12 de janeiro de 2018

SANTANA - SANTANA (1969)


Santana é o álbum de estreia da banda norte-americana de mesmo nome, ou seja, Santana. Seu lançamento oficial aconteceu em agosto de 1969, através do selo Columbia Records. As gravações ocorreram em maio daquele mesmo ano, no estúdio Pacific Recording, em San Mateo, na Califórnia, nos Estados Unidos. A produção ficou por conta de Brent Dangerfield e da própria banda.

Ano novo e o RAC já começa com uma estreia de peso: o Santana, grupo liderado pelo lendário guitarrista mexicano Carlos Santana. Como nossa tradição, vai-se abordar as origens do grupo antes de se focar no álbum propriamente dito.


Carlos Santana

Em 20 de julho de 1947, nascia Carlos Santana, na cidade de Autlán de Navarro, em Jalisco, no Mexico.

Carlos aprendeu a tocar violão aos cinco e guitarra aos oito anos de idade, sob a tutela de seu pai, um músico mariachi. Seu irmão mais novo, Jorge Santana, também se tornaria um guitarrista profissional.

O jovem Carlos foi fortemente influenciado por Ritchie Valens, no momento em que havia poucos mexicanos no rock americano e na música pop. (Nota do Blog: Richard Steven Valenzuela, conhecido como Ritchie Valens, era um cantor, compositor e guitarrista americano. Um pioneiro do rock and roll e um antepassado do movimento Chicano Rock, a carreira de gravação de Valens durou apenas oito meses, terminando abruptamente quando ele morreu em um acidente de avião, aos 17 anos, em 1959).

A família se mudou de Autlán de Navarro para Tijuana, a cidade na fronteira do México com a Califórnia, e depois para São Francisco, esta, nos Estados Unidos.

Carlos ficou em Tijuana, mas depois se juntou a sua família em São Francisco. Durante seus primeiros anos, de 10 a 12 anos, ele foi sexualmente molestado por um homem americano que o trouxe através da fronteira.

Carlos morou no Mission District e eventualmente se formou na Escola Média James Lick, e, em 1965, na Mission High School. Carlos foi aceito na Universidade Estadual da Califórnia, na Northridge e na Humboldt State University, mas optou por não frequentar a faculdade. (Nota do Blog: The Mission District, ou simplesmente ‘The Mission’, é um dos bairros mais antigos de São Francisco).

Início da carreira de Carlos

Santana foi influenciado por artistas populares da década de 1950, como B.B. King, T-Bone Walker e John Lee Hooker.

Pouco depois que começou a tocar violão, ele se juntou a bandas locais ao longo da ‘Tijuana Strip’, onde pode começar a adicionar seu próprio toque exclusivo ao Rock ‘n’ Roll dos anos 50.

Carlos também foi apresentado a uma variedade de novas influências musicais, incluindo o jazz e a música folk, além de testemunhar presencialmente o crescente movimento hippie, este, especialmente centrado em San Francisco na década de 1960.

Depois de passar vários anos trabalhando como lavador de louça em um restaurante e buscando mudanças extras, Santana decidiu se tornar um músico em tempo integral.

Carlos Santana

Em 1966, Carlos ganhou destaque devido a uma série de eventos acidentais, todos acontecendo no mesmo dia. Santana era um espectador frequente no Fillmore West, de Bill Graham. Durante um show matinee de domingo, Paul Butterfield estava programado para se apresentar lá, mas não conseguiu fazê-lo como resultado de estar bêbado. (Nota do Blog: Fillmore West foi um histórico teatro de música rock and roll em San Francisco, Califórnia, que se tornou famoso sob a direção do promotor de shows Bill Graham, entre 1968 e 1971).

Assim, Graham reuniu um conjunto improvisado de músicos que ele conheceu principalmente através de suas conexões com a banda de Butterfield, com o Grateful Dead e o Jefferson Airplane, mas ele ainda não havia conseguido todos os guitarristas.

O empresário de Santana, Stan Marcum, sugeriu imediatamente a Graham que Carlos se juntasse à banda improvisada e ele concordou. Durante a jam session, a guitarra de Santana e sua forma de fazer os solos ganharam a noção tanto da audiência quanto de Graham.

Formação da banda Santana

Durante o mesmo ano, Santana formou a Santana Blues Band, com outros músicos de rua, incluindo David Brown (baixo), Marcus Malone (percussão) e Gregg Rolie (vocalista, Hammond Organ B3).

