Vincebus
Eruptum é o álbum de estreia da banda norte-americana chamada Blue
Cheer. Seu lançamento oficial ocorreu em 16 de janeiro de 1968,
através do selo Philips Records. As gravações aconteceram em 1967,
no Amigo Studios, em Hollywood, na Califórnia. A produção ficou a
cargo de Abe 'Voco' Kesh.
Intrinsecamente
ligado às origens do Heavy Metal, o Blog vai contar um pouquinho do
início do Blue Cheer para depois se ater ao álbum propriamente
dito.
As
origens do Blue Cheer remontam ao ano de 1967 e estão fortemente
ligadas à figura de Dickie Peterson, fundador da banda.
1967 foi
o ano do chamado “Verão do Amor”, no qual a cena do Rock
Psicodélico – especialmente originado na Califórnia – explodiu
para o mundo. Foi neste contexto que o Blue Cheer surgiu e o qual
Dickie Peterson estava inserido.
Dickie
Peterson vivia em San Francisco, onde a supracitada cena musical dos
anos sessenta estava começando a alcançar o mainstream.
Peterson
tinha sido anteriormente membro da banda Andrew Staples & The
Oxford Circle, bem como os futuros membros do Blue Cheer, Paul Whaley
e Gary Lee Yoder.
A
primeira formação do Blue Cheer contava com o vocalista e baixista
Dickie Peterson, o guitarrista Leigh Stephens e Eric Albronda, como
baterista.
Albronda
mais tarde foi substituído por Paul Whaley, e, simultaneamente, o
Blue Cheer adicionou o irmão de Dickie, Jerre Peterson (guitarra),
Vale Hamanaka (teclados) e Jere Whiting (vocal e gaita).
Paul Whaley |
Albronda
continuou a sua associação com o Blue Cheer como um membro da
administração do grupo, além de ser o produtor ou co-produtor de
cinco álbuns da banda.
A banda
foi gerenciada por um ex-membro dos Hells Angels (famoso grupo de
motociclistas) de nome Gut.
Já de
início, foi decidido que a formação inicial do conjunto deveria ser
diminuída em termos de números de integrantes.
Existe um
boato que o Blue Cheer decidiu adotar uma configuração de power
trio após os caras assistirem à apresentação de Jimi Hendrix no
Monterey Pop Festival, mas Dickie Peterson desmentiu isto
posteriormente, em uma entrevista.
Hamanaka
e Whiting foram convidados a se retirarem da banda e Jerre Peterson
não quis permanecer no grupo sem eles, e, assim, também saiu do
Blue Cheer.
Desta
forma, Dickie, Leigh e Paul acabaram formando um trio.
Dickie Peterson |
O nome
Blue Cheer refere-se a uma variedade de LSD e é de onde
provavelmente se origina a denominação da banda.
O grupo estava influenciado, sim, pelo Rock Psicodélico, mas também trazia
uma forte carga de Blues Rock, além de uma característica própria:
muito peso e distorção. Tudo isto foi levado para a gravação de
seu álbum de estreia, Vincebus Eruptum.
A capa é
simples, contando com uma fotografia do trio. Vamos às faixas:
SUMMERTIME
BLUES
Um riff bem inspirado abre o álbum, com os vocais de Dickie Peterson consideravelmente agressivos, mostrando a atitude mais pesada da banda. A bateria de Paul Whaley é bastante inspirada, assim como o solo de Leigh Stephens. Outra característica é a alternância entre momentos mais cadenciados e outros mais rápidos. Ótima versão!
A letra
traz o espírito malicioso do jovem:
Well
Lord I got to raise a fuss, Lord I got to raise a holler
Well I
been working all summer just to try and earn a dollar
Well
Lord I tried to call my baby, I tried to get a date......
Sometimes
I wonder what I'm a-gonna do
Lord
there ain't no cure for the summertime blues
“Summertime
Blues” é uma versão para o clássico originalmente composto por
Eddie Cochran e Jerry Capehart, sendo gravado pelo primeiro.
Foi
lançada como single e fez muito sucesso, chegando a ser considerada
como a 'primeira música Heavy Metal' a entrar nas principais paradas
de sucesso.
Atingiu a
excelente 14ª posição da principal parada norte-americana desta
natureza, ficando com a 3ª colocação na correspondente canadense.
