Salisbury é o segundo álbum de estúdio da banda
britânica chamada Uriah Heep. Seu lançamento oficial ocorreu em janeiro de 1971
sob o selo Vertigo Records. As gravações aconteceram entre outubro e novembro
de 1970, no Lansdowne Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou sob
a responsabilidade de Gerry Bron.
Como de praxe, o Blog vai contar um pouco a
história do grupo antes de focar-se no álbum propriamente dito.
Foi em 1967 que o Uriah Heep começou a surgir. O
guitarrista Mick Box, então com 19 anos, na cidade de Brentwood, formou uma
banda chamada The Stalkers, a qual começou a se apresentar em bares e clubes
locais.
O vocalista deixa o grupo e o então baterista,
Roger Penlington, sugere seu primo David Garrick para ser o substituto. Garrick
já conhecia o The Stalkers e aceita o convite.
Quase que instantaneamente, Garrick e Box se
entrosam e formam uma forte parceria em termos de composição. Com aspirações
musicais mais elevadas que seus colegas, os dois abandonam seus trabalhos
normais cotidianos e partem para uma tentativa de se tornarem profissionais.
Assim eles montam um novo conjunto chamado Spice e
David Garrick decide mudar seu sobrenome para Byron. O baterista escocês Alex
Napier assume as baquetas após ter respondido um anúncio em um jornal.
David Byron:
O baixista Paul Newton, da banda The Gods,
completou a formação inicial.
Segundo Mick Box, o grupo, desde seu início, evitou
tocar covers, procurando seguir o caminho de composições próprias e
esforçando-se para criar uma sonoridade original. Inicialmente, o conjunto era
gerenciado pelo pai do baixista Paul Newton.
Assim que a banda foi crescendo de nível, chamou
novos interesses. Gerry Bron, que era o chefe da Hit Records Production,
assistiu a uma apresentação do grupo no clube Blues Loft e acabou assinando um
contrato para gerenciar a banda. Logo depois, conseguiu um contrato do conjunto
com a Vertigo Records.
A banda, ainda com o nome de Spice, enclausurou-se
no Lansdowne Studios, em Londres, para começar a gravação do que se tornaria
seu primeiro álbum de estúdio.
Então, o nome foi mudado para Uriah Heep. Esta era
uma personagem do livro David Copperfield, de Charles Dickens, pois, de acordo
com o biógrafo Kirk Blows, o nome de Dickens estava em toda parte durante o Natal
de 1969 devido ao fato de ser o centésimo aniversário de sua morte.
Juntamente à mudança de nome, veio a decisão de
ampliar o som. Após gravarem metade do primeiro álbum, o grupo decide que seria
uma boa ideia acrescentar teclados ao som da banda.
Box era um grande fã do Vanilla Fudge, com seu
órgão Hammond e guitarras fortes e o Uriah Heep possuía os potentes vocais de
David Byron, os quais combinariam bem com este tipo de som, segundo o
guitarrista.
Em um primeiro momento, o tecladista Colin Wood foi
trazido por Gerry Bron. Depois, Ken Hensley, um ex-colega de Newton no The
Gods, que à época estava tocando guitarra no Fat Toe, foi convidado. "Eu
vi um grande potencial no grupo para fazer algo muito diferente", lembrou Ken
Hensley.
O álbum de estreia do grupo foi chamado ...Very
'eavy... Very 'umble, sendo lançado em junho de 1970. Enquanto a banda escreveu
o trabalho, no Centro Comunitário Hanwell, o Deep Purple estava ensaiando no
quarto ao lado, construindo uma relação entre os conjuntos.
Em ...Very 'eavy... Very 'umble, o Uriah Heep
apresenta um marco inicial de sua sonoridade. Estão presentes o órgão pesado de
Hensley, os vocais poderosos de Byron e a guitarra marcante de Box.
Box e Byron compuseram a maioria das músicas e Hensley
não pode contribuir muito, mas a química entre eles, na execução das faixas, é
palpável. O clássico “Gypsy” está presente no disco (que saiu com o nome Uriah
Heep nos Estados Unidos).
Embora tenha recebido críticas não muito positivas
na época, o disco foi ganhando respeito com o passar do tempo e é um dos marcos
iniciais dos nascentes gêneros Hard e Heavy dos anos setenta.
Alex Napier esteve fora de três quartos das
gravações do álbum de estreia do Uriah Heep, sendo substituído por Nigel
Olsson, que foi indicado a David Byron pelo astro Elton John.