A primeira formação mais fixa da banda contava com Carlos Santana (guitarra), Marcus Malone (percussão), Rod Harper (bateria), Gus Rodriguez (baixo) e Gregg Rolie (vocal principal, Hammond organ B3).

A primeira audição do grupo com esta formação foi no Avalon Ballroom, no final do verão (nos EUA) de 1967. Após a audição, Chet Helms (o promotor do evento), em concerto com o Family Dog, disse à banda que nunca conquistariam sucesso na cena musical de San Francisco com a fusão latina e sugeriu que Carlos mantivesse seu trabalho lavando pratos no Drive-In do Tique Tock, na 3rd Street.

No momento em que o Santana começou a trabalhar em seu álbum de estreia, Santana, Malone já havia deixado a banda, pois havia sido condenado por homicídio culposo e começado a cumprir sua sentença na prisão estadual de San Quentin, no Condado de Marin.

Antes de Woodstock, Bill Graham foi convidado a ajudar na logística e no planejamento. Bill concordou em prestar sua ajuda apenas se uma nova banda que ele estava promovendo, desconhecida, chamada Santana, fosse adicionada ao festival.

Gregg Rolie

Dias depois, o Santana foi anunciado como um dos artistas no Woodstock Festival.

O álbum Santana

Mais de metade do álbum é composto de música instrumental, gravada pelo que era originalmente uma banda de improvisação, de forma puramente livre.

Por sugestão do empresário Bill Graham, a banda escreveu músicas mais convencionais, com a finalidade de causar maior impacto, mas conseguindo reter a essência do improviso na música.

O álbum foi destinado para ser um grande lançamento, dando um reforço à performance seminal da banda no Festival Woodstock, no início de agosto. O disco foi mixado e lançado nos formatos estéreo e quadrafônico.

A imagem icônica da capa do disco foi obra do artista Lee Conklin.

Vamos às faixas:

WAITING

Logo de cara, em "Waiting", o ouvinte é jogado em uma experiência a qual contempla a musicalidade latina. O trabalho de percussão dos músicos Michael Carabello e José 'Chepito' Areas é evidente em toda a canção. Mas há espaço para os teclados de Gregg Rolie e, claro, para o talento de Carlos Santana na guitarra.



EVIL WAYS

Já em "Evil Ways", o grupo continua sua abordagem musical latina, criando uma exótica interpretação para a faixa. A percussão continua seu belo trabalho, enquanto os vocais eficientes de Rollie contribuem para o sucesso da música, mas é no teclado sua decisiva participação. 

A letra fala sobre mudança:

When I come home, baby
My house is dark and my pots are cold
You're hanging around, baby
With Jean and Joan and a who knows who
I'm getting tired of waiting and fooling around
I'll find somebody, who won't make me feel like a clown
This can't go on
Lord knows you got to change



“Evil Ways” é uma versão da canção originalmente composta por Clarence ‘Sonny’ Henry e originalmente gravada pelo percussionista de jazz Willie Bobo em seu álbum de 1967, Bobo Motion.

Além do lançamento do Santana, em 1969, “Evil Ways” também foi gravada pela banda The Village Callers.

Lançada como single, atingiu a 9ª colocação na principal parada norte-americana desta natureza.

Outras versões famosas para a canção foram feitas por Jackie Mittoo, Johnny Mathis e Type O Negative.



SHADES OF TIME

"Shades of Time" possui uma melodia bastante maliciosa e, ao mesmo tempo, envolvente. A guitarra de Santana aparece mais efusivamente, com uma abordagem indomável e saborosa. É, sem dúvidas, o grande destaque desta composição.

A letra é divertida:

I'll try to help if I can
So don't hide your head in the sand, oh no
Why are you feeling so low
You're wondering where will you go



SAVOR

Há um inegável espectro de improvisação e excentricidade em "Savor", mas com uma competência técnica invejável. A parceria entre o teclado de Rollie e a guitarra de Santana é ótima, amparados pelo baixo de Brown e uma impecável presença dos percussionistas.



JINGO

"Jingo" mantém a pegada do disco, com a inafastável latinidade característica do grupo. A guitarra de Santana está ainda mais pesada e é o grande destaque desta canção, com solos que exploram a técnica e o feeling de Carlos.



Lançada como single, atingiu a 56ª posição da principal parada norte-americana desta natureza.

Trata-se de um cover para a música “Jin-go-lo-ba”, originalmente composta pelo instrumentista nigeriano Babatunde Olatunji e lançada pela primeira vez em seu álbum Drums of Passion, em 1959.



