Leftoverture
é o quarto álbum de estúdio da banda norte-americana chamada
Kansas. Seu lançamento oficial aconteceu em outubro de 1976, através
do selo Kirshner. As gravações ocorreram entre o final de 1975 e o
início de 1976, no estúdio chamado Studio in the Country, em
Bogalusa, Louisiana, nos Estados Unidos. A produção ficou a cargo
de Jeff Glixman e do próprio Kansas.
Juntar
diferentes influências musicais e referências sonoras de seu país
está no DNA do Kansas, banda a qual se tornou um dos principais
grupos do Rock Progressivo norte-americano. O Blog vai passar
rapidamente pela história do conjunto para depois abordar o álbum
propriamente dito.
Em 1969,
Lynn Meredith, Don Montre, Dan Wright e o guitarrista/tecladista
Kerry Livgren tocavam em uma banda chamada The Reasons Why, em sua
cidade natal, Topeka, no estado norte-americano chamado Kansas.
Depois de
mudarem o nome da banda para Saratoga, eles começaram a tocar
material original de Livgren com Scott Kessler no baixo e Zeke Lowe
na bateria.
Em 1970,
eles mudaram o nome da banda para Kansas e se fundiram com membros da
“banda rival” de Rock Progressivo, também de Topeka, White
Clover.
Membros
do White Clover, Dave Hope (baixo) e Phil Ehart (bateria, percussão)
se juntaram com Livgren, os vocalistas Meredith e Joel Warne, os
tecladistas Montre e Wright e o saxofonista Larry Baker.
Kerry Livgren |
Esta foi
uma versão prévia do Kansas, que durou até 1971, quando Ehart,
Hope e alguns dos outros membros saíram para reformar o White
Clover, e é muitas vezes referida como “Kansas I”.
Ehart foi
substituído por Zeke Lowe e posteriormente por Brad Schulz enquanto
Hope foi substituído por Rod Mikinski (no baixo); e Larry Baker, por
sua vez, por John Bolton no saxofone e flauta. Essa formação é
muitas vezes referida como “Kansas II”, e 30 anos mais tarde,
viria a ser reformada com o nome Proto-Kaw.
Em 1972,
após Ehart retornar da Inglaterra (onde ele tinha ido procurar por
outros músicos), ele e Hope mais uma vez reformaram o White Clover,
desta feita com Robby Steinhardt (vocal, violino e violoncelo), Steve
Walsh (vocais, teclados, sintetizadores e percussão) e Rich Williams
(guitarra).
Em 1973,
o então White Clover recrutou Kerry Livgren do grupo “Kansas II”,
que, em seguida, acabou encerrando suas atividades. Finalmente o
White Clover recebeu um contrato de gravação com o selo (de mesmo
nome) de Don Kirshner, e decidiram adotar o nome de Kansas.
O
primeiro auto-intitulado álbum veio ao mundo em março de 1974,
quase um ano depois de ter sido gravado em New York. Ele definiu o
som característico da banda, uma mistura do estilo norte-americano
“Boogie Rock” com complexos arranjos sinfônicos, tudo isto
aliado à várias mudanças de tempo, uma assinatura do conjunto.
O violino
de Steinhardt foi um elemento distintivo da sonoridade do grupo, que
foi definido mais pelo estilo “Heartland Rock” (de músicos como a
banda de Bruce Springsteen, por exemplo) que as influências
clássicas e do Jazz que a maioria dos violinistas de rock
progressivo normalmente seguiam.
A banda
lentamente desenvolveu um grupo fiel de seguidores, devido à
promoção feita por Kirshner e a uma extensa turnê para o seu álbum
de estreia.
Em seu
primeiro disco, o grupo apresenta faixas de fácil assimilação como
“Can I Tell You” e outras com veia progressiva aflorada, como
“Aperçu”.
Em
fevereiro de 1975 veio o segundo disco do grupo, Song For America.
Nele estão duas excelentes canções da banda, as longas
faixa-título e “Incomudro - Hymn to the Atman”. O álbum acabou
atingindo a 57ª posição da parada Pop da Billboard.
Já em
setembro daquele mesmo ano surgiu Masque, o terceiro álbum de
estúdio do Kansas, com faixas preciosas como “Child of Innocence”
e “The Pinnacle”. O trabalho acabou atingindo a 70ª posição da
parada norte-americana de álbuns.