Com uma formação que contava com Mick Box na
guitarra, David Byron nos vocais, Paul Newton no baixo, Keith Baker na bateria
e Ken Hensley no teclado, o Uriah Heep volta ao Lansdowne Studios, em Londres,
para gravar seu segundo álbum de estúdio.
Mick Box:
Desta vez, ao contrário do disco de estreia, o
principal compositor das canções foi o tecladista Ken Hensley.
O nome do álbum, Salisbury, remete a uma área de
treinamento do exército britânico. A arte da capa do trabalho apresenta um
tanque British Chieftain, da primeira guerra mundial.
BIRD OF PREY
Abre o álbum a ótima “Bird Of Prey”.
O riff inicial é pesado, na medida certa, e com uma
cadência envolvente. Os vocais agudos, muitas vezes dobrados, dão o ritmo certo
para a canção. A intensidade é variável, ora mais lenta, ora pouco mais
acelerada. David Byron se mostra bem versátil e a guitarra é contagiante, em um
excelente Hard setentista.
As letras são interessantes em um jogo que envolve
guerra e conquista:
I can see that look that says beware
Try to move in closer if you dare
So I must sit and play
My waiting game
And for a while I know
She'll do the
same
Fly away
Embora não tenha sido lançada como single para
promover o álbum, “Bird of Prey” acabou se tornando uma das faixas mais
celebradas e adoradas pelos fãs do Uriah Heep.
THE PARK
A segunda faixa do álbum é “The Park”.
Uma melodia calma e tocante, ao teclado e depois
acompanhada por um violão, marca o início de “The Park”. Depois, Byron começa a
cantar de maneira muita suave e cativante. Este ritmo segue até os 3:40
minutos, quando o teclado começa a acelerar o andamento da canção, fazendo um
solo pequeno, mas interessante. Depois tudo retorna ao início.
As letras são belíssimas e é possível vislumbrar a
metáfora dos lados escuros do parque representando os horrores da guerra:
Let me walk a while alone
Among the sacred rocks and stones
Let me look in vain belief
Upon the beauty of each leaf
There is green in every blade
The tree tops lean providing shade
TIME TO LIVE
A terceira canção de Salisbury é “Time To Live”.
Bateria, guitarra e teclados mais intensos já estão
de volta no começo de “Time To Live”. Já nos momentos iniciais, Mick Box
encaixa um pequeno e intenso solo. O riff principal tem peso e melodia,
contrapondo-se ao teclado de Hensley. Byron completa tudo com sua poderosa voz,
em uma bela música. Hard setentista de primeira linha!
A letra é boa e tensa, refletindo alguém que esteve
preso e mesmo tendo pagado, faria tudo outra vez:
But if you smile that smile
I know I couldn't ask for more
I know I'd do it all again
Yes, I would
I know I'd do it all again
LADY IN BLACK
O clássico “Lady In Black” é a quarta música do
álbum.
O ritmo suave e melodioso está de volta nesta
belíssima canção, em uma construção verdadeiramente brilhante. A balada “Lady
In Black” possui linhas realmente tocantes, encantadas pela maravilhosa forma
como é cantada pelo tecladista Ken Hensley. A constância é quase sempre a mesma
e a faixa é sensacional.
A letra tem um tom de esperança:
Oh lady lend your hand outright
And let me rest here at your side
Have faith and trust in peace she
said
And filled my heart with life
A obra, creditada a Ken Hensley, segundo o mesmo,
trata de um homem que vaga por um cenário devastado pela guerra e encontra uma
espécie de deusa que passa a consolá-lo. Ela teria sido composta em um momento
em que Hensley teve uma visão após estar em estado de profunda depressão.
É tida por críticos e fãs como uma das mais belas
melodias compostas por Ken.
Acabou se tornando uma das faixas mais populares da
história do Uriah Heep, absolutamente adorada pelos fãs do grupo. Lançada como
single, atingiu o topo da parada alemã, onde fez enorme sucesso (assim como na
Rússia).
Inúmeros são os grupos que fizeram versões para a
faixa, incluindo outros membros que passaram pela banda. Como exemplo, John
Lawton (que foi vocalista do Uriah Heep) e o Blackmore’s Night.
HIGH PRIESTESS
“High Priestess” é a quinta faixa de Salisbury.