Chegou ao 1º lugar na Holanda!
A versão
do Blue Cheer para “Summertime Blues” é tão marcante que chegou
a ficar na 73ª posição da lista The 100 Greatest Guitar Songs
of All Time, da renomada revista Rolling Stone, de 2008.
Foi
também esta versão do Blue Cheer que serviu de base para outro
cover famoso da canção, desta feita lançado pelo Rush, em seu EP
Feedback, de 2004.
ROCK
ME BABY
O Blue Cheer adiciona um peso e distorção extravagantes ao ótimo Blues chamado "Rock Me Baby". O ritmo é cadenciado na medida exata, como pede o estilo original, casando-se perfeitamente com a interpretação que Dickie Peterson dá à canção. O solo de Leigh Stephens é bem legal. Outra boa versão.
A letra é
simples e divertida:
Well
ball me baby
Well
ball me all night long (if you can)
Well
ball me baby
Well
ball me all night long (that feels pretty good)
Well
roll me baby
Until
my back ain't got no bones.
I
ain't got no bones about you, don't bother me, no not at all!
Trata-se
de outro cover, desta feita de um dos grandes clássicos do Blues,
composto originalmente pelo mestre B.B. King e Joe Josea.
DOCTOR
PLEASE
"Doctor Please" ressalta a influência da época em que o disco foi gravado, pois é nítida a percepção psicodélica presente na primeira composição autoral do álbum. O andamento lento e arrastado acaba se contraponto a outros em que a banda acelera o ritmo (e em especial durante o solo de Stephens). O resultado final soa de maneira bastante interessante.
A letra
pode ser entendida como um pedido de socorro:
I got
this funny feeling
Feeling
inside my head
Without
your good living, Doc
Well I
believe that I'll be dead
Doctor
don't you turn me down
And
won't you hear what I say
I need
your good living, Doc
And I
need it right away!
Segundo
Dickie Peterson, “Doctor Please” foi composta como uma apologia
ao uso de drogas e, além disto, teria a escrito em cerca de '10
minutos'.
OUT
OF FOCUS
Já "Out Of Focus" apresenta um riff bastante criativo, carregado de Rock sessentista, mas que ao mesmo tempo está embebido em um peso atordoante para a época. O Blues é outra influência nítida na canção, a qual possui um ritmo cadenciado, mas repleta de melodia e considerável dose do supracitado peso. Ótima composição.
A letra
reflete uma reflexão:
Won't
somebody tell me what's wrong
Cause
Lord, I been searchin'
Searchin'
so long
Oh,
won't somebody
Oh,
won't somebody
Tell
me what's wrong with me
“Out Of
Focus” também teria sido composta em poucos minutos, segundo
Peterson.
PARCHMENT
FARM
A quinta música do disco já apresenta um ritmo mais acelerado, contando com um riff rápido e preciso e, simultaneamente, com alto poder cativante. Contribui deveras para o ótimo resultado final a interpretação intensa de Peterson nos vocais. Mais uma versão que ficou excelente.
A letra é
em tom de resignação:
I
swear I'll be here for the rest of my life.
Yeah,
I know I'll be here for the rest of my life.
I know
I'll be here for the rest of my life.
All I
did was shoot your wife.
She
was no good, you can take my word for it!
“Parchment
Farm” é outro cover, baseado na versão de Mose Alisson para
“Parchman Farm”, de Bukka White.
SECOND
TIME AROUND
A sexta - e última - canção de Vincebus Eruptum é "Second Time Around". Outra vez, o ouvinte está diante de um riff repleto de peso e personalidade, construindo uma melodia instigante. A distorção é outra característica palpável na composição, a qual conta com a presença marcante da bateria de Whaley. Fecha o álbum de ótima maneira.
A letra
tem sentido de rompimento amoroso:
Listen
here, babe
It's
the end of the line
I'm so
sorry that you outta time
I
don't know what to do
I
don't know what to say
All I
know, try to leave that way
Considerações
Finais
Catapultado
pelo sucesso comercial do single “Summertime Blues”, Vincebus
Eruptum foi um ótimo sucesso de vendas e crítica.
O álbum
atingiu a excelente 11ª posição da principal parada de sucessos
norte-americana, a Billboard! Ótimo para uma banda em seu disco de
estreia e praticamente desconhecida.
