11 de janeiro de 2016

URIAH HEEP - LOOK AT YOURSELF (1971)


Look At Yourself é o terceiro álbum de estúdio da banda britânica Uriah Heep. Seu lançamento oficial aconteceu em setembro de 1971 através dos selos Bronze Records (Reino Unido) e Mercury Records (Estados Unidos). As gravações ocorreram durante julho de 1971 no Lansdowne Studios, em Londres, Inglaterra. A produção ficou a cargo de Gerry Bron.


O Uriah Heep é uma das bandas favoritas do 'blogeiro' e já apareceu anteriormente por aqui com o álbum Salisbury (1971). O Blog vai tratar brevemente dos fatos que antecederam o lançamento de Look At Yourself para depois abordar as faixas que o compõem.

O segundo álbum da banda, Salisbury, foi um esforço com direcionamento voltado à vertente do gênero rock progressivo, contando com a lindíssima peça de 16 minutos que dá nome ao trabalho, “Salisbury”.

Outra das faixas do álbum, a balada “Lady in Black”, tornou-se um hit na Alemanha após o seu relançamento em 1977 (dando à banda o prêmio Radio Luxemburg Lion).

Produzido por Gerry Bron, o segundo disco do Uriah Heep é definido por Donald Guarisco, do Allmusic, como: "mistura do poder do Heavy Metal com a complexidade do Rock Progressivo".

Outro ponto importante e significativo foi a instantânea consolidação de Ken Hensley para a posição de principal compositor da banda. Hensley assina todas as faixas de Salisbury, sendo que 3 delas solitariamente.

Ken Hensley
Logo após o lançamento de Salisbury, o baterista Keith Baker deixou a banda. Seu substituto foi Iain Clark, que fazia parte do grupo Cressida, este, outro conjunto do catálogo da Vertigo Records.

Com ele, a banda fez sua primeira turnê pelos Estados Unidos, como suporte para nomes como Three Dog Night e Steppenwolf.

Na primavera britânica de 1971, o contrato de Gerry Bron, manager do Uriah Heep, com a gravadora Vertigo Records acabou e, então, ele decidiu criar seu próprio selo, o Bronze Records.

O terceiro álbum foi gravado durante o mês de julho de 1971, no verão britânico, em apenas três visitas da banda ao Lansdowne Studios, em Londres.

Mick Box
Gerry Bron, em entrevista anos depois, afirma: "Foi o momento em que a banda realmente encontrou uma direção musical sólida".

Look At Yourself marcaria a solidificação de diferentes ideias musicais que haviam começado a surgirem em Salisbury, unificando e direcionando a sonoridade da banda.

A arte original da capa em LP contava com uma peça simples, com uma abertura cortada na frente, através do qual uma folha de material reflexivo (que funcionava como espelho) ficava exposta, transmitindo uma imagem distorcida de qualquer pessoa que olhasse diretamente para ela.

A ideia, originalmente idealizada pelo guitarrista Mick Box, era para a capa refletir diretamente o título do álbum, e este tema é complementado através das fotos da banda na parte traseira da capa do LP, que também foram distorcidas.

O próprio LP era alojado em um cartão interior, de material mais resistente, com as letras.

Vamos às faixas:

LOOK AT YOURSELF

Com um ritmo urgente, a faixa-título abre os trabalhos. O andamento é cadenciado, mas com o peso necessário para intensificar a massa sonora produzida pelo grupo. O baixo está bastante presente, bem como os teclados. Os vocais de Ken Hensley são muito bons. Um clássico do Hard setentista!

A letra é um chamado para uma autoavaliação:

I see you running
Don't know what
You're running from
Nobody's coming
What'd you do that was so wrong?


“Look At Yourself” é um grande clássico do Uriah Heep.

Lançada como single principal do álbum, não obteve maior repercussão em termos das principais paradas de sucesso, as britânica e norte-americana. No entanto, foi 33º e 4º lugares nas paradas de Alemanha e Suíça, respectivamente.