Os 3
álbuns lançados em sequencia juntamente com suas respectivas turnês
iam fomentando o surgimento de fãs para a banda, mesmo que no
movimento underground.
Steve Walsh |
Quando o
Kansas começou a trabalhar para seu próximo álbum, Steve Walsh
começou a experimentar um bloqueio criativo, antes da gravação, e
sua contribuição para o álbum acabaria por limitar-se a co-autoria
de três músicas.
Assim, a
responsabilidade caiu sobre Kerry Livgren que notou o problema e se
pôs a preencher o vazio. As novas composições mantiveram grande
parte da complexidade de inspiração clássica dos trabalhos
anteriores de Livgren no conjunto.
O Kansas
gravou o álbum no Studio in the Country, em Bogalusa, Louisiana. O
nome do estúdio foi assim chamado porque, como Kerry Livgren
descreveu posteriormente, "estava no meio de um pântano.
Caminhávamos para fora do estúdio e havia jacarés em frente do
estúdio, mosquitos do tamanho de B-52 e, por vezes, tatus corriam
para a sala de controle", afirmava em meio a risadas.
A capa é
belíssima. Vamos às faixas:
CARRY
ON WAYWARD SON
"Carry On Wayward Son" é um grande clássico do Kansas o qual abre o álbum Leftoverture. Embora um tanto quanto mais acessível, por flertar mais abertamente com o Hard Rock setentista e também um pouco com uma pegada mais pop, a canção apresenta características da banda como a mudança repentina de ritmo e andamento, passagens mais intrincadas e complexas. Faixa sensacional.
Com
letras belíssimas, a canção versa sobre a desobediência juvenil
dos filhos e suas consequências:
Masquerading
as a man with a reason
My
charade is the event of the season
And if
I claim to be a wise man, well
It
surely means that I don't know
“Carry
On Wayward Son” é um grande clássico não apenas do Kansas, mas
também do Rock em geral.
Lançada
como single, atingiu a excelente 11ª posição da parada desta
natureza nos Estados Unidos, assim como a 5ª colocação na sua
correspondente canadense e a 51ª no Reino Unido.
Mais que
isto, o sucesso comercial do single “Carry On Wayward Son” é
indiscutível, com o mesmo superando a casa de 1,5 milhão de cópias
vendidas.
Presença
garantida nos shows da banda, também está nas principais coletâneas
do grupo. Foi eleita na 96ª posição da lista '100 Greatest Hard
Rock Songs', do canal de televisão VH1.
Entre as
versões cover, destaca-se a recente feita pela banda Gwar.
THE
WALL
O Kansas continua apostando em sua veia bem melódica e cativante já no início de "The Wall". A música é praticamente uma bela balada, com um solo muito bonito de Kerry Livgren. Também merece destaque os teclados de Steve Walsh. Bela canção.
A letra é
ótima e versa com uma história sobre perseverança:
The
treasures that I seek are waiting on the other side
There's
more that I can measure in the treasure of the love that I can find
And
though it's always been with me, I must tear down the wall and let it
be
All I
am, and all that I was ever meant to be, in harmony
Shining
true and smiling back at all who wait to cross
There
is no loss
WHAT'S
ON MY MIND
Desta feita a banda aposta em um riff mais simples e direto, com uma boa pegada Hard Rock. Mas tudo é feito com belas passagens melódicas. O refrão é ótimo e o solo de Livgren melhor ainda. Outro momento incrível do álbum.
A letra é
uma declaração de amor como poucas:
You
came from nowhere and you just jumped in my life
And I
know it never will be the same
You
made me love you and now I'm home once again
No, I
never want to leave you no more
'Caus
I'm attached to the better half of myself
And
there's nowhere else that I'd rather be
You
filled an empty, you fixed a bad broken heart, and I know
Lançada como single, não repercutiu nas principais paradas de sucesso.
MIRACLES
OUT OF NOWHERE
"Miracles Out Of Nowhere" começa com teclados mais que inspirados, construindo belíssimas passagens. Somam-se a elas, inspiradas linhas vocais, criando uma melodia suave, tocante e ao mesmo tempo contagiante. O lado progressivo do Kansas também se aflora com passagens influenciadas pela veia clássica do grupo, tornando a faixa ainda mais interessante.
