Burden
of Truth é o terceiro álbum de estúdio da banda norte-americana
Circle II Circle. Seu lançamento oficial aconteceu em 10 de outubro
de 2006, através dos selos AFM e Locomotive Records. As gravações
ocorreram no Morrisound Studios, em Tampa, na Flórida, nos Estados
Unidos durante o ano de 2006. A produção ficou a cargo de Zachary
Stevens, Dan Campbell e Jim Morris.
É
hora do RAC trazer, pela primeira vez em suas
páginas, a banda Circle II Circle, com o álbum Burden of
Truth. Vai-se, resumidamente, abordar os fatos que antecederam o
lançamento do disco para depois se ater às faixas propriamente
ditas.
The
Wake of Magellan
Em
15 de setembro de 1997, o Savatage lançava The Wake of
Magellan, seu décimo álbum de estúdio.
The
Wake of Magellan é um disco sensacional, com faixas incríveis
como “Turns to Me”, “Morning Sun” e “Anymore”.
Naquela
época, o vocalista do Savatage era Zachary ‘Zak’ Stevens.
The
Wake of Magellan tratou de conceitos como o valor de uma vida,
suicídio e abuso de drogas, com base em eventos da vida real, como o
Maersk Dubai e o assassinato de Veronica Guerin. (Nota do Blog:
Em 12 de março de 1996, dois passageiros clandestinos, Radu Danciu e
Petre Sangeorzan, foram descobertos no navio de carga Maersk Dubai e
encomendados ao mar, por uma balsa improvisada, a aproximadamente 70
quilômetros da costa de Gibraltar. Em 18 de maio do mesmo ano,
enquanto o navio estava em rota para o Porto de Halifax, Nova
Escócia, outro romeno, Gheorghe Mihoc, foi encontrado escondido em
um grande recipiente de carga e foi lançado ao mar, ao ponto da
faca, pelo Capitão Sheng Hsiu e quatro de seus oficiais. Um quarto
passageiro clandestino, Nicolae Pasca, foi descoberto pelo filipino
Rodolpho "Rudy" Miguel e manteve-se escondido até que o
navio chegou a Halifax, onde oito tripulantes filipinos (incluindo
Miguel) deixaram o navio e relataram o incidente às autoridades. À
chegada a Halifax, o Maersk Dubai foi invadido pela Royal Canadian
Mounted Police (GRC), e o capitão Hsiu e seus oficiais taiwaneses
foram presos e acusados de assassinato em primeiro grau. O operador
de rádio tentou escapar pulando no porto e depois foi preso. O
capitão Hsiu tentou negar o acesso ao navio de acordo com as leis de
frete internacional).
(Nota
do Blog: Veronica Guerin foi uma jornalista irlandesa. Começou
tardiamente na profissão, depois dos 30 anos, e gostava do
jornalismo investigativo. Exemplo de determinação e coragem, sua
vontade incessante por justiça fez com que pagasse com a vida a
investigação a fundo sobre a máfia e o tráfico de drogas em
Dublin, capital da Irlanda, durante a década de 1990. Denunciou
também a ligação que alguns dos mais importantes gângsteres
tinham com o IRA. Sofreu um atentado e chegou a ser espancada por um
dos maiores mafiosos da cidade. Depois do seu assassinato, a
população da Irlanda se revoltou e foi às ruas fazer protestos, e
os barões do tráfico tiveram seus bens confiscados e foram presos).
O
Savatage deixou, após um contrato de longo prazo, a Atlantic
Records depois deste lançamento e, eventualmente, assinou com uma
organização muito menor, a Nuclear Blast. Jon Oliva, líder do
grupo, disse que esta foi uma boa jogada, já que a nova gravadora
“adorava a banda e eles conheciam nossas músicas e tudo!”.
A
partir de 1996, Stevens apareceria junto com outros membros do
Savatage no projeto paralelo chamado Trans-Siberian Orchestra.
Seu último álbum gravado com o Savatage foi mesmo The
Wake of Magellan (1997), que alguns fãs consideram o melhor
trabalho do grupo pós-1993.
Trans-Siberian
Orchestra
O
projeto Trans-Siberian Orchestra surgiu com o produtor, compositor e
letrista Paul O'Neill, reunindo Jon Oliva e Al Pitrelli (ambos
membros do Savatage) e o tecladista e coprodutor Robert Kinkel
para formar o núcleo criativo do conjunto. Normalmente, o grupo
convidava diversos artistas para participarem das gravações e
turnês, especialmente vocalistas.
Zak Stevens |
Zak
Stevens participou da gravação de 3 álbuns de estúdio do grupo
até aquele momento: Christmas Eve and Other Stories (1996),
The Christmas Attic (1998) e Beethoven's Last Night (2000).
Mudanças
Em
2000, Stevens deixou o Savatage, citando que queria passar mais tempo
com sua jovem família. Durante o inverno norte-americano de 2001, Zak começou seu
retorno às suas atividades musicais.
Zak
começou seu retorno com seu amigo de longa data, Dan Campbell,
coescrevendo material com Jon Oliva e o guitarrista Chris Caffery
(ambos do Savatage). Foi neste momento que Stevens e Campbell
resolveram criar um conjunto, o Circle II Circle.
Muito
do material novo se tornaria as músicas do álbum de estreia da nova
banda, Watching in Silence.
Watching
in Silence
Em
29 de abril de 2003, o Circle II Circle lançou Watching in
Silence, seu primeiro álbum de estúdio.
