7 de agosto de 2015

CACTUS - CACTUS (1970)


Cactus é o álbum de estreia da banda norte-americana de mesmo nome, ou seja, o Cactus. Seu lançamento oficial aconteceu no dia 1º de julho de 1970, através do selo Atco Records. As gravações ocorreram entre outubro e dezembro de 1969, no estúdio Ultra-Sonic Recording Studios, em Hempstead, nos Estados Unidos. A própria banda produziu o disco.

O Cactus foi uma banda de curtíssima duração, mas que acabou gravando álbuns que foram memoráveis para os fãs do Hard Rock setentista, especialmente a sua estreia. O Blog vai abordar as origens do grupo para depois se ater ao disco propriamente dito.

Tim Bogert
O baixista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice eram membros de uma das mais prodigiosas e pioneiras bandas do Rock mais pesado do final da década de 60: o Vanilla Fudge.

O Vanilla Fudge havia sido formado no meio da década de 60 e acabou gravando cinco álbuns até 1969, entre eles petardos como o primeiro autointitulado disco, Vanilla Fudge (1967), e Renaissance (1968).

Em março de 1970, Bogert e Appice deixaram o Vanilla Fudge, na expectativa de formarem um grupo com o lendário guitarrista Jeff Beck.

Entretanto, a esperança de ambos foi frustrada (pelo menos temporariamente) após Beck sofrer um acidente automobilístico e ficar inativo por mais de um ano.

Não querendo permanecerem mais de 1 ano parados, Bogert e Appice decidiram formar uma nova banda e partiram para buscar novos membros.

Carmine Appice
Para a guitarra, eles foram buscar um guitarrista originário da cidade de Detroit, chamado Jim McCarty.

McCarty havia tocado na banda que apoiava Mitch Ryder, o The Detroit Wheels, participando de álbuns como Take A Ride (1966) e Breakout...!!! (1966).

Após deixar a banda de Mitch Ryder, McCarty se uniu ao genial Buddy Miles, formando o Buddy Miles Express. Nela, gravou álbuns como Expressway To Your Skull (1968) e Electric Church (1970).

McCarty aceita o convite de Tim Bogert e Carmine Appice e assim formam o embrião de um novo grupo de Rock.

Para os vocais o escolhido foi Russell Edward Davidson, mais conhecido como Rusty Day.

Day havia tocado com sua própria banda, o Rusty Day & The Midnighters, antes de entrar para a banda do guitarrista Ted Nugent, o The American Amboy Dukes.

Com o Amboy Dukes, Rusty Day substituiu o vocalista John Drake, e acabou gravando apenas um único álbum, Migrations, de 1969. Na verdade, Rusty e Nugent nunca se deram muito bem.

Portanto, com Tim Bogert no baixo, Carmine Appice na bateria, Jim McCarty na guitarra e Rusty Day nos vocais; estava formado o Cactus!

Jim McCarty
Este line-up se reuniu entre outubro e dezembro de 1969 para gravar o primeiro álbum de estúdio da banda, homônimo ao grupo, Cactus, o qual seria lançado em julho de 1970.

A capa do álbum trouxe certa polêmica, pois continha a imagem da planta que deu nome ao conjunto, mas em formato fálico.

Vamos às faixas:

PARCHMAN FARM

A guitarra de Jim McCarty e a bateria de Carmine Appice são os grandes destaques desta versão de "Parchman Farm". Os solos de McCarty são ótimos, deixando a música sempre em um ritmo frenético e pesado. A gaita tocada por Rusty Day também tem presença bastante acentuada. Bom início de álbum.

A letra é simples e em tom de lamentação:

I'm sitting over here on parchman farm
I'm sitting over here on parchman farm
I'm sitting over here on parchman farm
All i ever did was shoot my arm

Trata-se de uma versão para a canção presente no álbum Local Color (1957), do cantor e compositor Mose Alisson.



MY LADY FROM SOUTH OF DETROIT

Já em "My Lady From South Of Detroit", o ritmo frenético e alucinante da faixa inicial são reduzidos de maneira drástica. Aqui, a banda opta por uma pegada bastante lenta, arrastada mesmo, e a suavidade e leveza dão o toque. Rusty Day tem uma atuação mais contida, mas que combina perfeitamente com a parte instrumental. Boa canção.

A letra é uma homenagem a uma mulher:

My lady from south of Detroit
And even though sometimes she's bad
I'm so sorry she's gone
Cause my memory lives on
She's the best lover I've ever had



BRO. BILL

Em "Bro. Bill", a pegada Bluesy está fortemente acentuada, identificada por um ritmo mais lento e cadenciado, mas sem abrir mão de uma dose cirúrgica de peso. Em alguns momentos, a velocidade aumenta de maneira módica. A gaita de Day está especialmente saborosa e melhora ainda mais a canção. Merece especial atenção o solo de guitarra de McCarty. Excelente momento do disco.