A
temática da letra é a fé:
Here I
am, I'm sure to see a sign
All my
life I knew that it was mine
It's
always here, it's always there
It's
just love and miracles out of nowhere
OPUS
INSERT
Com um clima ainda bem envolvente, o Kansas aposta em uma nova canção na qual predomina a presença de uma belíssima e cativante melodia. A banda mescla elementos mais eruditos com uma sonoridade simples e direta, com os teclados fazendo um belo trabalho. Os vocais de Walsh também estão excelentes.
A letra é
belíssima, refletindo sobre a existência humana:
But
there's too many empty lives my friend
And we
just can't let them waste away
For
this life is a precious thing my friend
And we
just can't wait another day
QUESTIONS
OF MY CHILDHOOD
Em outra lindíssima canção, o Kansas mostra sua quase infinita capacidade em compor músicas que mesclem o Rock com passagens tocantes e suaves. Em "Questions Of My Childhood" o destaque vai para Robby Steinhardt e seu violino, o qual se casa maravilhosamente com os teclados de Walsh. Outro ponto altíssimo do disco!
A letra
trata de como é compreender um amor:
I
don't need to face a world of disillusion
I've
come to one conclusion that I know you know is true
In the
game of silent searching the cost of love is rising
And
I'm just now realizing I'd be better of with you
CHEYENNE
ANTHEM
Não há muitas palavras que possam descrever canções tão tocantes quanto "Cheyenne Anthem", um lindo monumento a toda uma nação indígena. Nela, o Kansas varia sua musicalidade, alternando passagens clássicas com outras menos rebuscadas, mas com seu toque único de musicalidade. Momento tocante!
A letra
versa sobre a luta pela terra de origem:
It's
my destiny to fight and die
Is
there no solution, can we find no other way, Lord let me stay
Under
the endless sky and the earth below
Here I
was born to live and I will never go, oh no
MAGNUM
OPUS
"Magnum Opus" é uma daquelas canções que sintetizam o que é uma banda. Neste caso, resume bem o Kansas dos anos 70: passagens instrumentais que demonstram apuro técnico, complexas e intrincadas, mas, ao mesmo tempo, a construção de melodias e linhas bastante suaves e tocantes. Uma faixa magnífica que encerra o álbum com chave-de-ouro.
A letra
apresenta uma metalinguagem, ou seja, a música falando de si mesma:
This
foolish game, oh it's still the same
The
notes go dancin' off in the air
And
don't you believe it's true, the music is all for you
It's
really all we've got to share
Cause
Rockin' and Rollin', it's only howlin' at the Moon
It's
only howlin' at the Moon
“Magnum
Opus” é uma longa faixa praticamente instrumental, com seus mais
de 8 minutos, sendo dividia em 6 partes: a. "Father Padilla
Meets the Perfect Gnat", b. "Howling At the Moon", c.
"Man Overboard", d. "Industry On Parade", e.
"Release the Beavers" e finalmente, f. "Gnat Attack".
Considerações
Finais
Carregado pelo sucesso de “Carry On Wayward Son”, Leftoverture acabou se
tornando o primeiro grande sucesso comercial do Kansas.
As
críticas da imprensa especializada foram mistas. A revista Rolling
Stone afirmou que Leftoverture era o melhor álbum do Kansas até
então, colocando a banda junto a nomes como Styx e Boston, que
surgiam com força naquele ano.
Já o
crítico musical Robert Christgau detonou o lançamento, dizendo que
não possuía a inteligência e a convicção do Rock Progressivo
europeu, entre outras coisas.
Mesmo
assim, Leftoverture atingiu a excepcional 5ª posição da parada
norte-americana de álbuns, conseguindo a 2ª colocação em sua
correspondente canadense.
Reafirmando
seu grande sucesso comercial, Leftoverture supera a casa de 4 milhões
de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos.
A banda em 1976 |
Formação:
Steve
Walsh - Órgão, Piano, Vocal (todas as faixas), Vibrafone
Robby
Steinhardt - Violino, Backing Vocals, Vocais em (“Miracles Out of
Nowhere” e “Cheyenne Anthem”)
Kerry
Livgren - Guitarra, Clavinet, Moog, Sintetizador, Piano
Phil
Ehart - Bateria, Percussão
Dave Hope
- Baixo
Rich
Williams - Guitarra e Violão
Músicos
Adicionais:
Toye
LaRocca – Vocais
Cheryl
Norman – Vocais
Faixas:
01. Carry
On Wayward Son (Livgren) - 5:23
02. The
Wall (Livgren/Walsh) - 4:51
03.
