's bulletproof
Keeps her motor clean and believe me, you
She's a number thirteen



“Looks That Kill” é outro clássico do Mötley Crüe.

A faixa foi lançada como single, em 4 de janeiro de 1984. Ela passou 10 semanas no Hot 100 da Billboard nos Estados Unidos, alcançando o seu 54º lugar.

A canção foi lançada como um videoclipe, permitindo ao Mötley Crüe sua primeira exposição real na MTV.

Seus riffs são considerados alguns dos melhores trabalhos do guitarrista Mick Mars. Uma favorita dos fãs, a música ainda é uma parte fundamental do set ao vivo do grupo.

O conjunto tocou a canção pela primeira vez em 31 de outubro de 1982, no Concord Pavilion, em Concord, na Califórnia.

O riff principal da faixa ficou no 41º lugar da lista da revista norte-americana Guitar World dos melhores riffs/solos.

Aliás, o riff principal é bem semelhante ao riff da música “Young Girls”, do Dokken, presente no álbum Breaking the Chains, o qual foi lançado dois anos antes de Shout at the Devil.

A música aparece no game Grand Theft Auto: Vice City Stories. Um cover conhecido foi feito pela banda Static-X, presente no álbum Cult of Static, de 2009.



BASTARD

"Bastard" é uma música que vai direto ao ponto, sem muitos rodeios, até mesmo pela sua curtíssima duração. Pesada e intensa, ela bebe na fonte do Metal setentista.

A letra fala sobre tortura:

I got your neck in the noose
I got nothing to loose
We're really gonna screw you
Consider that bastard dead
Quick as a shark
Beast has its mark
You can't beat the dark
But don't try to rape me



GOD BLESS THE CHILDREN OF THE BEAST

Pequena faixa instrumental, com pouco mais de 1 minuto, que serve de introdução para a seguinte.



HELTER SKELTER

Adicionando uma intensidade e um peso extraordinários quando comparada à versão original, "Helter Skelter" é um Hard Rock vigoroso nas mãos do Mötley Crüe, com destaque para a guitarra de Mick Mars e para a bateria de Tommy Lee.

A letra brinca com o amor como se ele fora uma tobogã:

Do you, don't you want me to love you?
I'm coming down fast, but I'm miles above you
Tell me, tell me, tell me
Come on tell me the answer
Well, you may be a lover
But you ain't no dancer

Evidentemente, trata-se de uma versão para o clássico dos The Beatles, “Helter Skelter”, composta por John Lennon e Paul McCartney e presente no álbum The Beatles, de 1968.

A canção foi lançada como single, mas não repercutiu nas principais paradas de sucesso.



RED HOT

O baixista Nikki Sixx constrói uma base interessante para que a guitarra de Mick Mars brilhe bastante na boa introdução de "Red Hot". O riff de guitarra é um dos melhores de todo o álbum e o peso é uma constante nesta faixa alucinante.

A letra fala sobre medo:

The kids scream in fright through the night
Loving every bite with delight
And we blow out our minds with your truth
And together we stand for the youth



TOO YOUNG TO FALL IN LOVE

Mick Mars aparece novamente com outro riff matador, desta feita, como parte de uma música extremamente pesada, mas bastante cadenciada. O resultado final é uma composição muito intensa e com um clima angustiante. Excelente trabalho vocal de Vince Neil!

A letra é sobre sexo e violência:

You say our love
Is like dynamite
Well its no surprise
Cause you've got one-way eyes
Well you're killing me
Your love's a guillotine
Not yet a man
Just a punk in the street



A música foi lançada como single, atingindo apenas a 90ª colocação da principal parada norte-americana desta natureza.

Um videoclipe acompanhante foi lançado em conjunto com o single. O vídeo diz respeito aos membros da banda se unindo para resgatar uma jovem mulher asiática das garras do que parece ser uma figura semelhante a um Imperador. Ele permanece intercalando imagens do conjunto tocando a música, com cenas de luta onde os membros enfrentam ninjas e samurais do Imperador.

A canção também aparece no game Grand Theft Auto: Vice City.



