Eric
Clapton é o álbum de estreia da carreira solo do músico britânico
Eric Clapton. Seu lançamento oficial aconteceu em agosto de 1970
através dos selos Atco e Polydor. As gravações ocorreram entre
novembro de 1969 e março de 1970 no Olympic Studios (Londres),
Village Recorders (West Hollywood) e no Island Studios (também em
Londres). A produção ficou a cargo do músico e produtor Delaney
Bramlett.
O
genial Eric Clapton volta ao Blog com sua estreia em carreira solo.
Como de costume, vai-se abordar os fatos que se antecederam ao lançamento
do álbum antes de descrevê-lo.
A
história para o primeiro passo na carreira solo de Eric Clapton está
intimamente ligada ao Blind Faith, seu final e consequencias,
e será o ponto de partida deste post.
Após
o fim do Blind Faith, em 1969, Clapton excursionou como músico de
apoio juntamente a uma banda que havia atuado como abertura para o
Blind Faith, o Delaney and Bonnie and Friends, de quem se tornou
profundamente amigo.
O
guitarrista também tocou em duas datas, como um membro da Plastic
Ono Band, no outono do hemisfério norte de 1969, incluindo um
show registrado no Toronto Rock and Roll Revival, em setembro daquele
ano, lançado como o álbum Live Peace in Toronto 1969.
Eric Clapton |
Em
30 de setembro de 1969, Clapton tocou guitarra no segundo single da
carreira solo do ex-Beatles John Lennon, chamado "Cold Turkey".
Já
em 15 de dezembro de 1969, Clapton fez um show com os membros dos
Beatles John Lennon e George Harrison, entre outros, sob o nome da
Plastic Ono Band, em um evento para angariar fundos para a UNICEF, em
Londres.
Delaney
Bramlett, do Delaney and Bonnie, encorajou Clapton a cantar e compor.
Durante
o verão norte-americano de 1969, Clapton e Bramlett contribuíram
para o projeto Music From Free Creek, o qual reuniu grandes
nomes da música como Jeff Beck e Keith Emerson entre outros.
Clapton,
apareceu denominado como "King Cool", por razões
contratuais, tocou com Dr. John em três músicas, juntamente a
Bramlett em duas faixas.
Usando a banda de apoio de Bramlett e um elenco estelar de músicos (incluindo
Leon Russell e Stephen Stills), Clapton gravou seu primeiro álbum
solo, durante dois breves hiatos na turnê.
Clapton |
Intitulado
apenas como Eric Clapton. Delaney Bramlett coescreveu seis das
canções com Clapton, também produzindo o álbum e Bonnie Bramlett
coescreveu a faixa "Let It Rain".
A
capa do álbum mostra Clapton sentado em uma sala a ser decorada e na
qual aparecem uma escada, uma cadeira e alguns tapetes a serem
colocados. Eric Clapton segura um cigarro na mão direita e tem sua
guitarra Fender Stratocaster Brownie como companhia.
Vamos
às faixas:
SLUNKY
Uma divertida e animada composição abre os trabalhos do primeiro álbum solo de Eric Clapton. A presença de metais e um ritmo bem balanceado empolgam, com um piano se sobressaindo. Evidentemente, Clapton abusa de seu talento na guitarra. Rock, Blues e pitadas de Jazz em uma faixa bastante interessante.
BAD
BOY
A sempre presente influência do Blues norte-americano na música de Eric Clapton está ainda mais realçada em "Bad Boy". O ritmo contém a dose certa de cadência, balanço e melodia. Se os vocais ficam um degrau abaixo do instrumental, tudo é compensado pela qualidade da composição e sua execução próxima da perfeição.
A
letra demonstra melancolia:
I
used to have a little girl, only 16 years old,
But her mom and dad put me way out, way out in the cold
I can't stay here no longer, my luck is running slow
Gotta keep on moving but I ain't got no place to go
But her mom and dad put me way out, way out in the cold
I can't stay here no longer, my luck is running slow
Gotta keep on moving but I ain't got no place to go
LONESOME
AND A LONG WAY FROM HOME
Nesta faixa, há uma maior presença da influência da música sulista dos Estados Unidos na sonoridade, marcadamente a Soul Music. Os elementos se complementam e o resultado final é empolgante. A guitarra de Clapton é um show à parte.
