13 de maio de 2016

ALICE IN CHAINS - FACELIFT (1990)


Facelift é o álbum de estreia da banda norte-americana chamada Alice in Chains. Seu lançamento oficial aconteceu em 21 de agosto de 1990, através do selo Columbia. As gravações se deram entre dezembro de 1989 e abril de 1990, no London Bridge Studio, em Seattle e no Capitol Recording Studio, em Hollywood, ambos nos Estados Unidos. O produtor foi Dave Jerden.

O Blog abordará a formação do Alice in Chains, de maneira breve, para depois se ater mais precisamente ao disco, como é o costume.


A história da banda começa no meio da década de 80, quando o até então baterista, Layne Staley, conseguiu seu primeiro show como vocalista, ao responder a um teste para cantar em uma banda de Glam Metal de Seattle, conhecida como Sleze.

Staley foi convencido a se tornar vocalista pela insistência de seu meio-irmão, Ken Elmer.

Outros membros deste grupo, naquela época, eram os guitarristas Johnny Bacolas e Zoli Semanate, o baterista James Bergstrom, e o baixista Byron Hansen.

Esta banda passou por várias mudanças de formação, culminando com Nick Pollock como único guitarrista e Bacolas migrando para baixo, antes mesmo do surgimento de discussões sobre a mudança do nome do conjunto para Alice in Chains. Esta mudança foi motivada por uma conversa que Bacolas tinha com um cantor de outro grupo sobre acesso a backstages.

Surgiram preocupações quanto ao nome, pois ele remete a questões sexuais e sexistas, e, assim, o grupo finalmente escolheu soletrá-lo de maneira diferente (Alice N' Chains) para dissipar quaisquer preocupações dos pais, embora a mãe de Staley, Nancy McCallum, não estivesse feliz com este nome inicialmente.

Staley conheceu o guitarrista Jerry Cantrell enquanto trabalhava com o Alice N' Chains nos estúdios de ensaio chamados Music Bank. Os dois músicos tornaram-se companheiros de quarto, vivendo no espaço de ensaio que compartilhavam.

O Alice N' Chains logo se desfez e Staley se juntou a uma banda de funk que também exigia um guitarrista no momento. Staley convidou Cantrell a se juntar ao grupo funk como músico de apoio e ele aceitou o convite desde que o vocalista se juntasse a sua própria banda.

Layne Staley
Na época, a banda de Cantrell incluía o baterista Sean Kinney e o baixista Mike Starr.

Eventualmente, o projeto funk de Staley se separou e, em 1987, Staley ingressou na banda de Cantrell em tempo integral, tocando em clubes de todo a região noroeste da Costa Oeste dos Estados Unidos, muitas vezes alongando os 15 minutos de material autoral em apresentações de 45 minutos.

A banda tocou em alguns shows, chamando-se de diferentes apelidos, incluindo Diamond Lie, o nome da banda anterior de Cantrell, antes de, eventualmente, adotar o nome do grupo anterior de Staley, Alice in Chains.

O promoter local, Randy Hauser, deu-se conta da banda em um show e acabou se oferecendo para bancar financeiramente gravações de uma demo. No entanto, um dia antes da banda gravar a demo no estúdio Music Bank, no estado de Washington, a polícia fechou o estúdio durante a maior incursão contra a cannabis na história do estado.

A demo final, concluída em 1988, foi nomeada The Treehouse Tapes e acabou chegando aos gestores musicais Kelly Curtis e Susan Silver, os quais gerenciavam outra banda de Seattle, o Soundgarden.

Curtis e Silver enviaram a demo para um representante ligado à Columbia Records, chamado Nick Terzo, que marcou um encontro com o presidente do selo, Don Ienner.

Jerry Cantrell
Com base na The Treehouse Tapes, Ienner contratou o Alice in Chains para a Columbia, em 1989.

A banda também gravou outra demo ao longo de um período de três meses em 1989. Esta gravação pode ser encontrado na versão bootleg, de nome Sweet Alice.

O Alice in Chains logo tornou-se uma prioridade da gravadora, a qual lançou a primeira gravação oficial da banda, em julho de 1990, um EP promocional chamado We Die Young.