What's On My Mind (Livgren) - 3:28
04.
Miracles Out of Nowhere (Livgren) - 6:28
05. Opus
Insert (Livgren) - 4:30
06.
Questions of My Childhood (Walsh/Livgren) - 3:40
07.
Cheyenne Anthem (Livgren) - 6:55
08.
Magnum Opus (Livgren/Walsh/Williams/Hope/Ehart/Steinhardt) - 8:25
a.
"Father Padilla Meets the Perfect Gnat"
b.
"Howling At the Moon"
c. "Man
Overboard"
d.
"Industry On Parade"
e.
"Release the Beavers"
f. "Gnat
Attack"
Letras:
Para o
conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
http://letras.mus.br/kansas/
Opinião
do Blog:
O Kansas é uma das mais famosas bandas norte-americanas que se arriscou na musicalidade do Rock Progressivo, mas sem nunca perder sua influências locais. O toque "Pop" e suave ajudou a criar a sonoridade que ficaria mais famosa nos anos 80, conhecida por AOR.
O grupo conseguia mesclar bem músicas mais complexas e longas com outras que tinham claro direcionamento mais direto e popular, sem, no entanto, perder nada de dignidade e nem soar apelativa.
Em Leftoverture, talvez, o Kansas tenha conseguido alcançar seu ápice criativo. Não há muitas palavras para defini-lo sem soar muito bajulador.
Não há como destacar um único músico da banda. Todos são de alta categoria e a audição do álbum demonstra todo o valor técnico de todos que compõem a banda. Seja guitarra, teclados, violino, tudo está bem acima da média comum.
Assim como as linhas vocais criadas por Steve Walsh são belíssimas e enriquecem a qualidade do disco. Brilhante.
Outro ponto alto do trabalho são as letras, muito inteligentes. Mesmo que por vezes a temática possa soar mais religiosa, em nenhum momento há o teor de pregação, soando mais como um convite à reflexão.
É claro que a música mais famosa presente no álbum é mesmo "Carry On Wayward Son", que soa de maneira encantadora. Mas todas as faixas soam no mínimo ótimas. Há as belas "Cheyenne Anthem" e "Opus Insert", além da complexa e interessante "Magnum Opus" e a estupenda "The Wall".
Enfim, o Kansas é uma banda que merece muita atenção pelo leitor do Blog, devendo este procurar conhecer especialmente seus discos lançados na década de 70. Leftoverture é um clássico do Rock, álbum mais que recomendado. Até o próximo post!
O Kansas é uma das mais famosas bandas norte-americanas que se arriscou na musicalidade do Rock Progressivo, mas sem nunca perder sua influências locais. O toque "Pop" e suave ajudou a criar a sonoridade que ficaria mais famosa nos anos 80, conhecida por AOR.
O grupo conseguia mesclar bem músicas mais complexas e longas com outras que tinham claro direcionamento mais direto e popular, sem, no entanto, perder nada de dignidade e nem soar apelativa.
Em Leftoverture, talvez, o Kansas tenha conseguido alcançar seu ápice criativo. Não há muitas palavras para defini-lo sem soar muito bajulador.
Não há como destacar um único músico da banda. Todos são de alta categoria e a audição do álbum demonstra todo o valor técnico de todos que compõem a banda. Seja guitarra, teclados, violino, tudo está bem acima da média comum.
Assim como as linhas vocais criadas por Steve Walsh são belíssimas e enriquecem a qualidade do disco. Brilhante.
Outro ponto alto do trabalho são as letras, muito inteligentes. Mesmo que por vezes a temática possa soar mais religiosa, em nenhum momento há o teor de pregação, soando mais como um convite à reflexão.
É claro que a música mais famosa presente no álbum é mesmo "Carry On Wayward Son", que soa de maneira encantadora. Mas todas as faixas soam no mínimo ótimas. Há as belas "Cheyenne Anthem" e "Opus Insert", além da complexa e interessante "Magnum Opus" e a estupenda "The Wall".
Enfim, o Kansas é uma banda que merece muita atenção pelo leitor do Blog, devendo este procurar conhecer especialmente seus discos lançados na década de 70. Leftoverture é um clássico do Rock, álbum mais que recomendado. Até o próximo post!