Com o
tempo, Vincebus Eruptum acabou caindo nas graças da crítica
especializada em música.
Escrevendo
para o site de música AllMusic, Mark Deming descreveu Vincebus
Eruptum como “uma celebração gloriosa do rock & roll
primitivo, executado através de amplificadores Marshall suficientes
para ensurdecerem um exército”, elogiando também “som e fúria”
da banda como um dos movimentos fundadores do Heavy Metal.
O serviço
de música online Rhapsody listou o álbum em sua lista 10
Essential Proto-Metal Albums, sugerindo que a banda “não
apenas inspirou o termo power trio”, mas praticamente “inventou o
heavy metal”.
Além
disso, Vincebus Eruptum está presente no livro 1001 Albums You
Must Hear Before You Die.
Para Jim
Morrison, do The Doors, o Blue Cheer era “a banda mais poderosa que
eu já vi” e para Eric Clapton, o grupo seria “provavelmente, os
criadores do Heavy Metal”.
Apoiado
pelo sucesso, o Blue Cheer lançaria seu segundo álbum de estúdio
ainda em agosto de 1968, Outsideinside.
Formação:
Dickie
Peterson - Vocal, Baixo
Leigh
Stephens - Guitarra
Paul
Whaley - Bateria
Faixas:
01.
Summertime Blues (Cochran/Capehart) - 3:47
02. Rock
Me Baby (King/Josea) - 4:22
03.
Doctor Please (Peterson) - 7:53
04. Out
of Focus (Peterson) - 3:58
05.
Parchment Farm (Allison) - 5:49
06.
Second Time Around (Peterson) - 6:17
Letras:
Para o
conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
http://letras.mus.br/blue-cheer/
É claro que o surgimento do estilo musical chamado Heavy Metal foi a confluência de diversos e diferentes músicos, bandas e estilos musicais, os quais foram contribuindo com elementos diversificados em que, uma vez unidos, deram origem ao estilo. Vários foram os grupos que contribuíram para que a vertente Metálica do Rock surgisse e o Blue Cheer certamente está entre eles, de maneira relevante.
Esqueça, caro leitor, da técnica extremamente apurada e do requinte estilístico ao ouvir Vincebus Eruptum - mesmo porque a produção do álbum não é das melhores. O disco aqui apresentado é muito mais para ser sentido, pois a atitude de seus músicos é fator primordial na obra apresentada.
O Blue Cheer queria tocar alto - e certamente conseguiu - fazendo como talvez nenhuma banda naquele momento o fizera. É impressionante (lembrando o ano de 1968) a distorção presente no trabalho.
Também é notável como a banda pretendia (e obteve sucesso) fazer um disco com peso, agressividade e força. Nisto, Vincebus Eruptum foi um marco importante no estilo de fazer músicas que não apenas fossem melódicas, mas que também mostrassem o peso e ferocidade que o Rock também poderia possuir.
Com base neste propósito, pode-se dizer que o objetivo foi amplamente alcançado, graças a atuação apaixonante com que Peterson, Stephens e Whaley atuam no álbum. Peterson, além do baixo, faz ótima aparição nos vocais, casando-os de maneira primordial com a parte instrumental a fim de transmitir a agressividade desejada pelo Blue Cheer.
Mesmo que metade do trabalho sejam covers, estamos diante de uma obra ímpar na história da música mais pesada. "Doctor Please" mistura peso e psicodelia de maneira brilhante, "Second Time Around" impressiona pela força e "Out Of Focus" é a melhor faixa do álbum.
Também merecem destaques o cover de "Rock Me Baby", bastante instigante, além da versão sublime de "Summertime Blues".
Somente por sua história e significado, Vincebus Eruptum já merecia ser ouvido pelos apreciadores de Rock. Mas é muito mais que isso: suas músicas são cativantes e a atitude contida nas canções são tocáveis como poucas vezes se viu. Um álbum importante, influente e essencial. Obrigatório!
Boa crítica! A verdade e que Vincebus Eruption foi o xermen de moito do que viria despois. Rock pesado dentro dun transfondo psicodélico... E coincido en que xunto o cover de Summertime Blues, Out Of Focus e do mellor dentro dun dos elepés imprescindibles de finais dos '60. Un saudo dende elruidodeunavida.blogspot.com.es
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