Escrita e cantada pelo tecladista Ken Hensley, a razão pela qual ele assumiu os vocais foi por conta do vocalista David Byron haver sofrido problemas de garganta durante a sessão de gravação. No entanto, Byron fazia os vocais durante as performances ao vivo da banda.

A música também foi incluída no primeiro álbum ao vivo do Uriah Heep, Uriah Heep Live (1973) e em sua primeira coletânea, The Best of Uriah Heep (1976).

Entre versões cover conhecidas para “Look At Yourself”, tem-se a de bandas como Gamma Ray e do grupo canadense GrimSkunk.



I WANNA BE FREE

Em "I Wanna Be Free", o Uriah Heep aposta em um Hard Rock pesado e intenso, mas com boas doses de melodia e sensibilidade. A guitarra de Mick Box está ótima, assim como o baixo de Paul Newton, este, responsável direto pelo peso da canção. O nível continua bastante elevado.

A letra é bem legal e reflete a transitoriedade da vida e a liberdade:

So bring fire and bring steel
For you know the way I feel
Bring a silver horse
To carry me away
I'm no stranger, I'm a friend
And my pain will never end
Till the world will let us
Live our lives as one



JULY MORNING

Virtuosismo, intensidade, mudanças de ritmo, técnica, peso considerável, melodia. Todas estas características estão presentes nos mais de 10 minutos que constituem "July Morning". Trata-se de uma das mais belas peças compostas na riquíssima década de 70 e que não existem palavras suficientes para defini-la. A, também, destacar-se a monumental atuação de David Byron. Um espetáculo!

A letra pode ser interpretada como a busca de um sentido para a vida:

There I was on a July morning looking for love
With the strength of a new day dawning and the beautiful sun
At the sound of the first bird singing I was leaving for home
With the storm and the night behind me and a road of my own
With the day
Came the resolution
I'll be looking for you

“July Morning” é uma das principais músicas compostas pelo Uriah Heep. Foi lançada como single apenas na Venezuela e no Japão.

A canção foi escrita pelo tecladista da banda Ken Hensley e o vocalista, David Byron. Aproximadamente, os últimos quatro minutos da peça consistem em um solo virtuoso de órgão.

Os incríveis riffs de sonoridade 'Calliope' são tocados por Manfred Mann, que, de acordo com o encarte do álbum, "aparece pela primeira vez com o seu sintetizador Moog".

A música também foi lançada como um single do primeiro álbum ao vivo da banda, Uriah Heep Live, de 1973.

Dave Thompson, do AllMusic, descreveu a canção como a melhor produzida pelo Uriah Heep, com "arranjo e performance magníficos", e, no ano de 1995, uma estação de rádio finlandesa chamada Radiomafia adicionou "July Morning" à sua lista de Top 500 Songs.

Em 2009, a banda lançou uma nova versão da canção no álbum Celebration.

O Manager do Uriah Heep, Gerry Bron, acrescentou que Manfred Mann não só desempenhou um papel importante no estúdio durante a gravação original, mas teve também um papel crucial no desenvolvimento da faixa.

Um fato curioso: todos os anos, na Bulgária, no dia 30 de Junho, pessoas de todo o país viajam para a costa do Mar Negro para assistir ao nascer do sol no dia 1º de julho. Durante o evento, muitas vezes as pessoas entoam "July Morning".

A canção aparece em vários álbuns ao vivo e coletâneas da banda. Uma de suas versões cover mais destacáveis é a presente no disco The Masquerade Ball, de 2000, do guitarrista alemão Axel Rudi Pell.



TEARS IN MY EYES

Em "Tears In My Eyes", a guitarra de Mick Box está ainda mais presente, em um Hard Rock vigoroso e, simultaneamente, muito melódico. Nas passagens mais calmas, uma belíssima melodia encanta o ouvinte. Os solos de Box são muito bons e as harmonias vocais contribuem fartamente para a beleza da faixa.