PERSUASION

"Persuasion" possui uma estrutura que remete ao Blues Rock, mas sem perder a pegada latina do conjunto. Carlos Santana novamente domina a composição com uma guitarra bem pesada e ótimos solos.

A letra é sobre uma garota:

You got persuasion
I can't help myself
You got persuasion
I can't help myself
Something about you baby
Keeps me from goin' to somebody else



TREAT

"Treat" é daqueles momentos excepcionais os quais a música pode propiciar. Com Gregg Rollie e Carlos Santana brilhando intensamente em seus instrumentos, a faixa conta com uma formidável base do baixista David Brown. Jazz com influência latina, sensacional!



YOU JUST DON’T CARE

"You Just Don't Care" bebe fartamente nas fontes do Blues e do Rock, permitindo uma atuação 'furiosa' da guitarra de Carlos Santana, esbanjando feeling e agressividade. Também há um notável trabalho do baterista Michael Shrieve em outro momento notável do álbum. 

A letra mostra uma relação conturbada:

I told you
You'd have to leave
And you listened with a cryin stare.
Now you've got the nerve
To tell me baby
Yeah, Yeah, a no, no
You don't care
You just don't care baby.
Sun
Turns back at the sight of you
And your evil only clouds the air



SOUL SACRIFICE

A nona - e última - faixa de Santana é "Soul Sacrifice". O álbum Santana se encerra com uma monumental composição apenas instrumental e que se tornou um verdadeiro clássico da carreira do guitarrista. A canção é uma verdadeira 'Jam Session', a qual transborda inspiração e química entre seus músicos. Fecha o disco com chave-de-ouro!

“Soul Sacrifice” foi lançada como single, já em 1970, mas não repercutiu em termos de paradas de sucesso desta natureza.

Identificada como um dos destaques do festival e do documentário sobre o festival de Woodstock, em 1969, “Soul Sacrifice” apresenta extensas passagens da guitarra de Carlos Santana e uma seção de percussão, com um solo do baterista Michael Shrieve.

Está incluída em vários álbuns ao vivo e compilação. “Soul Sacrifice” foi uma das primeiras composições do Santana. Carlos Santana lembrou que o grupo a escreveu quando o baixista David Brown se juntou a eles.

Antes do lançamento em seu álbum de estreia, Santana, então uma banda praticamente desconhecida, tocou “Soul Sacrifice” como seu número de encerramento em Woodstock.

“Eles foram o único grupo a tocar sem um disco, era incomparável. O Santana passou de Woodstock para estar sob demanda global quase da noite para o dia”, afirma o livro Voices of Latin Rock: People and Events that Created this Sound.

Em várias entrevistas, Santana lembrou-se de experimentar os efeitos de drogas psicodélicas durante o show, mas conseguiu se manter até o final. “No momento em que chegamos a “Soul Sacrifice”, eu voltei de uma jornada bastante intensa. Em última análise, eu sentia que nós entramos em muitos corações em Woodstock”.

O álbum da trilha sonora de Woodstock chegou ao número um na parada de álbuns da Billboard. Vários artistas registraram covers da faixa, incluindo Mother Earth, Os Paralamas do Sucesso e Transatlantic.

A música também está no filme de David Fincher, Zodiac.



Considerações Finais

Catapultado pela atuação explosiva no festival de Woostock, Santana foi um álbum que fez grande sucesso comercial.

O disco atingiu a excepcional 4ª posição da principal parada norte-americana de discos, conquistando a 26ª colocação na sua correspondente britânica. Ainda ficou com os 5º lugares nas paradas de França e Nova Zelândia e com o 14º na parada australiana, respectivamente.

Em uma revisão contemporânea para a revista norte-americana Rolling Stone, Langdon Winner criticou Santana como “uma obra-prima de técnicas ocas” e “um prazer bizarro de velocidade - música rápida, pungente e frenética sem conteúdo real”. Ele comparou o efeito da música com o da metedrina, que “dá um alto sem significado”, afirmando que Rolie e Santana tocam repetidamente e sem imaginação, em meio a uma monotonia de ritmos incompetentes e letras inconsequentes.

O crítico do jornal norte-americano The Village Voice, Robert Christgau, compartilhou o sentimento de Winner, em suma, “muito barulho”.

Em uma revisão retrospectiva, a própria revista Rolling Stone foi mais entusiasmada, chamando o álbum Santana de “emocionante... com ambição, alma e convicção absoluta - cada momento tocado diretamente do coração”.