A letra é em tom humorístico:

The preacher said, he's gone now
Gone to another place
They lowered him down into the ground
I felt a tear trickle down my face



YOU CAN'T JUDGE A BOOK BY THE COVER

Com o ótimo baixo de Tim Bogert bastante acentuado, a quarta faixa de Cactus é um clássico do Blues, mas desta feita transfigurado em uma versão com proeminente pegada Hard Rock. A gaita de Rusty Day novamente toma protagonismo, bem como a guitarra de Jim McCarty, formando uma parceria que deixa a música em um patamar superior.

A letra é bem-humorada e faz uma crítica à superficialidade:

Cant judge a honey bee...
Cant judge an apple tree...
Cant judge a woman till you...
Cant judge the bible till you...

Trata-se de um cover para o clássico Blues composto por Willie Dixon.



LET ME SWIN

"Let Me Swin" possui um riff maravilhoso, com o mais puro espírito do nascente Hard Rock do início da década de 70. Por essa mesma razão, o destaque maior vai para a guitarra de Jim McCarty, que emprega distorção e peso impressionantes para a música. Momento maravilhoso do álbum!

A letra possui significado de atração:

Let me swim in your ocean honey
See how good it can feel
Let me swim in your ocean honey
Wanna soak in your sea
Let me swim in your ocean honey
See how good it can feel



NO NEED TO WORRY

Jim McCarty arranca notas realmente comoventes de sua guitarra no início da sexta faixa do álbum, "No Need To Worry". Trata-se de um Blues Rock, com alta carga de melancolia e que conta com um ritmo muito lento e arrastado, mas, simultaneamente, de grande intensidade dramática. Destaque, também, para a bela atuação de Rusty Day. Música incrível!

A letra fala sobre solidão:

Well it's hard to be lonely
Feeling everyone is down on you
It's hard to be lonely
Feeling everyone is down on you
And you find out later on
That they care so much for you



OLEO

"Oleo" possui uma pegada completamente alternativa em relação a sua antecessora: aqui o ritmo é acelerado e veloz, com a guitarra de McCarty e a gaita de Day dando as cartas. É um Hard Rock vigoroso, com intensa influência Blues, mas repleto de personalidade. Conta com um interessante solo de Tom Bogert. Outro momento de destaque do disco.

A letra é em tom de decepção amorosa:

Well I should've known she'd leave me
I should've known she'd slip away
Well I should've known she'd leave me
I should've known she'd slip away
Too bad woman's like that
Be greasy both night and day
I handle it night and day baby



FEEL SO GOOD

A oitava - e última - faixa do álbum de estreia do Cactus é "Feel So Good". Mais uma vez, a guitarra de Jim McCarty apresenta um riff malicioso, mas com a dose certa de peso. Embora não tão rápida, a faixa traz a intensidade comum ao Hard Rock, alternando passagens mais ou menos velozes. Há espaço para um longo solo de Carmine Appice que domina grande parte da extensão da música.

A letra é simples e usa ilustrações futurísticas:

Feels good
I'm stranded on a spaceship hideaway
And something makes me think I'm here to stay
I'm so happy where I am



Considerações Finais

A versão original do Cactus entregou ao mundo apenas três álbuns de estúdio e o grupo teve uma duração bastante efêmera.

Entretanto, a banda deixou, ao menos, seu álbum de estreia, um monólito poderoso dos movimentos iniciais da nascente sonoridade Hard Rock.

Cactus, o disco, mesmo não sendo um grande sucesso comercial, atingiu a boa 54ª colocação na principal parada norte-americana de álbuns, a Billboard. Um feito para um grupo novo e sem grande divulgação.

Mais que isto, com o passar do tempo, o álbum acabou se tornando um item clássico, especialmente entre os admiradores mais fiéis e sedentos pela sonoridade do Hard Rock setentista.

Eduardo Rivadavia, do Allmusic, dá ao álbum o status de 4,5 estrelas em 5 possíveis, e enfatiza o disco como “um dos melhores álbuns de hard rock da então novíssima década”.

Em 1971, o Cactus lançaria 2 álbuns: One Way... or Another e Restrictions. Logo após, o guitarrista Jim McCarty deixaria a banda, sendo rapidamente seguido pelo vocalista Rusty Day.

Já em 1972 a banda lançaria 'Ot 'N' Sweaty, seu quarto álbum, contando com Werner Fritzschings, na guitarra, Peter French nos vocais e Duane Hitchings nos teclados. Mas logo depois o grupo iria acabar, reunindo-se novamente apenas 3 décadas depois.