A letra fala de rompimento amoroso:

It's the same weary story
Of a woman abusing her man
So I have to forget you
Though I'm not even sure if I can



SHADOWS OF GRIEF

Em "Shadows Of Grief", o Uriah Heep mostra a grandiosidade de sua formação sonora. É claro que a canção mostra o peso típico do Hard Rock da época, mas a banda flerta ainda mais proximamente com um viés Progressivo, engrandecendo a composição. Hensley está assustadoramente brilhante nos teclados e é acompanhado com maestria por Mick Box. Faixa sensacional!

A letra, novamente, aborda um conturbado relacionamento amoroso:

North, South, East and West
Wherever you go
You'll find the same
And the only way you'll ever learn
Is to realize that you're to blame



WHAT SHOULD BE DONE

Já em "What Should Be Done", o Uriah Heep retira o peso e a intensidade de sua sonoridade e aposta em uma canção mais melódica e bastante intimista. A proposta suave acaba cativando, pois aponta para um trabalho bem composto e de extremo bom gosto. Atuação brilhante de David Byron nos vocais.

A letra fala sobre a consequência de nossas próprias escolhas:

Will you run the risk
Of being taunted
By doing what you wanna do
Or do you prefer to have
Your whole life haunted
By the ones who
Choose to care for you



LOVE MACHINE

A sétima - e última - faixa de Look At Yourself é "Love Machine". A menor canção do álbum demonstra a veia principal da banda, um Hard Rock simples, direto, mas extremamente vigoroso e intenso. A seção rítmica brilha, bem como a guitarra e o teclado. Fecha o trabalho de maneira incrível.

A letra possui conteúdo sexual:

Lovely little lady
You got me on the run
You're a love machine
And you say that I'm your gun



Considerações Finais

Look At Yourself, com o tempo, acabou se tornando um álbum de referência dentro da discografia do Uriah Heep, bem como um dos favoritos de sua base de fãs.

Embora não tenha sido um grande sucesso comercial, o disco teve um pequeno destaque nas principais paradas de sucesso: 39ª posição na parada britânica e 93ª colocação na correspondente norte-americana. Ainda galgou os 11º e 14ª lugares nas paradas de Alemanha e Noruega, além de conquistar o topo da parada finlandesa!

David Byron
Entre os sucessos presentes no disco e que caíram na graça dos fãs destacam-se a faixa-título, “Tears In My Eyes” e “July Morning”. Esta, um épico que muitos fãs do Uriah Heep consideram em um patamar semelhante a “Stairway To Heaven”,do Led Zeppelin, ou “Child In Time”, do Deep Purple.

"Eu acho que July Morning é um dos melhores exemplos da forma como a banda estava se desenvolvendo naquele ponto no tempo. Ela introduziu uma série de dinâmicas, uma grande quantidade de luz e sombra no nosso som", disse Ken Hensley.

Na maioria das críticas, Look At Yourself é visto de maneira muito positiva. Donald A. Guarisco, do AllMusic, por exemplo, afirma: “Nota especial também deve ser dada à performance vocal de David Byron; seu multi-oitava estilo operístico foi, sem dúvida, uma influência sobre vocalistas de Heavy Metal posteriores, como Rob Halford. Portanto, Look At Yourself é, simultaneamente, um dos melhores e mais coesos álbuns do Uriah Heep e um ponto alto do Heavy Metal dos anos 1970”.

Pós-lançamento do álbum, até o final de 1971, tornou-se claro, de acordo com Hensley, que ele próprio, Byron e Box tornaram-se o núcleo coeso da banda. Sentindo-se marginalizado, primeiro o baixista Paul Newton deixou o grupo, sendo substituído brevemente por Mark Clarke.

Em seguida, em novembro de 1971, o baterista Iain Clark foi substituído por Lee Kerslake, então na banda The Gods. O baixista neozelandês Gary Thain, membro da banda Keef Hartley, juntou-se como membro permanente do Uriah Heep, no meio do caminho de mais uma turnê norte-americana.