Em 2003, a mesma revista classificou Santana na 150ª posição de sua lista the 500 greatest albums of all time. Colin Larkin o considerou um excelente exemplo de rock latino em sua Encyclopedia of Popular Music, de 2011.

Rovi Staff, do site AllMusic, em retrospectiva, dá ao álbum uma nota 4,5 de um máximo de 5 possível, afirmando: “No seu álbum de estreia, estrondoso e inovador, o grupo mistura percussão latina com rotas de rock. O exclusivo estilo da guitarra de Santana, alternadamente picante e líquido, junto aos múltiplos percussionistas com o foco sônico”.

Após o lançamento do álbum, o grupo saiu em turnê para promoção do LP ao mesmo tempo em que começou a trabalhar no segundo disco, Abraxas, que sairia em 1970.

Santana supera a casa de 2 milhões de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos.



Formação:
Gregg Rolie - Vocal, Hammond, Piano
Carlos Santana - Guitarra, Backing Vocal
David Brown - Baixo
Michael Shrieve - Bateria
Michael Carabello - Congas, Percussão
José "Chepito" Areas - Timbales, Congas, Percussão

Faixas:
01. Waiting (Santana) - 4:03
02. Evil Ways (Henry) - 3:54
03. Shades of Time (Santana/Rolie) - 3:14
04. Savor (Santana) - 2:47
05. Jingo (Olatunji) - 4:21
06. Persuasion (Santana) - 2:33
07. Treat (Santana) - 4:43
08. You Just Don't Care (Santana) - 4:34
09. Soul Sacrifice (Santana/Rolie/Brown/Malone) - 6:37

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/santana/

Opinião do Blog:
O RAC já começa 2018 com uma estreia marcante em nossas páginas: a banda Santana, a qual deu vazão a um dos mais criativos guitarristas da música contemporânea, o ótimo Carlos Santana.

Santana fez grande sucesso comercial e de crítica, especialmente na virada dos anos 2000, quando sua música teve um inegável apelo Pop, contando com participações de diversas e diferentes estrelas em seus discos. Mas o site prefere o momento inicial de sua trajetória, com a banda a qual carregava seu nome.

Cercado por músicos altamente competentes, como o ótimo tecladista Gregg Rolie, o qual faria parte do Journey posteriormente, Carlos Santana construiu uma banda criativa, inventiva e extremamente talentosa.

Em seu álbum de estreia, o grupo carrega sua principal característica dos tempos em que havia começado no anonimato: um inegável caráter de improvisação, ou seja, em várias de suas canções, Santana apresenta um doce sabor de 'jam', de experimentação.

Outra formidável característica do disco é que, mesmo o guitarrista Carlos Santana sendo o maior destaque individual do conjunto, este não é um álbum de guitarra. Longe disso: os momentos em que Carlos se sobressai são orgânicos com a musicalidade, ou, em outras palavras, contribuem para que a música se torne algo maior e não mera amostra de virtuosismo.

Mais um aspecto elogiável da obra é seu caráter exótico, impressivo e incontestavelmente personalístico: a influência da musicalidade latina. Esta permanece presente em todas as faixas, mas é simbioticamente fundida com outras sonoridades, como o Blues e o Jazz, tudo, com uma inegável amálgama Rock.

"Savor" carrega este aspecto de improviso, mas com inegáveis intensidade e liberdade. "Shades of Time" conta com a guitarra de Carlos mais agressiva enquanto "You Just Don't Care" é um Blues Rock magnífico.

Mas as preferidas do RAC são duas composições instrumentais: "Treat" faz uma fusão incrível de Jazz e musicalidade latina enquanto a "Soul Sacrifice" faltam palavras para descrever o quanto é uma Jam Session extraordinária.

Enfim, Santana é um álbum único, inovador e cheio de identidade própria. Apresenta ao mundo uma banda incrível, Santana, um verdadeiro diamante em estado bruto, mas que já apresentava muitos sinais de seu brilhantismo. Este diamante seria lapidado nos geniais trabalhos posteriores, mas, mesmo assim, Santana permanece como um disco obrigatório e essencial.

2 comentários:

  1. Primeira vez que entro nesse site. Lendo sobre o disco Santana, muito boa a análise desse álbum fantástico e totalmente inovador.

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    1. Obrigado pelo comentário generoso,Matiza. Seja muito bem-vinda ao site!

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