O primeiro single do EP, "We Die Young", tornou-se um hit em rádios de metal. Depois de seu sucesso, o selo se apressou no trabalho com álbum de estreia do Alice in Chains, deixando a produção com Dave Jerden.

Vamos às faixas:

WE DIE YOUNG

"We Die Young" apresenta uma sonoridade bem pesada, baseada em um ótimo riff que conjuga peso, intensidade e uma certa dose de melodia. Ótimos vocais de Layne Staley que se casam perfeitamente com o sensacional trabalho da guitarra de Jerry Cantrell.

A letra possui uma perspectiva pessimista:

Another alley trip
Bullet seeks the place to bend you over
Then you got hit
And you shoulda known better

Lançada como single, não obteve maior repercussão em termos das principais paradas de sucesso.

“We Die Young” também estava em um EP, de mesmo nome, lançado um mês antes do lançamento de Facelift, para promover a banda. Era acompanhada das faixas “It Ain't Like That” e “Killing Yourself”. Este EP é, atualmente, um item raro e cobiçado por colecionadores.

Versões cover para a faixa foram feitas pelas bandas Stone Sour e Ektomorf.



MAN IN THE BOX

A sonoridade continua bem pesada em "Man in the Box", mas o ritmo desacelera, com um andamento mais cadenciado. O uso do Talkbox é bem dosado. Destaque para o ótimo refrão, com excelente interpretação de Staley e, também, para o onipresente baixo de Mike Starr. Grandioso momento do álbum.

A letra é em tom de negação:

Feed my eyes
Can you sew them shut?
Jesus Christ
Deny your maker

“Man in the Box” é um dos maiores clássicos do Alice in Chains.


Lançada como single, não obteve maior repercussão nas principais paradas de sucesso. Mas o videoclipe teve extensa veiculação na MTV norte-americana, especialmente a partir do ano de 1991.

Layne Staley revelou que a inspiração para as letras foi a censura presente nos veículos de comunicação de massa.

O videoclipe foi dirigido por Paul Rachman e foi indicado para o prêmio de melhor Vídeo de Heavy Metal/Hard Rock do MTV Video Music Awards, de 1991. Entre versões cover mais famosas estão as de nomes como Richard Cheese e David Cook.

“Man in the Box” está na 19ª posição da lista 40 Greatest Metal Songs, do canal VH1. O mesmo veículo a elegeu como 50ª colocada na lista 100 Greatest Songs of the 90s, de 2007. Seu solo foi o 77º lugar na lista greatest guitar solo, da revista Guitar World.

Além disso, “Man in the Box” recebeu uma indicação ao prêmio Grammy Award for Best Hard Rock Performance, de 1992, mas que foi vencido pelo Van Halen.



SEA OF SORROW

Nesta canção, o Alice in Chains opta por um andamento mais acelerado, certamente intenso, mas com uma levada consideravelmente mais leve que aquela das faixas que a precedem. A música tem uma inegável pegada 'roqueira' e é Cantrell quem continua dando as cartas.

A letra é novamente sombria:

You opened fire
And your mark was true
You opened fire
Aim my smiling skull at you
You opened fire


Foi lançada como single e também não obteve repercussão nas mais importantes paradas de sucesso. Existem dois videoclipes para a canção, um dirigido por Paul Rachman e outro por Martyn Atkins.



BLEED THE FREAK

Já em "Bleed The Freak", a banda opta por uma introdução mais curta e lenta, para depois deslanchar em uma composição intensa, com a guitarra de Cantrell ditando o ritmo. O solo do guitarrista é um dos mais marcantes de todo o disco. 

A letra apresenta ódio:

If you scorn my lover
Satan got your thigh
If you steal in hunger
I will kick you when you try

Lançada como single, também não obteve maior repercussão em termos das principais paradas de sucesso.

Um videoclipe com imagens da década de 90 foi feito quando a banda estava prestes a lançar o álbum ao vivo Live, de 2000.



I CAN'T REMEMBER

Em uma canção de andamento mais lento e contido, o destaque vai para o contraste entre as passagens quase acústicas e melodiosas e as em que o peso absurdo do riff de Cantrell preenchem o ambiente. Os vocais de Staley se adequam perfeitamente ao instrumental. Ponto altíssimo do trabalho.