A
letra é muito simples, em um pedido de ajuda:
I've
never been so lonesome and long way from home,
Never been lonesome and long way,
Never been lonesome and long way from home
Never been lonesome and long way,
Never been lonesome and long way from home
AFTER
MIDNIGHT
Já em "After Midnight", o Blues Rock volta com bastante influência Soul. O resultado é um Rock leve, mas com melodia e balanço bastante empolgante. Os vocais de Clapton são eficientes e se casam bem com o instrumental. Faixa incrível!
A
letra é divertida:
After
midnight, we're gonna let it all hang out
After midnight, we're gonna chug-a-lug and shout
We're gonna stimulate some action;
We're gonna get some satisfaction
We're gonna find out what it is all about
After midnight, we're gonna chug-a-lug and shout
We're gonna stimulate some action;
We're gonna get some satisfaction
We're gonna find out what it is all about
Trata-se
de uma versão para a canção originalmente composta pelo músico
norte-americano JJ Cale, lançada pela primeira vez como lado B do
single “Slow Motion”, de 1966.
Lançada
como single, fez bastante sucesso nas rádios. Alcançou a 18ª
posição da parada norte-americana desta natureza.
Foi
a primeira de muitas versões que Eric Clapton fez para músicas de
JJ Cale.
Quando
Eric Clapton foi trabalhar com Delaney & Bonnie Bramlett, Delaney
acabou introduzindo Clapton até a música de JJ Cale.
"After
Midnight" também foi, de muitas maneiras, o catalisador para a
própria carreira musical solo de JJ Cale. Cale não tinha
conhecimento da gravação de Clapton até que a mesma se tornou um
hit de rádio em 1970.
Desta
maneira, o produtor Audie Ashworth incentivou JJ Cale a regravar a
música e a colocá-la em seu álbum Naturally, de 1972.
A
versão de Clapton foi base para muitas outras versões covers, de
artistas como Chet Atkins, Jerry Garcia Band e Sérgio Mendes, por
exemplo.
EASY
NOW
Em "Easy Now", a influência maior é do Rock dos anos 60, com uma pegada praticamente acústica. A melodia e os vocais se complementam e tornam a composição ainda mais marcante. Mostrando que às vezes menos é mais, a canção é um dos grandes momentos do disco.
A
letra é sensual:
Holding
you, you holding me,
Everyone could see we were in ecstasy
Making love against the wall,
Feeling very small when we didn't need to be
Everyone could see we were in ecstasy
Making love against the wall,
Feeling very small when we didn't need to be
BLUES
POWER
A guitarra de Clapton está "infernal" em "Blues Power". O resultado não poderia ser outro senão um som envolvente e marcante. O baixo de Carl Radle e o piano de Leon Russell constroem uma base perfeita para o brilho do guitarrista. Genial!
A
letra é apenas divertida:
I
knew all the time but now I'm gonna let you know:
I'm
gonna keep on rocking, no matter if it's fast or slow
Ain't
gonna stop until the twenty-fifth hour,
'Cause
now I'm living on blues power
Foi
lançada como single, mas não obteve maior repercussão em termos de
paradas de sucesso.
BOTTLE
OF RED WINE
Um Blues de marca maior. Ritmo, cadência, melodia e sensibilidade se complementam em uma composição que envolve completamente o ouvinte. A presença constante da guitarra de Clapton, com direito a um solo incrível a partir de 1:30 de execução, é o toque final. Excepcional.
A
letra fala de um vinho e ressaca:
Get
up; get your man a bottle of red wine
Get up; get your man a bottle of red wine
I can't get up out of bed
With this crazy feeling in my head.
I said get up right now, oh oh
I said get up right now
Feel so bad this morning;
Get up; get your man a bottle of red wine
I can't get up out of bed
With this crazy feeling in my head.
I said get up right now, oh oh
I said get up right now
Feel so bad this morning;
Got
a terrible headache in my head
LOVIN'
YOU LOVIN' ME
Nesta música, a pegada é mais suave e o andamento mais lento. Há uma forte presença da influência do Soul e do Blues, mas com um componente um tanto quanto mais intimista. O resultado final é satisfatório.