"Gary tinha um estilo próprio, foi incrível porque cada baixista no mundo que eu conheci sempre amou seu estilo, com essas linhas de baixo melódicas," afirmou o guitarrista Mick Box.

Assim, o "clássico" Uriah Heep foi formado e, de acordo com o biógrafo K. Blows, "Tudo se encaixou no lugar." O resultado seria visto no ano seguinte, com um dos melhores álbuns de todos os tempos: Demons And Wizards.


Formação:
David Byron - Vocal
Mick Box - Guitarra
Ken Hensley - Órgão, Piano, Guitarra, Violão, Vocal em “Look At Yourself”
Paul Newton - Baixo
Iain Clark - Bateria (sem créditos no lançamento original)
Músicos Adicionais:
Manfred Mann - Sintetizador Moog (em "July Morning")
Ted Osei, Mac Tontoh e Loughty Amao - Percussão (em "Look At Yourself")

Faixas:
01. Look at Yourself (Hensley) – 5:09
02. I Wanna Be Free (Hensley) – 4:00
03. July Morning (Byron/Hensley) – 10:32
04. Tears in My Eyes (Hensley) – 5:01
05. Shadows of Grief (Byron/Hensley) – 8:39
06. What Should Be Done (Hensley) – 4:15
07. Love Machine (Box/Byron/Hensley) – 3:37

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: http://letras.mus.br/uriah-heep/

Opinião do Blog:
O Uriah Heep é uma das grandes bandas do Hard Rock setentista. Com uma discografia sólida, naquele período, o Blog pensa que o grupo britânico merecia um reconhecimento maior junto ao grande público, pois a qualidade da música produzida pelo conjunto é incrível.

Nos seus primeiros trabalhos, o grupo esbanjava inspiração, trazendo vários elementos criativos para seu alicerce fundado no Hard Rock/Heavy Metal daquela época. Mas a extrema criatividade e categoria de seus músicos diferenciavam a banda da maioria.

E o incrível Look At Yourself é uma prova fundamental desta afirmação.

Uma banda que conta com o ótimo guitarrista Mick Box e o excelente multi-instrumentista Ken Hensley dispensa maiores explicações sobre sua parte técnica. Hensley, ainda, é um compositor extraordinário, responsável direto pela mairoria dos grandes clássicos da discografia do Uriah Heep.

Adicione-se a isto um vocalista talentoso (e muito subestimado) como David Byron. Não apenas por sua belíssima voz, mas por uma interpretação e atuação impecáveis durante todo o disco. Byron engrandece as composições, transmitindo com a emoção exata o conteúdo lírico exposto.

E as letras são muito boas, principalmente quando abordam a temática dualística vida/morte.

Um trabalho de qualidade extrema como Look At Yourself não possui faixas de enchimento. O álbum deve ser apreciado na íntegra, sem cortes. Todas as faixas são, no mínimo, muito boas.

Mas a tradição do Blog manda dar destaques. A faixa-título apresenta um Hard Rock vigoroso, repleto de classe e imposição. "What Should Be Done" é uma amostra do viés intimista e sofisticado do grupo e é outra atuação impressionante da banda.

"Shadows Of Grief" é uma composição brilhante e aponta um viés Progressivo ao som do Uriah Heep, contribuindo para tornar a canção ainda melhor. Tudo isto é intensificado em "July Morning", uma música magnífica, definitiva e definidora do que é o Uriah Heep. Uma das melhores faixas de todos os tempos.

Por tudo que se aponta, Look At Yourself apresenta-se como uma obra fundamental, não apenas na discografia do Uriah Heep, bem como dentro do universo do Rock setentista. Sua audição é obrigatória para fãs do estilo. E é difícil imaginar, estando em um patamar tão elevado, que o grupo ainda faria outro álbum deste nível em seu sucessor, Demons and Wizards, de 1972. Look At Yourself é um álbum essencial e extremamente recomendado pelo Blog! 

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