A letra possui sentido de dor e sofrimento:

Bring me down you try
Feel the pain and keep it all in 'till you die
Without eyes you cannot cry
Who's the blame?



LOVE, HATE, LOVE

"Love, Hate, Love" é a maior faixa de Facelift, superando a casa dos 6 minutos de duração. A música apresenta um andamento mais arrastado, contando com uma acentuada presença de groove, e ótima atuação de Jerry Cantrell na guitarra. É uma perfeita amostra de como a banda une elementos do Rock com o Metal.

A letra fala de um relacionamento difícil:

Cheating myself, still you know more
It would be so easy with a whore
Try to understand me little girl
My twisted passion to be your world



IT AIN'T LIKE THAT

Muito groove e muito peso são as tônicas que constituem a música "It Ain't Like That". Staley tem uma atuação competente e o trabalho da seção rítmica composta por Mike Starr e o baterista Sean Kinney é fundamental para a intensidade da canção.

A letra remete a rebeldia:

Where I go is when I feel I'm able
How I fight is why I'm feelin' sore
In my mind, not forgotten
Feel as though, a tooth were rotten
Behind the smile, a tongue that's slippin'
Buzzards cry, when flesh is rippin'



SUNSHINE

"Sunshine" é uma faixa interessante, a qual, em suas passagens mais calmas possui um ar que chega a lembrar (bem remotamente) alguma coisa do Lynyrd Skynyrd. Mas logo a faixa se desenvolve mais no estilo do próprio Rock Alternativo, ou seja, com muito groove e andamento mais contido.

A letra reflete dor e doença:

Am I too contagious
Full of sick desire
Am I that I promise
Burning corpsed pyre



PUT YOU DOWN

"Put You Down" é mais curta e direta, contando com um riff que bebe na fonte do Hard Rock, mesmo que de maneira tímida. Mas só este fato já a distingue dentro do trabalho. O andamento é mais rápido e a faixa flui de maneira muito agradável.

A letra é simples:

I can see what the cost will be
You know I don't need you
I just can't put you down
I can see what it all means to me
Honey I don't need you
I just can't put you down



CONFUSION

"Confusion" é uma faixa mais longa dentro do trabalho e que aposta na fórmula de apresentar momentos leves, construídos com uma boa melodia e andamento absurdamente lento, sendo contraposto por momentos mais intensos, com a guitarra preponderante e vocais mais agressivos de Staley.

A letra é uma crítica à sociedade:

I want to set you free, recognize my disease
Love, sex, pain, confusion, suffering
You're there crying, I feel not a thing
Drilling my way deeper in your head
Sinking, draining, drowning, bleeding, dead



I KNOW SOMETHIN (BOUT YOU)

O grande destaque desta música é, sem sombra de dúvida, o baixo de Mike Starr. Além de ditar o ritmo e andamento da canção, sua nítida influência funky (o verdadeiro, obviamente) dá um sabor especial, especialmente nas passagens que precedem o refrão.

A letra é sobre vingança:

I'm gonna tell your mama
Yeh I'm gonna blackball your name
Ain't no way you'll go without me
Every chance I'll make you pay



REAL THING

A décima-segunda - e última - faixa de Facelift é "Real Thing". A música apresenta um bom riff principal, pesado e com uma melodia bem interessante e envolvente. Combinando o citado peso com muita intensidade e boa dose de agressividade nos vocais, a canção encerra bem o trabalho.

A letra fala sobre vício:

Under the hill, with just a few notches on my belt
Take it away, don't want no more
Even if you say just one more
I won't leave you alone, Oooh



Considerações Finais

O álbum, para uma banda novata, acabou fazendo sucesso, especialmente em 1991 com a explosão mundial do Grunge.

Em termos de paradas de sucesso, o álbum alcançou a 24ª posição na parada de sucessos britânica e a 42ª colocação na correspondente norte-americana. Também ficou com o 38º lugar na parada australiana.