A
letra fala de amor:
I am
so in love for once in my life
In my dreams, I've known you many times before
And I so want you to be my dear wife,
As only you can satisfy me any more,
And only you can love me more
In my dreams, I've known you many times before
And I so want you to be my dear wife,
As only you can satisfy me any more,
And only you can love me more
TOLD
YOU FOR THE LAST TIME
Já "Told You for the Last Time" segue a mesma pegada da faixa que a precede, com um andamento mais vagaroso e melódico. O destaque é a forte presença do Baixo, ditando o ritmo, construindo uma base bem sólida para a canção.
A
letra possui temática romântica:
I'm
gonna turn on my love light,
Let it shine one more time,
Let it shine, shine, shine for the last time
Let it shine one more time,
Let it shine, shine, shine for the last time
DON'T
KNOW WHY
"Don't Know Why" é uma balada com uma pegada bluesy e um naipe de metais que a tornam ainda mais interessante. A atuação de Clapton é sólida, tanto nos vocais, quanto na guitarra, a qual marca presença nos momentos essenciais.
A
letra fala de um relacionamento:
You'll
go on back to him,
He'll
take you in
I know he's gonna love you,
I know he's gonna love you,
But
I still want you back again,
'Cause baby you're part of me,
'Cause baby you're part of me,
It's
deep inside of you,
When he's done all he can,
When he's done all he can,
You'll
come running to your other man, oh yeah
LET
IT RAIN
A décima-primeira - e última - faixa de Eric Clapton é "Let It Rain". A canção de encerramento do álbum é também a de maior duração. A pegada é bem sessentista, com foco na melodia e no ritmo leve e envolvente. Fecha o trabalho de maneira agradável.
A
letra possui temática romântica:
Now
I know the secret;
There
is nothing that I lack
If
I give my love to you,
You'll
surely give it back
“Let
It Rain” foi lançada como single e acabou atingindo a 48ª posição
da parada norte-americana desta natureza. Entre coletâneas e álbuns
ao vivo, a canção pode ser encontrada em diversos lançamentos
durante a carreira de Eric Clapton.
Considerações
Finais
O
sucesso de “After Midnight” ajudou a alavancar o álbum em termos
das principais paradas de sucesso.
Ficou
com a 14ª posição na principal parada britânica, conquistando a
13ª colocação em sua correspondente norte-americana.
Houve
três mixagens para o álbum: uma feita por Delaney Bramlett, outra
por Tom Dowd e uma terceira pelo próprio Clapton. A de Tom Dowd foi
a que acabou sendo usada no lançamento original do disco.
As
críticas sobre o trabalho, de parte da mídia especializada, são
geralmente positivas. Stephen Thomas Erlewine, do AllMusic, dá ao
álbum uma nota 4,5 de um máximo de 5 e o define: “soa mais
descontraído e simples do que qualquer uma das gravações
anteriores do guitarrista. Há ainda elementos do blues e rock &
roll, mas eles estão escondidos sob camadas de gospel, R & B,
country e pop. E o elemento pop é o mais forte de muitos elementos
do álbum”.
Já
o crítico Robert Christgau lhe deu um conceito B, não gostando da
maneira insegura como Eric Clapton canta nas canções do álbum.
Após
o lançamento do álbum, Clapton também trabalhou com grande parte
da banda de Delaney e Bonnie para gravar o álbum All Things Must
Pass, de George Harrison, em 1970.
Durante
este período, Clapton gravou com vários outros artistas como Dr.
John, Leon Russell, Plastic Ono Band, Billy Preston, Ringo Starr e
Dave Mason. Outras gravações notáveis deste período incluem
trabalhos de guitarra de Clapton em "Go Back Home" do
primeiro álbum solo autointitulado de Stephen Stills.
Com
a intenção de contrariar o culto que havia começado a se formar em
torno dele, Clapton montou uma nova banda composta da antiga seção
rítimica da banda Delaney and Bonnie.
Contava
com Bobby Whitlock como tecladista e vocalista, Carl Radle como o
baixista e o baterista Jim Gordon, com Eric Clapton na guitarra. Sua
intenção era mostrar que ele não precisava preencher um papel de
protagonista, funcionando bem como um membro de um conjunto.
Começava
a surgir um de seus trabalhos mais aclamados, o Derek and the
Dominos.
