Fresh Cream é o álbum de estreia da banda inglesa
chamada Cream. Seu lançamento oficial se deu no dia 9 de dezembro de 1966, com
as gravações acontecendo entre julho e outubro daquele mesmo ano, nos estúdios
Rayrik Studios & Ryemuse Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção
ficou a cargo de Robert Stigwood e os selos responsáveis foram o Reaction (UK)
e Atco (USA).
Falar de Cream é dissertar sobre uma das mais
importantes e influentes bandas de todos os tempos. Para muitos críticos, é o
primeiro chamado “supergrupo” a obter sucesso internacionalmente.
Em julho de 1966, Eric Clapton já era tido como um
talentoso guitarrista, muito devido a suas atuações com as bandas The Yardbirds
e John Mayall & the Bluesbreakers. Clapton, no entanto, começou a sentir
que o ambiente do grupo de Mayall estava confinando seu talento e começou a
buscar novos horizontes musicais.
Eric Clapton
Naquele mesmo ano, Clapton conheceu Ginger Baker,
então o baterista de um conjunto chamado Graham Bond Organisation, que em um determinado
momento também tinha Jack Bruce no baixo, guitarra, gaita e piano.
Ginger Baker também se sentia sufocado na Graham
Bond Organisation e estava mais que exaurido com os vícios e crises de
instabilidade mental devido ao uso desregulado de drogas por Graham Bond.
Ginger Baker
Eric Clapton afirmou que:"Eu sempre tinha
gostado de Ginger". Continua: "Ginger tinha vindo para me ver tocar com
os Bluesbreakers. Após o show, ele me levou de volta a Londres em seu Rover.
Fiquei muito impressionado com o seu carro e jeito de dirigir. Ele estava me
dizendo que ele queria começar uma banda, e eu estive pensando sobre isso
também", finalizou o guitarrista.
Com cada um impressionado com as habilidades musicais
do outro, Baker pediu a Clapton para se juntar ao seu novo grupo, então sem
nome. Clapton imediatamente concordou, sob a condição de que Baker trouxesse Jack
Bruce como baixista do conjunto.
De acordo com Clapton, Ginger Baker estava tão
surpreso com a sugestão que quase bateu o carro. Eric conheceu Bruce quando o
baixista/vocalista, brevemente, havia tocado com os Bluesbreakers em novembro
de 1965.
Os dois também tinham trabalhado juntos como parte
de uma banda chamada Powerhouse (que também incluiu Steve Winwood e Paul
Jones). Impressionado com os vocais e proezas técnicas de Bruce, Clapton
gostaria de tê-lo no novo projeto.
O que Clapton desconhecia era o fato de, enquanto
Ginger Baker e Jack Bruce estavam no Graham Bond Organisation, o relacionamento
dos dois era péssimo. Incluindo: brigas no palco, sabotagens aos instrumentos
um do outro, além de Baker expulsar Bruce do grupo após ameaçá-lo com uma faca.
Baker e Bruce colocaram de lado suas diferenças
para o bem do novo trio de Ginger, o qual ele imaginou como colaborativo e
participativo, com cada um dos membros contribuindo para as músicas e as
letras.
A banda foi
nomeada "Cream", pois Clapton, Bruce e Baker já eram considerados a
"nata da cultura" entre os músicos de blues e de jazz na efervescente
cena musical britânica da época. Inicialmente, o grupo foi referido e anunciado
como "The Cream" (ou seja, com o artigo definido The), mas quando
saíram oficialmente seus primeiros lançamentos de discos, o trio seria chamado
simplesmente de "Cream".
A banda chegou a cogitar o nome "Sweet 'n'
Sour Rock 'n' Roll".
Do trio, Clapton tinha a maior reputação dentro da
Inglaterra, no entanto, ele era praticamente desconhecido nos Estados Unidos, pois
havia deixado o Yardbirds antes de "For Your Love" atingir o Top Ten
na parada norte-americana de singles.
O Cream fez sua estréia não-oficial no Twisted Wheel
em 29 de julho de 1966. A oficial viria duas noites mais tarde na Sixth Annual
Windsor Jazz & Blues Festival. Sendo um grupo novo e com poucas canções
originais no set, a banda tocava versões de blues que emocionaram a multidão e
ganharam uma recepção calorosa.
Em outubro, a banda também teve a chance de tocar
com Jimi Hendrix, que havia chegado recentemente a Londres. Hendrix era um fã
da música de Clapton e queria uma chance de tocar com ele no palco. Jimi foi
apresentado ao Cream através de Chas Chandler, seu empresário.
Jack Bruce
Foi durante o início dos ensaios do conjunto que
eles decidiram que Jack Bruce seria o principal vocalista do grupo. Enquanto
Clapton tinha vergonha de cantar, ele ocasionalmente foi harmonizando seus
vocais com Bruce e, com o tempo, assumiu a principal voz em várias faixas do Cream.