O álbum foi um sucesso de crítica, com Steve Huey, do Allmusic, citando Facelift como “um dos registros mais importantes no estabelecimento de uma audiência para o grunge e o rock alternativo, e mesmo entre ouvintes de hard rock e de heavy metal”.

Foi também o primeiro álbum grunge a chegar no top 50 da Billboard 200 e o pioneiro a atingir mais de 1 milhão de cópias vendidas.

Facelift não foi um sucesso instantâneo, vendendo cerca de 40.000 cópias nos primeiros seis meses de lançamento. Tudo mudaria quando a MTV norte-americana passaria a dar ao videoclipe de "Man in the Box" uma rotação diurna regular.

A banda continuou a aumentar o seu público, abrindo para artistas como Iggy Pop, Van Halen, Poison e Extreme.

No início de 1991, Alice in Chains conseguiu a vaga de banda de abertura para a turnê Clash of the Titans com Anthrax, Megadeth e Slayer, expondo a banda para um público massivo de Heavy Metal.

Na turnê, o grupo se encontrou sujeito a algumas audiências hostis, no entanto o baixista Frank Bello, do Anthrax, lembra-se do Alice in Chains ganhando o respeito do público por si mesmo: “Se houvesse um cara começando merda, Layne saltaria até o público e bateria essa porra de cara!”.

Após a turnê, o Alice in Chains entrou no estúdio para gravar algumas demos para o próximo álbum, mas acabou registrando cinco músicas acústicas no lugar.

Enquanto estavam no estúdio, o baterista Sean Kinney teve um sonho sobre "fazer um EP chamado Sap". Desta forma, banda decidiu “não mexer com o destino”, e em 21 de março de 1992, Alice in Chains lançou seu segundo EP, Sap.

Facelift supera a casa de 2 milhões de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos.



Formação:
Layne Staley - Vocal
Jerry Cantrell - Guitarra, Backing Vocals, Talkbox em "Man in the Box"
Mike Starr - Baixo, Backing Vocals em "Confusion"
Sean Kinney - Bateria, Percussão, Backing Vocals, Piano em "Sea of Sorrow"
Músicos Adicionais:
Kevin Shuss – Backing Vocals

Faixas:
01. We Die Young (Cantrell) - 2:32
02. Man in the Box (Staley) - 4:46
03. Sea of Sorrow (Cantrell) - 5:49
04. Bleed the Freak (Cantrell) - 4:01
05. I Can't Remember (Staley/Cantrell) - 3:42
06. Love, Hate, Love (Staley) - 6:26
07. It Ain't Like That (Cantrell/Starr/Kinney) - 4:37
08. Sunshine (Cantrell) - 4:44
09. Put You Down (Cantrell) - 3:16
10. Confusion (Staley/Cantrell/Starr) - 5:44
11. I Know Somethin (Bout You) (Cantrell) - 4:22
12. Real Thing (Staley) - 4:03

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/alice-in-chains/

Opinião do Blog:
Quem nos acompanha sempre sabe que o grunge não é um prato recorrente por aqui. Mas a estreia do Alice in Chains é um trabalho muito interessante e que marca a estreia deste relevante estilo nas páginas do nosso humilde Blog.

Facelift é um ponto de quebra interessante na cena musical dos Estados Unidos, especialmente ligada ao Rock: ele nasceu entre o colapso do Hard Rock/GLam Metal dominante e o nascedouro do Rock Alternativo/Grunge que seria hegemônico no início da década de 90.

Mas o Alice in Chains é mais que uma banda "apenas" baseada no Rock Alternativo. O grupo adiciona elementos do Heavy Metal a sua musicalidade, diferenciando-os de maneira destacada dentro da cena oriunda de Seattle.

Boa parte disto se dá pela musicalidade desenvolvida pelo guitarrista Jerry Cantrell. Em Facelift, ele é o destaque maior, apresentando riffs e solos que oscilam entre o peso e a melodia com a mesma competência.

Layne Staley também é outro ponto alto do álbum, com atuações impressivas e vocais que se combinam de maneira exata com a massa sonora. A seção rítmica é boa, com Mike Starr fazendo do baixo um elemento diferencial na música do Alice in Chains.

