20 de outubro de 2012

ANGRA - HOLY LAND (1996)



Holy Land é o segundo álbum de estúdio da banda brasileira Angra. Seu lançamento oficial ocorreu em Março de 1996, pelo selo JVC e com a produção sob as responsabilidades de Charlie Bauerfeind e Sascha Paeth. As gravações ocorreram no ano de 1995, nos estúdios Hansen (Hamburgo), Big House (Hanover) e HG (Wolfsburgo), todos na Alemanha.



O Angra se tornou um dos grandes expoentes do Heavy Metal brasileiro, conquistando uma boa base de fãs fora do país, em locais como a Europa e o Japão.

A banda Angra foi formada por volta do ano de 1991, quando o guitarrista Rafael Bittencourt voltou dos Estados Unidos com a ideia de constituir um grupo que conseguisse fazer a fusão da agressividade do estilo Heavy Metal com a profundidade da música erudita, ainda com generosos toques da música brasileira.

Rafael, que à época cursava a faculdade de Música na FASM – Faculdade Santa Marcelina - em São Paulo (pela qual se graduaria em Composição e Regência no ano de 1996), encontrou-se com o já renomado vocalista André Matos e decidem formar um grupo.

Matos já era um músico de sucesso quando ele se encontrou com Rafael Bittencourt – eram ambos colegas da Faculdade de Música, na FASM – pois havia sido vocalista da banda Viper entre os anos 1985 a 1990.

O guitarrista André Linhares, o baixista Luís Mariutti e o baterista Marco Antunes foram chamados para constituírem a primeira formação do Angra, juntamente com o vocalista André Matos e o guitarrista Rafael Bittencourt.

Rafael Bittencourt


Matos trouxe consigo o primeiro empresário do grupo, Antônio Pirani, conhecido desde os tempos do Viper. Pirani, com quem a banda teria muitos problemas depois, era proprietário da revista Rock Brigade e, também, da Rock Brigade Records.

A ideia do grupo era aproveitar a boa fase da vertente do Heavy Metal conhecida como “Power Metal”, já que no início dos anos 90 bandas como Helloween e Gamma Ray estavam em alta em lugares como Europa, Japão e o Brasil, claro.

Pouco tempo depois o guitarrista André Linhares deixa a banda, sendo substituído por André Hernandes. Este também não permanece por um longo período e o seu substituto seria o jovem, mas talentoso guitarrista Kiko Loureiro.

Kiko Loureiro:


Com André Matos nos vocais, Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro nas guitarras, Luís Mariutti no baixo e Marco Antunes na bateria, o Angra realiza ensaios por durante um ano antes de gravarem sua primeira “fita demo”, chamada Reaching Horizons, em 1992.

Pouco conhecidos de público e crítica, o Angra assina com a JVC Records, rumando para o Japão para realizarem a gravação de seu primeiro álbum. Lançado em novembro de 1993, Angels Cry é a estreia do grupo.

O álbum apresenta a proposta do grupo em fundir o Heavy Metal com a música clássica, obtendo ótima repercussão no Brasil e, principalmente, no Japão. Pouco tempo antes das gravações, o baterista Marco Antunes deixou o grupo, com o instrumento sendo gravado pelo baterista Alex Holzwarth.

Angels Cry possui alguns clássicos do grupo. A excelente faixa título é um marco da banda. Além desta, o disco continha o clássico “Carry On”, a excelente “Time” e o cover inusitado de Kate Bush chamado “Wuthering Heights”.

Quem acaba assumindo a bateria do Angra foi Ricardo Confessori.

Em 1994, a banda é convidada para fazer a abertura do AC/DC no Brasil e também para participar do Monsters of Rock, tocando com nomes como Black Sabbath, KISS e Slayer. Depois, o grupo embarca em uma turnê nacional que depois se estenderia pela Europa já no ano de 1995.

Foi no ano de 1995 que a banda iniciou o trabalho de composição e gravação do que se tornaria o seu segundo álbum de estúdio, Holy Land.

As gravações acabariam se estendendo por cerca de 8 meses, já que o vocalista André Matos teve sérios problemas em suas cordas vocais durante a turnê na Europa naquele ano.