Estima-se
que o álbum de estreia da carreira solo de Eric Clapton suplante a
casa de 1 milhão de cópias vendidas.
Formação:
Eric
Clapton - Guitarra, Vocal Principal
Delaney
Bramlett - Guitarra, Vocais
Leon
Russell - Piano
Bobby
Whitlock - Órgãos, Vocais
John
Simon - Piano
Carl
Radle - Baixo
Jim
Gordon - Bateria
Jim
Price - Trombeta
Bobby
Keys - Saxofone
Tex
Johnson - Percussão
Bonnie
Bramlett - Vocal
Rita
Coolidge - Vocal
Sonny
Curtis - Vocal
Jerry
Allison - Vocal
Stephen
Stills - Vocais, Guitarra
Faixas:
01.
Slunky (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:34
02.
Bad Boy (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:34
03.
Lonesome and a Long Way from Home (Bramlett/Bramlett/Russell) - 3:29
04.
After Midnight (Cale) - 2:51
05.
Easy Now (Clapton) - 2:57
06.
Blues Power (Clapton/Russell) - 3:09
07.
Bottle of Red Wine (Clapton) - 3:06
08.
Lovin' You Lovin' Me (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:19
09.
Told You For the Last Time (Bramlett/Bramlett/Cropper) - 2:30
10.
Don't Know Why (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 3:10
11.
Let It Rain (Bramlett/Bramlett/Clapton) - 5:02
Letras:
Para
o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.letras.mus.br/eric-clapton/
"Clapton is God". A frase que foi pichada em um muro de Londres e que assustou Eric Clapton é, em última análise, uma síntese do sentimento de seus fãs para a qualidade do trabalho que o guitarrista produziu ao longo de sua carreira.
Eric Clapton já apareceu no Blog anteriormente com seu trabalho no Cream e no Blind Faith, ambos aclamados por crítica e público, e que contribuíram para reforçar a grandeza do mito em torno do guitarrista.
Sua estreia em carreira-solo, acontecida entre idas e vindas com as bandas das quais tomou parte, é um marco não só em sua carreira, mas também na música em geral. Clapton mostrou um trabalho diversificado, com uma gama de influência de diferentes estilos musicais, mas que possuem uma origem em comum: a música sulista dos Estados Unidos.
Acompanhado por músicos de qualidade indiscutível, o resultado final não poderia ser outro: o álbum é um verdadeiro deleite para os amantes da boa música.
A base é o Rock com uma incontestável pegada Bluesy, a qual, constantemente, é a base musical das canções. Tudo é feito de forma com que o guitarrista brilhe, mas sem o irritante virtuosismo técnico tão comum em álbuns de carreira-solo de instrumentistas gabaritados como Clapton.
A nítida preocupação presente no disco é apenas que as músicas fossem boas. Todas as faixas são construídas de maneira a engrandecer a qualidade das composições.
Clapton, evidentemente, conforme dito, brilha na guitarra. É também perceptível que ele ainda não possuía a segurança total como vocalista, mas, para o Blog, o resultado final é mais que satisfatório.
Claro que o maior sucesso foi mesmo a versão, excelente, para "After Midnight". Mas o álbum é essencialmente autoral, com o guitarrista assinando 8 das 11 faixas como compositor. E há ótimas músicas no disco.
"Bad Boy" tem uma pegada contagiante e envolvente. "Easy Now" mostra um lado mais acústico e introspectivo, mas com resultado final fascinante. "Blues Power" tem um nome perfeito, com força e intensidade marcantes.
Mas a preferida do Blog é a espetacular "Bottle of Red Wine", uma composição maiúscula com peso, feeling e categoria das grandes canções da história da música,
Enfim, o álbum inicial da carreira-solo de Eric Clapton é um álbum de grande qualidade e que foi o pontapé inicial de uma longa e mais que bem sucedida carreira-solo. Tendo como base o Blues Rock, mas, simultaneamente, acompanhado por um apanhado de influências musicais diversificadas, o disco apresenta uma gama bem variada de melodias. Para um Blog mais voltado ao Hard Rock e Heavy Metal, pode ser um trabalho que não agrade os fãs mais radicais dos gêneros, mas é um álbum incrível para os amantes da boa música. Essencial!
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