Formação:
Tim Bogert - Baixo, Backing Vocals
Carmine Appice – Bateria, Backing Vocals
Jim McCarty - Guitarra
Rusty Day – Vocal, Backing Vocals e Gaita

Faixas:
01. Parchman Farm (Allison) - 3:06
02. My Lady from South of Detroit (Appice/Bogert/Day/McCarty) - 4:26
03. Bro. Bill (Appice/Bogert/Day/McCarty) - 5:10
04. You Can't Judge a Book by the Cover (Dixon) - 6:30
05. Let Me Swim (Appice/Bogert/Day/McCarty) - 3:50
06. No Need to Worry (Appice/Bogert/Day/McCarty) - 6:14
07. Oleo (Appice/Bogert/Day/McCarty) - 4:51
08. Feel So Good (Appice/Bogert/Day/McCarty) - 6:03

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: http://lyrics.wikia.com/Cactus

Opinião do Blog:
O surgimento da sonoridade Hard Rock, especialmente no início dos anos 70, propiciou o aparecimento de um incontável número de bandas as quais deixaram seus registros, mas que não alcançaram grande sucesso comercial e de público e, ao mesmo tempo, foram sendo resgatadas ao longo das décadas seguintes por aqueles apaixonados pela sua sonoridade. O Cactus é mais um exemplo disto.

Claro que um grupo que surgiu baseado na seção rítmica do grande Vanilla Fudge, contando com nomes do gabarito de Tim Bogert e Carmine Appice, passa muito longe de ser apenas mais um. Mas, talvez devido a sua duração efêmera, o Cactus não é dos nomes mais conhecidos dentre a grande população em geral.

Claro que o Vanilla Fudge já pincelava novas sonoridades que surgiriam na década seguinte, mas o Cactus apresenta um conjunto de músicos que estavam antenados com uma das novas vertentes do Rock que seria dominante na década que se iniciava: o Hard Rock. Uma prova disto é a versão de "Parchman Farm", claramente espelhada em "Parchment Farm", do Blue Cherr, lançada 2 anos antes em seu clássico álbum Vincebus Eruptum, de 1968.

Dispensável reafirmar toda a qualidade técnica de músicos como Tim Bogert e Carmine Appice, pois suas carreiras falam por si. Mas dois grandes destaques do álbum estão na fabulosa guitarra de Jim McCarty, com riffs e solos deliciosos; e, também, na gaita maliciosa e envolvente de Rusty Day. Este, além disso, faz um bom papel nos vocais.

As letras estão na média geral.

Sobram destaques entre as oito faixas do álbum autointitulado do Cactus. Mas é tradição do Blog apontar suas favoritas, embora todas sejam no mínimo boas canções.

Há que se destacar o saboroso Rock, com pegada Bluesy, presente na ótima "Bro. Bill". Também um Blues mais escancarado, mas ao mesmo tempo, de altíssima categoria, presente na estonteante "No Need To Worry". "Oleo" já é mais Rock e simultaneamente uma grande canção.

Mas o Blog escolhe a incrível "Let Me Swin" como a melhor do álbum, sendo uma música que aponta para o futuro, simbólica da sonoridade Hard Rock setentista.

Enfim, o álbum de estreia do Cactus é um trabalho de muita qualidade e com uma inconteste influência Bluesy. Marca uma banda influenciada pelo nascente Hard Rock setentista e que fez um disco de grandes qualidades, contribuindo para o fortalecimento da jovem vertente. Álbum muito bem recomendado pelo Blog!

4 comentários:

  1. O Cactus é uma daquelas bandas que não dá para entender por que não fizeram sucesso. Os músicos são excepcionais, o som é o blues pesado que fez a fama do Led Zeppelin nos dois primeiros álbuns, com uma dose adicional de paulada. Talvez o fato de ser um pouco zeppeliniano demais tenha ajudado no fracasso da banda. Acho os três primeiros discos uniformemente bons, e "'Ot'n'Sweaty" um disco com bom potencial, mas mal produzido (o lado ao vivo é muito abafado e as músicas perderam peso) - e o guitarrista alemão Werner Fritzschings era muito bom! Os três discos da volta do Cactus são legais, mas não sou muito fã do Jimmy Kunes, para ser honesto.
    Às vezes me pego pensando se algum dia o assassino de Rusty Day será preso...

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    1. Pode ser viagem minha, mas uma banda que começou como "tapa-buraco" (enquanto o BBA não rolava), já estava fadada ao esquecimento, mesmo com uma qualidade indiscutível. Gosto demais dos 2 primeiros!

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  2. É verdade, um projeto feito para manter Bogert e Appice na ativa enquanto esperavam pelo Beck, e saiu-se melhor do que a encomenda, até porque eles conseguiram um guitarrista absurdamente bom e um cantor de grande potencial. Pena que o mercado era saturado de bandas boas na época e ninguém prestou muita atenção ao Cactus!!

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    1. Exatamente, o "tapa-buraco" era muito melhor que o esperado!

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