Holy Land acabaria por se tornar um álbum conceitual, uma vez que o foco de suas músicas seria representar o Brasil por volta do ano de seu “descobrimento”, 1500.

Assim, musicalmente, o trabalho apresenta muitas influências de música brasileira, além de apresentar referências aos indígenas e seu folclore. A Europa é representada, musicalmente, por muitos arranjos clássicos.

A primeira canção do disco é uma missa de Giovanni Pierluigi da Palestrina – representando a primeira missa realizada no Brasil, celebrada por Henrique de Coimbra? – e as canções subsequentes apresentam o Brasil antes do descobrimento e as mudanças realizadas após a chegada dos portugueses.

A arte da capa foi desenhada por Alberto Torquato.

André Matos:


CROSSING

A primeira faixa de Holy Land é “Crossing” que, como foi dito, é uma missa composta por Giovanni Pierluigi da Palestrina. É uma canção curta, totalmente instrumental, a qual funciona como introdução para a segunda música do álbum.



NOTHING TO SAY

A segunda faixa de Holy Land é “Nothing To Say”.

Já no início da canção é percebida a influência de musicalidade brasileira na faixa, pois a mesma apresenta sonoridades nacionais, em especial na bateria. Entretanto, rapidamente a música se transforma em um típico “power metal”, com um riff pesado e bem veloz, característico do estilo. Matos opta por fazer um vocal bem cadenciado e mais suave, sem muitas firulas.

As letras representam o início da conquista da terra brasileira:

Guilt and shame, it's all so insane
Pagan gods die with no defence
And we could go no further at all
Digging the graves of our conscience

“Nothing To Say” é uma das canções mais clássicas do Angra. Ironicamente, em um álbum cheio de referências à música brasileira, a faixa é, talvez, a mais tradicional dentro da vertente “power metal”. Presença obrigatória nos shows do grupo.



SILENCE AND DISTANCE

A terceira faixa do álbum é “Silence And Distance”.

A canção se inicia quase como uma balada, com André Matos cantando suavemente, acompanhado apenas de um piano clássico. A música, embora se desenvolva posteriormente em uma sonoridade mais pesada, continua com um ritmo bem suave, com algumas pitadas de um Heavy Metal bem acelerado. Boa canção.

As letras da faixa podem inferir um misto de sentimentos de conquista e remorso:

And now I know
In my heart, I won't forget
The sails against the blue sky
That taught me how to live
... with no sorrow
And tomorrow we'll share
Silence and distance
'till our faults are repaired
You'll be the mistress
Who I'll never forget



CAROLINA IV

“Carolina IV” é a quarta música de Holy Land.

“Carolina IV” é a maior faixa de Holy Land, com mais de 10 minutos. Ela é toda permeada por diversas influências do grupo, com passagens típicas de “power metal”, Heavy Metal tradicional, arranjos clássicos e mesmo alguns trechos com profunda inspiração de música brasileira. Inclusive, em “Carolina IV”, há um trecho da canção “Bebê”, de Hermeto Pascoal. Considerada por muitos uma das obras-primas compostas pelo Angra.

As letras representam o desejo de sair pelo mar, por terras e águas desconhecidas, rumo ao não sabido:

Carolina IV took a river to the sky
Seven men on board taking part
To take their hearts around
All around, around the world!



HOLY LAND

Homônima ao álbum, “Holy Land” é a quinta canção do trabalho.

Os primeiros minutos de “Holy Land” apresentam uma fusão de sonoridades extremamente interessantes, arranjos de música clássica com sons brasileiros (uma espécie de baião). Mesmo quando a faixa é tomada pelas guitarras, o riff permanece com fortes influências desta construção sonora, além da percussão e teclados reforçarem esta intensa mistura de mundos musicais diversos. Tudo plenamente recheado por um excelente trabalho vocal de André Matos. Canção extraordinária!

“Holy Land” é uma metáfora para o Brasil:

Holy Land - Holy Land around
Holy Land - Holy Land is all...
Someone has sent
Somebody here
To bring an age
Long disappeared



THE SHAMAN

A sexta faixa de Holy Land é “The Shaman”.