KNOCK ‘EM DEAD, KID

Outro bom riff é a base desta canção do disco. O ritmo é mais cadenciado, mas o peso está presente, bem como a bateria de Tommy Lee se destaca. A guitarra de Mars está furiosa.

A letra também fala sobre violência:

In the heat of the night
You went and blackened my eyes
Well now I'm back
I'm back
I'm back
And I'm coming your way
Well now I'm supercharged
Might just explode in your face
I'm black
I'm black
I'm black
And I'm primed for hate



TEN SECONDS TO LOVE

A ótima "Ten Seconds to Love" é a canção mais glam metal do álbum, abraçando brutalmente o Glam Metal e o Hard Rock e, em contrapartida, deixando o peso absurdo de lado. Aqui, o grupo aposta mais em uma melodia maliciosa e um ritmo saliente, com um bom trabalho de Nikki Sixx.

A letra é sobre sexo:

Touch my gun, but don't pull my trigger
Let's make history in the elevator
Lock the door, shine my pistol some more
Here i come, just 10 seconds longer



DANGER

A décima-primeira - e última - faixa de Shout at the Devil é "Danger". A música de encerramento do álbum é um presente aos ouvintes. Embora mais cadenciada e com menos peso, mesmo assim intensa, "Danger" é uma composição bem interessante.

A letra fala sobre Hollywood:

Danger
You're in danger
When the boys are around Danger
You're in danger
And this is my town
This is Hollywood



Considerações Finais

Mesmo com seus singles fazendo moderado sucesso, Shout at the Devil foi um divisor de águas na carreira do Mötley Crüe.

O disco atingiu a boa 17ª posição da principal parada norte-americana desta natureza, a Billboard. Ainda conquistou os 23º e 85º lugares das paradas de Canadá e Austrália.

Em uma resenha contemporânea para o jornal americano The Village Voice, Robert Christgau fez uma crítica pesada a Shout at the Devil e sentiu o apelo comercial da banda como uma ‘falsa fanfarronice’ em um álbum que seria pobre “até mesmo para os padrões do heavy metal”.

JD Considine, da revista norte-americana Rolling Stone, chamou o estilo de rock estereotipado, inócuo e sem originalidade: “O ponto principal de bandas como Motley Crue é proporcionar emoções baratas a adolescentes cansados, e é aí que o álbum acaba desapontando”.

Considine, no The Rolling Stone Album Guide, de 2004, descartou a música como “uma destilação aflitivamente gentil dos clichês do Kiss e do Aerosmith”. Posteriormente, a revista classificaria o álbum no 44º lugar em seu 100 Greatest Metal Albums of All Time.

Barry Weber, do AllMusic, deu uma nota 4,5 (em 5) e foi mais positivo, em uma análise retrospectiva; citando Shout como o melhor álbum da banda, que “exibe o metal escorregadio e notório (ainda bastante divertido) do Mötley Crüe no seu melhor [momento]”.

O jornalista canadense Martin Popoff considerou Shout at the Devil inferior ao álbum de estreia do Mötley, mas achou sua música extremamente viciante e, se não original, chamou-o de “metal de lobotomia punk”.

Adrian Begrand, do PopMatters, chamou o álbum de “clássico atemporal do metal [de] LA”, do qual “as pessoas muitas vezes se esquecem o quão escuro, quão desprezível, quão ameaçador... realmente é”. Em sua opinião, contém os melhores singles da banda e “permanece até hoje a melhor hora do Mötley Crüe”.

O guitarrista Russ Parrish, mais conhecido como Satchel, da banda Steel Panther, afirmou: “Sem este álbum, muitas das grandes bandas de hair metal não teriam surgido”, continuando: “Theatre of Pain era mais do seu visual glamouroso, mas Shout at the Devil foi um ótimo álbum. Era doentio. Eles definiram o limite. As pessoas olharam para aquilo e disseram: ‘Porra, temos que nos vestir bem, cara’”.