Outro ponto que merece atenção do leitor são as letras. A visão mais cruel da sociedade é bem interessante.

O álbum é um pouco longo e a sua segunda metade deixa a desejar quando comparada à primeira. Esta, portanto, conta com alguns clássicos do grupo como as excelentes "We Die Young" e "Sea of Sorrow".

Outras faixas muito interessantes e empolgantes são a 'grooveada' "I Can't Remember" e a interessante "Love, Hate, Love".

Mas é impossível não se render a "Man in the Box", não apenas um dos maiores clássicos do grupo, bem como a canção que define o DNA do Alice in Chains. Espetacular.

Enfim, Facelift é um álbum obrigatório para fãs de Rock, apresentando uma banda muito talentosa e com muita vontade de vencer. Além disso, grande parte das músicas que compõem o disco são incrivelmente acima da média e a atuação de Jerry Cantrell é empolgante. Extremamente recomendado!

7 de maio de 2016

ERIC CLAPTON - ERIC CLAPTON (1970)


Eric Clapton é o álbum de estreia da carreira solo do músico britânico Eric Clapton. Seu lançamento oficial aconteceu em agosto de 1970 através dos selos Atco e Polydor. As gravações ocorreram entre novembro de 1969 e março de 1970 no Olympic Studios (Londres), Village Recorders (West Hollywood) e no Island Studios (também em Londres). A produção ficou a cargo do músico e produtor Delaney Bramlett.


O genial Eric Clapton volta ao Blog com sua estreia em carreira solo. Como de costume, vai-se abordar os fatos que se antecederam ao lançamento do álbum antes de descrevê-lo.

A história para o primeiro passo na carreira solo de Eric Clapton está intimamente ligada ao Blind Faith, seu final e consequencias, e será o ponto de partida deste post.

Após o fim do Blind Faith, em 1969, Clapton excursionou como músico de apoio juntamente a uma banda que havia atuado como abertura para o Blind Faith, o Delaney and Bonnie and Friends, de quem se tornou profundamente amigo.

O guitarrista também tocou em duas datas, como um membro da Plastic Ono Band, no outono do hemisfério norte de 1969, incluindo um show registrado no Toronto Rock and Roll Revival, em setembro daquele ano, lançado como o álbum Live Peace in Toronto 1969.

Eric Clapton
Em 30 de setembro de 1969, Clapton tocou guitarra no segundo single da carreira solo do ex-Beatles John Lennon, chamado "Cold Turkey".

Já em 15 de dezembro de 1969, Clapton fez um show com os membros dos Beatles John Lennon e George Harrison, entre outros, sob o nome da Plastic Ono Band, em um evento para angariar fundos para a UNICEF, em Londres.

Delaney Bramlett, do Delaney and Bonnie, encorajou Clapton a cantar e compor.

Durante o verão norte-americano de 1969, Clapton e Bramlett contribuíram para o projeto Music From Free Creek, o qual reuniu grandes nomes da música como Jeff Beck e Keith Emerson entre outros.

Clapton, apareceu denominado como "King Cool", por razões contratuais, tocou com Dr. John em três músicas, juntamente a Bramlett em duas faixas.

Usando a banda de apoio de Bramlett e um elenco estelar de músicos (incluindo Leon Russell e Stephen Stills), Clapton gravou seu primeiro álbum solo, durante dois breves hiatos na turnê.

Clapton

Intitulado apenas como Eric Clapton. Delaney Bramlett coescreveu seis das canções com Clapton, também produzindo o álbum e Bonnie Bramlett coescreveu a faixa "Let It Rain".

A capa do álbum mostra Clapton sentado em uma sala a ser decorada e na qual aparecem uma escada, uma cadeira e alguns tapetes a serem colocados. Eric Clapton segura um cigarro na mão direita e tem sua guitarra Fender Stratocaster Brownie como companhia.

Vamos às faixas:

SLUNKY

Uma divertida e animada composição abre os trabalhos do primeiro álbum solo de Eric Clapton. A presença de metais e um ritmo bem balanceado empolgam, com um piano se sobressaindo. Evidentemente, Clapton abusa de seu talento na guitarra. Rock, Blues e pitadas de Jazz em uma faixa bastante interessante.