Com a mesma velocidade o Cream já entrou em estúdio
para gravar seu primeiro registro de estúdios. O Blog levará em conta a versão
original do álbum lançada no Reino Unido.
N.S.U.
Abre o disco a faixa “N.S.U.”.
Ginger Baker abre o trabalho com uma levada mais
tranquila e a qual é seguida pela guitarra de Clapton. Em instantes a fúria da
banda já aparece, com Baker “esmurrando” a batera e Clapton com um riff mais
pesado e cheio de ritmo. Os vocais de Bruce são ótimos e o solo de Clapton é
absurdamente repleto de feeling.
A letra é pequena, mas divaga sobre um estilo de
vida:
Driving in my car, smoking my cigar,
The only time I'm happy's when I
play my guitar
SLEEPY TIME TIME
A segunda música do álbum é “Sleepy Time Time”.
O início suave e mais delicado até engana, mas logo
o que se houve é um Blues Rock de primeiríssima qualidade. O destaque maior é a
guitarra de Clapton a qual permanece em evidência por toda a duração da canção.
Os solos são fenomenais.
A letra pode ser entendida como uma ode à preguiça:
I'm a sleepy time baby, a sleepy
time boy.
Work only maybe, life is a joy
DREAMING
A terceira canção de Fresh Cream é “Dreaming”.
“Dreaming” tem uma levada mais calma se comparada
com as duas faixas que a precedem, com um ritmo típico do Rock dos anos 60. As
linhas da guitarra de Clapton estão bem mais suaves, sendo bonitas. Assim,
também, é a interpretação de Bruce.
A letra fala de um amor distante:
Dreaming about my life;
Where are you now and when will you
Come to me?
I dream my
life away
SWEET WINE
A quarta faixa do disco é “Sweet Wine”.
Em “Sweet Wine” a bateria de Baker está bastante
proeminente, mostrando o talento do baterista. A levada é bem característica do
Rock daquela década, mas com a guitarra de Clapton mais furiosa. O solo é
incrível, com muita técnica e feeling.
A letra mostra a temática de desperdício da vida:
Sweet wine, hay making, sunshine day
breaking
We can wait till tomorrow
Car speed, road calling, bird freed,
leaf falling
We can bide
time
SPOONFUL
A quinta canção presente em Fresh Cream é “Spoonful”.
Maior faixa do trabalho, “Spoonful” apresenta uma
forte interpretação de Jack Bruce, carregada de sentimento e intensidade. Outra
vez, a guitarra de Clapton está impressionante, com as notas sendo tocadas
precisamente, baseadas pelo importante trabalho da seção rítmica. Mais um ótimo
solo.
“Spoonful” é um Blues composto originalmente por
Willie Dixon e popularizada por Howlin’ Wolf em 1960.
CAT’S SQUIRREL
A sexta música do trabalho é “Cat’s Squirrel”.
Nesta música é possível se perceber a qualidade dos
músicos que integravam o Cream. Baixo e bateria formam uma ótima base para a
guitarra de Eric Clapton desfilar toda sua magia com solos muito bem compostos.
Trata-se de uma música tradicional, instrumental,
com os arranjos feitos pelo Cream.
FOUR UNTIL LATE
A sétima música presente no álbum de estreia do
Cream é “Four Until Late”.
A forte influência de Blues no som do Cream é
sentida em outra oportunidade em “Four Until Late”. Trata-se de um Blues Rock
bem suave, com linhas de guitarra mais leves e com toda melodia sensível típica
do estilo. A gaita tocada por Jack Bruce é um show.
É a única faixa do álbum cantada por Eric Clapton e
trata-se de outro cover, desta vez de uma canção originalmente composta pelo
mito do Blues, Robert Johnson.
ROLLIN’ AND TUMBLIN’
A oitava canção do trabalho é “Rollin’ And Tumblin’”.
O Blues Rock está novamente presente com um ritmo
forte, intenso, marcado por uma seção rítmica mais agressiva e acompanhados
pela guitarra marcante de Clapton e pela gaita de Bruce. Também os vocais estão
bem imponentes. Mais um momento intenso do álbum.
É uma canção tradicional do Blues norte-americano,
sendo regravada por incontáveis artistas. Mas a versão do Cream é baseada na
leitura que Muddy Waters fez nos anos 50.
I’M SO GLAD
A nona música do disco é “I’m So Glad”.
O início de “I’m So Glad” é suave com linhas quase
acústicas e melódicas, mas que logo são reforçadas pelos vocais fortes e
intensos de Jack Bruce. Baker faz um excelente trabalho na bateria, dando peso
e dinâmica à execução. Do meio pra frente da faixa, a guitarra de Clapton toma
conta, com solos repletos de técnica e feeling.