Para se reconhecer o valor real e o poder de um disco como Shout at the Devil, ninguém melhor que Nikki Sixx que, em 2000, declarou:

“Quando uma banda como nós lança Shout at the Devil” (...) “e a gravadora faz marketing zero, publicidade zero e faz zero anúncios comerciais, e você vende cinco milhões de discos, então todo mundo começa a te dar tapinhas nas costas. Mas é o Mötley Crüe quem fez isso, não a Elektra Records”.

Shout at the Devil elevou consideravelmente o sucesso do grupo e fez com que o Mötley Crüe acontecesse. Ele foi um tremendo sucesso comercial. A banda então ganhou a atenção da estrela do heavy metal, Ozzy Osbourne, e se viu como o show de abertura para Osbourne em sua turnê mundial de 1984.

Os membros da banda ficariam bem conhecidos por suas palhaçadas e roupas extravagantes, botas de salto alto, maquiagem forte e aparentemente interminável abuso de álcool e drogas.

Em 1985, o Mötley Crüe lançaria seu terceiro álbum de estúdio, o clássico Theatre of Pain.

Shout at the Devil supera a casa de 4 milhões de cópias vendidas apenas na América do Norte.



Formação:
Vince Neil - Vocal
Mick Mars - Guitarras Elétricas e Acústicas, Backing Vocals
Nikki Sixx - Baixo, Backing Vocals
Tommy Lee - Bateria, Backing Vocals
Músicos adicionais:
Geoff Workman (creditado Allister Fiend) - narrador em 01
Jai Winding - Teclados
Paul Fox - Teclados
Tom Kelly - Vocais de fundo
Richard Page - Vocais de fundo

Faixas:
01. In the Beginning (Sixx/Workman) - 1:13
02. Shout at the Devil (Sixx) - 3:16
03. Looks That Kill (Sixx) - 4:07
04. Bastard (Sixx) - 2:54
05. God Bless the Children of the Beast (Mars) - 1:33
06. Helter Skelter (Lennon/McCartney) - 3:09
07. Red Hot (Sixx/Mars/Neil) - 3:20
08. Too Young to Fall in Love (Sixx) - 3:34
09. Knock 'Em Dead, Kid (Sixx/Neil) - 3:40
10. Ten Seconds to Love (Sixx/Neil) - 4:17
11. Danger (Sixx/Mars/Neil) - 3:51

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/motley-crue/

Opinião do Blog:
Em um Blog que desde o seu início valorizou o Glam Metal, é curioso notar como o Mötley Crüe demorou a retornar por estas páginas. E, entre todas as ótimas bandas desta vertente do Rock, o Mötley Crüe é bem possivelmente a preferida de quem faz o RAC.

Com a mesma clássica formação que gravou o ótimo "Too Fast for Love", o grupo se mostra mais amadurecido e preparado para brilhar. Tommy Lee e Vince Neil são pontos altos do álbum, mas o guitarrista Mick Mars está verdadeiramente endiabrado nos riffs.

E aqui o Mötley Crüe está muito pesado e a influência do Judas Priest (em especial de faixas como "Grinder", de British Steel) é muito perceptível. E isto faz de Shout at the Devil um disco incrível.

As letras são maliciosas, mesmo que simples, e a sonoridade é violenta. A guitarra de Mars está pesada como nunca e a seção rítmica fornece um peso absurdo às canções.

Desta forma, o resultado final é um álbum conciso, direto e sem músicas de enchimento. É deixar rolar e curtir.

O clássico indiscutível "Shout at the Devil" é uma canção sensacional em seus peso e fúria. "Bastard" é outro petardo assim como a maliciosa "Ten Seconds to Love", esta, a que mais se parece com a fase dourada do grupo. Até a versão de "Helter Skelter" é interessante.

Mas o RAC elege a incrível "Too Young to Fall in Love" e o riff matador de "Looks That Kill" como suas favoritas do trabalho.

Enfim, para o Blog não restam dúvidas de que Shout at the Devil é um dos grandes álbuns da década de 80 e, também, foi o trabalho que elevou o Mötley Crüe de patamar. Uma das bandas favoritas do RAC com um de seus melhores discos: obrigatório!

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