Mais uma vez o início é suave, mas logo a guitarra
de Mick Box aparece de forma mais intensa e furiosa. O riff é mais veloz,
típico do Hard dos anos 70, e é embalado por ótimos vocais e uma bateria
marcante por parte de Keith Baker. A canção é curta, rápida e empolgante e
possui um bom solo de Box.
A letra tem uma certa conotação de amor proibido:
You, who brought
The sunshine to my eyes
You, who wondered
Through my sad disguise
And I have a
love
SALISBURY
Homônima ao álbum, “Salisbury” é a sexta – e última
– faixa do álbum.
Com mais de 16 minutos de duração, “Salisbury” é
uma canção épica repleta de variantes melódicas e de intensidade. A brilhante
construção tem teclados marcantes, algumas pequenas orquestrações, riffs e
solos inspirados. Há uma influência de rock progressivo que se casa
perfeitamente com o Hard Rock do Uriah Heep.
A letra tem conotação de romance:
As time passed and all too fast
I just knew we couldn't last
And I guessed that the end
Was near at hand
Though we tried our love inside
It just crumpled up and died
What went wrong
I will never, never understand
You tell me why
Alone again
How could you
leave me
Alone again
Considerações
Finais
Salisbury, o álbum, não chegou a ser um grande
sucesso comercial, mas foi um disco fundamental para a história do Uriah Heep.
Em termos de paradas de sucesso, atingiu a modesta
103ª posição na parada norte-americana de álbuns. Ficou com a 31ª na sua
correspondente alemã e com 1ª colocação na Finlândia.
Logo depois da gravação de Salisbury, Keith Baker
deixou o grupo, sendo substituído por Ian Clarke.
O álbum permitiu que Ken Hensley se aprimorasse e
se colocasse como o principal compositor do Uriah Heep, assinando
solitariamente a maioria das composições. Também, segundo os críticos,
apresentou o Heavy Metal seminal dos anos 70, com doses generosas de Folk e
Rock Progressivo.
Ken Hensley:
O álbum também permitiu que o grupo excursionasse
pela primeira vez pelos Estados Unidos, sendo a banda de abertura para o Three
Dog Night e o Steppenwolf.
Logo após a turnê, ainda em 1971, o Uriah Heep
gravaria e lançaria seu terceiro álbum de estúdio, o clássico Look At Yourself.
Formação:
Mick
Box – Guitarra, Violão, Backing Vocals
David
Byron – Vocal
Ken
Hensley –Violão, Backing Vocals, Piano, Vocal (em "Lady in Black” e “High
Priestess")
Paul
Newton – Baixo, Backing Vocals
Keith
Baker – Bateria, Percussão
Faixas:
01.
Bird of Prey (Box/Byron/Hensley/Newton) - 4:13
02.
The Park (Hensley) - 5:41
03.
Time to Live (Box/Byron/Hensley) - 4:01
04.
Lady in Black (Hensley) - 4:44
05.
High Priestess (Hensley) - 3:42
06.
Salisbury (Box/Byron/Hensley) - 16:20
Letras:
Para o conteúdo completo das letras, indicamos o
acesso a: http://letras.mus.br/uriah-heep/
Opinião do
Blog:
O Uriah Heep é das bandas mais importantes e
marcantes dentro dos fantásticos anos 70, berço de boa parte do que há de melhor dentro do
Rock & Roll. É, também, dos grupos prediletos deste humilde blogeiro.
Salisbury não está entre os álbuns mais vendidos da
história do estilo e nem entre os mais badalados, mas é um disco muito
importante e, além disto, cheio de qualidade.
Marca uma banda que ajudou a desenvolver o
Hard/Heavy inicial, mas que acabou criando seu estilo. Em Salisbury, o
grupo abusa de melodias acústicas e, ao mesmo tempo, apresenta riffs, teclados
e vocais muito inspirados.
David Byron é um vocalista formidável, assim como é
Ken Hensley nos teclados – e um compositor de mão cheia. As guitarras de Mick
Box também são mais que compotentes e a cozinha formada por Baker e Newton faz
bem seu trabalho.
“Salisbury” é uma canção muito acima da média,
épica, com seus fabulosos 16 minutos. “Lady In Black” é uma balada como poucas,
com ritmo tocante e letras interessantes. Destaques também para “Bird Of Prey”
e “Time To Live”.
O Uriah Heep gravaria álbuns de bem maiores
sucessos que este (e que aparecerão por aqui depois), mas de forma alguma
deve-se descartar um trabalho tão instigante quanto Salisbury.
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