“The Shaman” mantém um ritmo mais cadenciado ao álbum, com a bateria bastante presente durante toda a canção a qual, também, conta com os teclados muito presentes. Há referências a música indígena. Nos vocais, Matos escolheu uma atuação forte, mas sem muitos falsetes ou agudos. Isto constrói uma canção bem intrigante.

Claramente, a música se refere a um ‘Shaman’, um feiticeiro indígena:

Oh boys, I've seen the old man;
Straw mask around the forehead
The blaze, a blast and the awakening dead
(The magic seeds will spread...)



MAKE BELIEVE

A sétima faixa do álbum é “Make Believe”.

A canção é uma clássica balada, com uma sonoridade muito bonita e bastante suave, com linhas de guitarra e os teclados formando uma belíssima melodia. André Matos a canta de maneira muito intensa, marcante, assim fazendo um dos grandes pontos altos do trabalho.



Como está expresso no refrão abaixo, “Make Believe” faz referências às ambiguidades da vida, pesando o presente e o futuro da ‘Holy Land’:

Make believe
There's no sorrow in your eyes
Can't you see
We could never get back from the start
Minutes waiting, life's been wasted
... maybe I wanna die some other day,...another day

“Make Believe” é outro grande clássico do grupo muito presente em seus shows, mesmo quando a banda esteve com o vocalista Edu Falaschi. Foi lançada como single, sem obter maiores repercussões em termos de paradas de sucesso. Entretanto, o videoclipe teve extensa exibição na MTV Brasileira.



Z.I.T.O.

A oitava faixa de Holy Land é “Z.I.T.O.”

“Z.I.T.O.” segue a linha mais tradicional do Angra, contando com um riff bem veloz e a bateria em altíssima velocidade. Os vocais de André Matos soam muito bem, assim como a dupla de guitarras. Embora não inove, é uma boa música.

As letras continuam em um clima misto entre a alegria e perspectivas do acontecimento e certo pesar pelas consequências das descobertas:

New world was born out of man's dreams
Now we walk on our own
The angels cried, you've heard them weep
But now it's time to make them sing!



DEEP BLUE

A nona canção do trabalho é “Deep Blue”.

“Deep Blue” se inicia como uma balada que apresenta um ritmo clássico em um órgão. Há orquestrações em seu início, contando com uma atuação soberba de Matos. O ritmo cresce em peso com a presença das guitarras, mas segue em linhas cheias de suavidade e melodia, de maneira muito tocante. Linda canção.

As letras são mais complexas, em um tom de espera por um futuro diferente:

Waiting for someday when the ocean and sky
Will cover up the land in deep blue
Renaissance is over and I wonder:
- Should I close my eyes and pray?
- Always be the same?



LULLABY FOR LUCIFER

A décima – e última – música de Holy Land é “Lullaby For Lucifer”.

A faixa se inicia com sons de pássaros e da natureza. Em um tom suave, acompanhado por um violão, Matos canta de maneira mais branda. Assim a canção permanece até o final, sempre com os efeitos de natureza ao fundo em um profundo sentido de pesar.

As letras refletem este tom pesaroso supracitado, demonstrando um sentimento de melancolia:

On the sand, by the sea
I left my heart
To shed my grief
A vulture came begging me:
- Feed me with this piece of meat!



Considerações Finais:

Holy Land permanece como um dos álbuns prediletos dos fãs do Angra até hoje – para muitos o favorito. O trabalho foi responsável por aumentar, e muito, o sucesso internacional do grupo.

Embora não tenha obtido maior repercussão nas tradicionais paradas de sucesso dos Estados Unidos e Reino Unido, o álbum foi “disco de ouro” no Japão, atingindo a 17ª posição da parada de sucessos nipônica.

Mais que isso, o sucesso de Holy Land permitiu que as portas da Europa se abrissem de forma mais intensa, proporcionando que a banda excursionasse por países como Itália e França. Neste último, o Angra aproveitou para gravar uma apresentação em Paris e lançarem o EP Holy Live, em 1997, que continha quatro faixas ao vivo.