BAD BOY

A sempre presente influência do Blues norte-americano na música de Eric Clapton está ainda mais realçada em "Bad Boy". O ritmo contém a dose certa de cadência, balanço e melodia. Se os vocais ficam um degrau abaixo do instrumental, tudo é compensado pela qualidade da composição e sua execução próxima da perfeição.

A letra demonstra melancolia:

I used to have a little girl, only 16 years old,
But her mom and dad put me way out, way out in the cold
I can't stay here no longer, my luck is running slow
Gotta keep on moving but I ain't got no place to go



LONESOME AND A LONG WAY FROM HOME

Nesta faixa, há uma maior presença da influência da música sulista dos Estados Unidos na sonoridade, marcadamente a Soul Music. Os elementos se complementam e o resultado final é empolgante. A guitarra de Clapton é um show à parte.

A letra é muito simples, em um pedido de ajuda:

I've never been so lonesome and long way from home,
Never been lonesome and long way,
Never been lonesome and long way from home



AFTER MIDNIGHT

Já em "After Midnight", o Blues Rock volta com bastante influência Soul. O resultado é um Rock leve, mas com melodia e balanço bastante empolgante. Os vocais de Clapton são eficientes e se casam bem com o instrumental. Faixa incrível!

A letra é divertida:

After midnight, we're gonna let it all hang out
After midnight, we're gonna chug-a-lug and shout
We're gonna stimulate some action;
We're gonna get some satisfaction
We're gonna find out what it is all about

Trata-se de uma versão para a canção originalmente composta pelo músico norte-americano JJ Cale, lançada pela primeira vez como lado B do single “Slow Motion”, de 1966.

Lançada como single, fez bastante sucesso nas rádios. Alcançou a 18ª posição da parada norte-americana desta natureza.


Foi a primeira de muitas versões que Eric Clapton fez para músicas de JJ Cale.

Quando Eric Clapton foi trabalhar com Delaney & Bonnie Bramlett, Delaney acabou introduzindo Clapton até a música de JJ Cale.

"After Midnight" também foi, de muitas maneiras, o catalisador para a própria carreira musical solo de JJ Cale. Cale não tinha conhecimento da gravação de Clapton até que a mesma se tornou um hit de rádio em 1970.

Desta maneira, o produtor Audie Ashworth incentivou JJ Cale a regravar a música e a colocá-la em seu álbum Naturally, de 1972.

A versão de Clapton foi base para muitas outras versões covers, de artistas como Chet Atkins, Jerry Garcia Band e Sérgio Mendes, por exemplo.



EASY NOW

Em "Easy Now", a influência maior é do Rock dos anos 60, com uma pegada praticamente acústica. A melodia e os vocais se complementam e tornam a composição ainda mais marcante. Mostrando que às vezes menos é mais, a canção é um dos grandes momentos do disco.

A letra é sensual:

Holding you, you holding me,
Everyone could see we were in ecstasy
Making love against the wall,
Feeling very small when we didn't need to be



BLUES POWER

A guitarra de Clapton está "infernal" em "Blues Power". O resultado não poderia ser outro senão um som envolvente e marcante. O baixo de Carl Radle e o piano de Leon Russell constroem uma base perfeita para o brilho do guitarrista. Genial!

A letra é apenas divertida:

I knew all the time but now I'm gonna let you know:
I'm gonna keep on rocking, no matter if it's fast or slow
Ain't gonna stop until the twenty-fifth hour,
'Cause now I'm living on blues power

Foi lançada como single, mas não obteve maior repercussão em termos de paradas de sucesso.



BOTTLE OF RED WINE

Um Blues de marca maior. Ritmo, cadência, melodia e sensibilidade se complementam em uma composição que envolve completamente o ouvinte. A presença constante da guitarra de Clapton, com direito a um solo incrível a partir de 1:30 de execução, é o toque final. Excepcional.