É outra composição presente no álbum que se trata
de uma releitura feita pelo Cream. A original foi composta por mais um ‘Bluesman’,
Skip James. Entretanto, a versão do Cream é uma das faixas mais conhecidas e
queridas pelos fãs da banda.
TOAD
A décima – e última – faixa de Fresh Cream é “Toad”.
“Toad” tem um início bem pesado, com guitarras
distorcidas e seção rítmica bem pesada. Mas quase sua totalidade de duração é
preenchida por um excelente solo de bateria feito por Ginger Baker, um dos
primeiros a serem gravados por bandas de Rock. Portanto, trata-se de uma
composição instrumental.
Considerações
Finais
Para a promoção do álbum, foi lançado o single “I
Feel Free”, presente apenas na versão norte-americana do disco, mas que atingiu
a 11ª posição da parada britânica de singles e foi o primeiro sucesso do Cream.
O álbum foi sucesso no Reino Unido, alcançando a
excelente 6ª posição na parada britânica desta natureza (foi 10º colocado na
parada australiana). Mas, entretanto, inicialmente não repercutiu nos Estados
Unidos, onde só foi bem com o lançamento dos discos posteriores do grupo.
Nos shows o Cream aumentava consideravelmente a
duração das composições presentes em Fresh Cream, incluindo longos solos de
seus virtuosos músicos. No Reino Unido, as apresentações sempre eram muito
concorridas.
Mas, na primeira excursão aos Estados Unidos a
banda não repercutiu e os shows foram cada vez mais curtos e sem público. A
situação mudaria com o lançamento do clássico Disraeli Gears, segundo álbum da
banda, em 1967, o qual aumentaria, também, as vendas de Fresh Cream nos EUA.
Estima-se que, apenas nos Estados Unidos, Fresh
Cream supere a casa de 500 mil cópias vendidas.
Formação:
Ginger
Baker - Bateria, Percussão
Jack Bruce - Vocal, Baixo, Gaita
Eric Clapton – Guitarra
Faixas:
01.
N.S.U. (Bruce) - 2:43
02.
Sleepy Time Time (Bruce/Godfrey) - 4:20
03.
Dreaming (Bruce) - 1:58
04.
Sweet Wine (Baker/Godfrey) - 3:17
05.
Spoonful (Dixon) - 6:30
06.
Cat's Squirrel (Tradicional) - 3:03
07.
Four Until Late (Johnson) - 2:07
08.
Rollin' and Tumblin' (Tradicional) - 4:42
09.
I'm So Glad (James) - 3:57
10.
Toad (Baker) - 5:11
Letras:
Para o conteúdo completo das letras, indica-se o
acesso a: http://letras.mus.br/cream/
Opinião do
Blog:
O Cream é uma das bandas mais incríveis e
importantes do Rock, mesmo tendo uma duração e carreira tão curta e efêmera.
Pode ser considerado um dos primeiros “supergrupos” (aqueles conjuntos formados
por músicos já consagrados) que se têm notícia e uma das bandas que influenciou
o surgimento do Hard Rock na década seguinte.
Além disso, Fresh Cream marca a estréia do
extraordinário Eric Clapton aqui no Blog.
Falando-se mais especificamente de Fresh Cream, a
rapidez entre o surgimento do grupo e a gravação do primeiro álbum de estúdio
foi responsável que boa parte das canções do trabalho fossem versões de
composições de outros autores.
Nada disto, porém, tira o brilho de Fresh Cream. O
trabalho é todo muito coeso, consistente, sem pontos baixos. A sonoridade é um
Blues Rock vigoroso, forte, o qual apontava para o futuro e para explosão do
Hard Rock dos anos setenta, mesmo que em doses ainda pequenas.
Como é costume do Blog, analisam-se apenas as
letras das composições próprias do grupo autor do álbum em questão. Mas pode-se
dizer que a temática abordada pelo Cream neste trabalho inicial é simples, mas
condizente com as características do Blues.
Dispensável abordar a qualidade dos músicos
presentes no grupo que, com o passar do tempo, tornaram-se referências para o
Rock. Ginger Baker, Jack Bruce e Eric Clapton despejam talento, feeling e técnica
por todo o álbum. Bruce ainda arrasa na gaita!
O Blog destaca “N.S.U.”, “Sleepy Time Time”, “Sweet
Wine” e a versão incrível para “I’m So Glad”, embora, como já mencionado, não
existam pontos baixos no trabalho.
Enfim, o Blog recomenda fortemente o primeiro (e
todos os demais) álbum do Cream como referência para todo fã de Rock que se
preze. Obrigatório!
Inacreditável que uma banda assim tenha existido! Nasci em 1968, mas creio que meu espirito está preso a essa fantástica época de abundante beleza musical. Para mim o Cream é a banda mais formidável! Então desde que ouvi o Eric, entendi o que é emoção musical.
ResponderExcluirExatamente isto, Antônio. Obrigado por seu ótimo comentário!
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