O clipe de “Make Believe” chegou a ser indicado ao prêmio de clipe internacional no MTV Video Music Awards de 1997.

Foi na turnê de Holy Land que a banda se apresentou pela primeira vez no Japão. Na turnê, o tecladista do grupo foi Leck Filho.



Ainda com André Matos, Luís Mariutti e Ricardo Confessori em sua formação, o Angra lançaria o álbum Fireworks, em 1998. Após isto, uma série de problemas cercou o grupo que culminou com a saída dos três integrantes e uma nova formação da banda.

Formação:
Andre Matos - Vocal, Piano, Teclados
Kiko Loureiro - Guitarra
Rafael Bittencourt - Guitarra
Luis Mariutti - Baixo
Ricardo Confessori – Bateria

Faixas:
01. Crossing (G.P. da Palestrina) - 1:56
02. Nothing to Say (Matos/Loureiro/Confessori) - 6:22
03. Silence and Distance (Matos) - 5:33
04. Carolina IV (Bittencourt/Matos/Loureiro/Mariutti/Confessori) - 10:36
05. Holy Land (Matos) - 6:26
06. The Shaman (Matos) - 5:24
07. Make Believe (Bittencourt/Loureiro/Matos) - 5:53
08. Z.I.T.O. (Bittencourt/Loureiro/Matos) - 6:04
09. Deep Blue (Matos) - 5:48
10. Lullaby for Lucifer (Bittencourt/Loureiro) - 2:40

Letras:
Para o conteúdo das letras, recomendamos o acesso a: http://letras.mus.br/angra/

Opinião do Blog:
Embora o Blog evite usar rótulos musicais, desta vez foi muito difícil falar do Angra sem mencionar o que se convencionou chamar Power Metal (bandas que tocam com riffs de guitarra em grande velocidade).

Com o passar do tempo, surgiu uma ‘subvertente’ do Power Metal, a qual se denominou “Metal Melódico”. O termo é horrível, é como se as outras vertentes do Heavy Metal não tivessem melodia. Mas dentro deste rótulo péssimo, colocaram bandas como Kamelot, Sonata Arctica, Nightwish, e, também, o Angra.

O Blogueiro deve dizer que nenhuma destas bandas supracitadas, assim como o tal “Metal Melódico” despertam seu maior interesse. Com exceção do Angra. Por motivos de puro preconceito musical, quem faz este blog não valorizava o trabalho do Angra totalmente e, menos ainda, de André Matos. Talvez, para muitas pessoas, somente o tempo e o envelhecer fazem com que elas percam pré-conceitos idiotas (baseados em sabe-se lá o que), aprendendo a valorizar, compreender e curtir o trabalho de artistas que antes não eram admirados. E isto, penso, não vale somente para a música.

Falando mais especificamente do Angra, é uma banda que, em muito, se difere do chamado Metal Melódico. Primeiro, por se tratar de um grupo que prima pelo talento de seus músicos e, também, pela incrível criatividade e inventividade de seus compositores.

Em Holy Land, o “Power Metal” está presente. De maneira mais dominante em “Nothing To Say” e “Z.I.T.O.”. No restante do álbum, o estilo está presente em passagens mais isoladas dentro das composições. E o que ocorre?

Acontece que as passagens mais pesadas do álbum estão recheadas de riffs de Heavy Metal Tradicional e, em algumas, flertes com o Hard Rock. É esta versatilidade do grupo brasileiro que o coloca anos-luz à frente das demais bandas do chamado “Melódico”.

Mais que isto, em muitas passagens do álbum há construções musicais incrivelmente belas. Fusões de arranjos clássicos e música “mais brasileira” feitas de maneira extremamente competente. Um ótimo exemplo disso é a extraordinária “Carolina IV”.

Matos está cantando de maneira formidável em Holy Land. Não há exageros, o que se houve é um vocalista competente e envolvido de maneira que suas capacidades contribuam para o sucesso das canções.

Enfim, o Angra conseguiu boa repercussão no cenário internacional. Com toda justiça, pois se trata de uma banda muito talentosa. Holy Land é o álbum com a primeira formação do grupo que reflete todo este talento. Um álbum incrível.

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