A letra fala de um vinho e ressaca:

Get up; get your man a bottle of red wine
Get up; get your man a bottle of red wine
I can't get up out of bed
With this crazy feeling in my head.
I said get up right now, oh oh
I said get up right now
Feel so bad this morning;
Got a terrible headache in my head



LOVIN' YOU LOVIN' ME

Nesta música, a pegada é mais suave e o andamento mais lento. Há uma forte presença da influência do Soul e do Blues, mas com um componente um tanto quanto mais intimista. O resultado final é satisfatório.

A letra fala de amor:

I am so in love for once in my life
In my dreams, I've known you many times before
And I so want you to be my dear wife,
As only you can satisfy me any more,
And only you can love me more



TOLD YOU FOR THE LAST TIME

Já "Told You for the Last Time" segue a mesma pegada da faixa que a precede, com um andamento mais vagaroso e melódico. O destaque é a forte presença do Baixo, ditando o ritmo, construindo uma base bem sólida para a canção.

A letra possui temática romântica:

I'm gonna turn on my love light,
Let it shine one more time,
Let it shine, shine, shine for the last time



DON'T KNOW WHY

"Don't Know Why" é uma balada com uma pegada bluesy e um naipe de metais que a tornam ainda mais interessante. A atuação de Clapton é sólida, tanto nos vocais, quanto na guitarra, a qual marca presença nos momentos essenciais.

A letra fala de um relacionamento:

You'll go on back to him,
He'll take you in
I know he's gonna love you,
But I still want you back again,
'Cause baby you're part of me,
It's deep inside of you,
When he's done all he can,
You'll come running to your other man, oh yeah



LET IT RAIN

A décima-primeira - e última - faixa de Eric Clapton é "Let It Rain". A canção de encerramento do álbum é também a de maior duração. A pegada é bem sessentista, com foco na melodia e no ritmo leve e envolvente. Fecha o trabalho de maneira agradável.

A letra possui temática romântica:

Now I know the secret;
There is nothing that I lack
If I give my love to you,
You'll surely give it back



“Let It Rain” foi lançada como single e acabou atingindo a 48ª posição da parada norte-americana desta natureza. Entre coletâneas e álbuns ao vivo, a canção pode ser encontrada em diversos lançamentos durante a carreira de Eric Clapton.



Considerações Finais

O sucesso de “After Midnight” ajudou a alavancar o álbum em termos das principais paradas de sucesso.

Ficou com a 14ª posição na principal parada britânica, conquistando a 13ª colocação em sua correspondente norte-americana.

Houve três mixagens para o álbum: uma feita por Delaney Bramlett, outra por Tom Dowd e uma terceira pelo próprio Clapton. A de Tom Dowd foi a que acabou sendo usada no lançamento original do disco.

As críticas sobre o trabalho, de parte da mídia especializada, são geralmente positivas. Stephen Thomas Erlewine, do AllMusic, dá ao álbum uma nota 4,5 de um máximo de 5 e o define: “soa mais descontraído e simples do que qualquer uma das gravações anteriores do guitarrista. Há ainda elementos do blues e rock & roll, mas eles estão escondidos sob camadas de gospel, R & B, country e pop. E o elemento pop é o mais forte de muitos elementos do álbum”.

Já o crítico Robert Christgau lhe deu um conceito B, não gostando da maneira insegura como Eric Clapton canta nas canções do álbum.

Após o lançamento do álbum, Clapton também trabalhou com grande parte da banda de Delaney e Bonnie para gravar o álbum All Things Must Pass, de George Harrison, em 1970.

Durante este período, Clapton gravou com vários outros artistas como Dr. John, Leon Russell, Plastic Ono Band, Billy Preston, Ringo Starr e Dave Mason. Outras gravações notáveis deste período incluem trabalhos de guitarra de Clapton em "Go Back Home" do primeiro álbum solo autointitulado de Stephen Stills.

Com a intenção de contrariar o culto que havia começado a se formar em torno dele, Clapton montou uma nova banda composta da antiga seção rítimica da banda Delaney and Bonnie.

Contava com Bobby Whitlock como tecladista e vocalista, Carl Radle como o baixista e o baterista Jim Gordon, com Eric Clapton na guitarra. Sua intenção era mostrar que ele não precisava preencher um papel de protagonista, funcionando bem como um membro de um conjunto.

Começava a surgir um de seus trabalhos mais aclamados, o Derek and the Dominos.

Estima-se que o álbum de estreia da carreira solo de Eric Clapton suplante a casa de 1 milhão de cópias vendidas.



Formação:
Eric Clapton - Guitarra, Vocal Principal
Delaney Bramlett - Guitarra, Vocais
Leon Russell - Piano
Bobby Whitlock - Órgãos, Vocais
John Simon - Piano
Carl Radle - Baixo
Jim Gordon - Bateria
Jim Price - Trombeta
Bobby Keys - Saxofone
Tex Johnson - Percussão
Bonnie Bramlett - Vocal
Rita Coolidge - Vocal
Sonny Curtis - Vocal
Jerry Allison - Vocal
Stephen Stills - Vocais, Guitarra

Faixas:
01. Slunky (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:34
02. Bad Boy (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:34
03. Lonesome and a Long Way from Home (Bramlett/Bramlett/Russell) - 3:29
04. After Midnight (Cale) - 2:51
05. Easy Now (Clapton) - 2:57
06. Blues Power (Clapton/Russell) - 3:09
07. Bottle of Red Wine (Clapton) - 3:06
08. Lovin' You Lovin' Me (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:19
09. Told You For the Last Time (Bramlett/Bramlett/Cropper) - 2:30
10. Don't Know Why (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:10
11. Let It Rain (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 5:02

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/eric-clapton/

Opinião do Blog:
"Clapton is God". A frase que foi pichada em um muro de Londres e que assustou Eric Clapton é, em última análise, uma síntese do sentimento de seus fãs para a qualidade do trabalho que o guitarrista produziu ao longo de sua carreira.

Eric Clapton já apareceu no Blog anteriormente com seu trabalho no Cream e no Blind Faith, ambos aclamados por crítica e público, e que contribuíram para reforçar a grandeza do mito em torno do guitarrista.

Sua estreia em carreira-solo, acontecida entre idas e vindas com as bandas das quais tomou parte, é um marco não só em sua carreira, mas também na música em geral. Clapton mostrou um trabalho diversificado, com uma gama de influência de diferentes estilos musicais, mas que possuem uma origem em comum: a música sulista dos Estados Unidos.

Acompanhado por músicos de qualidade indiscutível, o resultado final não poderia ser outro: o álbum é um verdadeiro deleite para os amantes da boa música.

A base é o Rock com uma incontestável pegada Bluesy, a qual, constantemente, é a base musical das canções. Tudo é feito de forma com que o guitarrista brilhe, mas sem o irritante virtuosismo técnico tão comum em álbuns de carreira-solo de instrumentistas gabaritados como Clapton.

A nítida preocupação presente no disco é apenas que as músicas fossem boas. Todas as faixas são construídas de maneira a engrandecer a qualidade das composições.

Clapton, evidentemente, conforme dito, brilha na guitarra. É também perceptível que ele ainda não possuía a segurança total como vocalista, mas, para o Blog, o resultado final é mais que satisfatório.

Claro que o maior sucesso foi mesmo a versão, excelente, para "After Midnight". Mas o álbum é essencialmente autoral, com o guitarrista assinando 8 das 11 faixas como compositor. E há ótimas músicas no disco.

"Bad Boy" tem uma pegada contagiante e envolvente. "Easy Now" mostra um lado mais acústico e introspectivo, mas com resultado final fascinante. "Blues Power" tem um nome perfeito, com força e intensidade marcantes.

Mas a preferida do Blog é a espetacular "Bottle of Red Wine", uma composição maiúscula com peso, feeling e categoria das grandes canções da história da música,

Enfim, o álbum inicial da carreira-solo de Eric Clapton é um álbum de grande qualidade e que foi o pontapé inicial de uma longa e mais que bem sucedida carreira-solo. Tendo como base o Blues Rock, mas, simultaneamente, acompanhado por um apanhado de influências musicais diversificadas, o disco apresenta uma gama bem variada de melodias. Para um Blog mais voltado ao Hard Rock e Heavy Metal, pode ser um trabalho que não agrade os fãs mais radicais dos gêneros, mas é um álbum incrível para os amantes da boa música. Essencial!