Além
de Zak Stevens nos vocais, o disco conta com os tecladistas Jon Oliva
e John Zahner, os guitarristas Chris Caffery e Matt La Porte, o
baixista Kevin Rothney e o baterista Christopher Kinder.
Os
amigos Dan Campbell e Jon Oliva auxiliaram Zak Stevens na produção
do disco, o qual conta com ótimas canções como “Into the Wind”
e “Face to Face”.
Em
2005, o grupo passaria por uma drástica mudança de formação que
resultou no EP chamado All That Remains.
The
Middle of Nowhere
Em
30 de agosto de 2005, o Circle II Circle lançou The Middle
of Nowhere, seu segundo álbum de estúdio.
Este
foi o primeiro álbum com a nova constituição da banda, a qual se
reuniu depois que Stevens demitiu toda a formação original, em
2003.
Como
no primeiro disco da banda, ele apresenta aparições de convidados e
créditos de composição para os antigos companheiros de Savatage, Jon Oliva e Chris Caffery.
Além
de Zachary Stevens nos vocais, o disco conta com os guitarristas Evan
Christopher e Andrew Lee, o baixista Mitch Stewart e o baterista Tom
Drennan.
Mitch Stewart |
Boas
faixas de The Middle of Nowhere são “Holding On” e “Faces in
the Dark”.
Burden
of Truth
O
terceiro lançamento da banda seria um álbum conceitual intitulado Burden of Truth,
baseado em torno do conceito de descendentes de Jesus e tomando como
referência o livro The Da Vinci Code, de Dan Brown. (Nota
do Blog: The Da Vinci Code (O Código Da Vinci nas edições
brasileiras e portuguesas) é um romance policial do escritor
norte-americano Dan Brown, publicado em 2003 pela editora Random
House nos EUA. É um best-seller mundial, décimo primeiro livro mais
vendido no mundo com mais de 80 milhões de cópias. Causou polêmica
ao questionar a divindade de Jesus Cristo. A maior parte do livro
desenrola-se a partir do assassinato de Jacques Saunière, curador do
museu do Louvre. Robert Langdon, Sophie Neveu e Leigh Teabing vivem
várias aventuras ao tentar desvendar códigos que deem resposta aos
enigmas que Jacques Saunière deixou no leito de morte).
Ao
contrário dos dois primeiros álbuns da banda, este disco não
possui aparições convidadas dos ex-companheiros de Savatage,
Chris Caffery e Jon Oliva.
O
conceito da história abordada pelas letras presentes no álbum foi
desenvolvido pelo vocalista Zak Stevens e pelo seu amigo produtor do
grupo, Dan Campbell.
A
capa, belíssima, foi idealizada por Dan Campbell e desenhada pelo
artista Thomas Ewerhard.
Vamos
às faixas:
WHO
AM I TO BE?
O disco é aberto com uma faixa que traz os ótimos vocais de Zak Stevens em uma sonoridade mais cadenciada, mas que conta com guitarras pesadas e marcantes. A bateria também está muito boa. Um Hard/Heavy de categoria.
A
letra é sobre a procura de si mesmo:
Who
am I to be?
You
could never see
Always
pretending
What
you are to me
What
am I to say?
When
all you do is hate
Got
some news
Nobody
wins this game
This
game
A
MATTER OF TIME
Em "A Matter of Time", o grupo aposta mais firmemente no Heavy Metal, pois a música é baseada em um bom riff, pesado e marcante. O refrão, mais suave e cadenciado, é bem legal, assim como o solo de guitarra. Ótima canção.
As
letras refletem a descoberta de Saunière:
Will
you hold on forever
To
the change that held you down
Believe
you'll never
Abandon
the way that you found
HEAL
YOU
A ótima "Heal You" traz à mente o soberbo Metal oitentista, com um riff soberano e a seção rítmica imprimindo um peso incrível, graças aos bons trabalhos do baterista Tom Drennan e do baixista Mitch Stewart. O solo de guitarra é, novamente, cativante. Grande momento do álbum!
A
letra é sobre descobertas:
All
of us falling
On
the sacred roads they've led us
Hear
the calling
They
will never forget us
REVELATIONS
A bateria se encontra ainda mais intensa na pesada "Revelations" e é o maior destaque da faixa, ao lado da ótima atuação vocal de Zak Stevens. Mesmo com um andamento mais cadenciado, o peso é constante nesta composição.
A
letra é sobre confiança:
Don't
want to let you go
Never
could let it show
Why
do I always trust you
I
cannot let it go
I've
carried on the line
And
made the most of time
Waiting
for this day to arrive
YOUR
REALITY
Em "Your Reality", o Circle II Circle pisa no freio e opta por um andamento mais arrastado. A melodia é mais suave e o baixo de Mitch Stewart domina. O refrão é mais pesado e intenso, em uma construção interessante, mesmo que não inovativa. Excelente atuação de Zak Stevens.
A
letra é sobre como lidar com novas descobertas:
How
will you deal with things
You
perceive as real
What's
left to offer
Time
to reach right down
Into
what you feel
At
the cost of trust
Would
they seek you again
EVERMORE
Faixa mais curta do disco, o grupo faz uma abordagem muito pesada e técnica, trazendo à memória, os momentos intensos do Dream Theater. Apesar de sua duração efêmera, é uma canção interessante.
A
letra critica a religião:
All
of the people who tried
To
make peace
And
they died
All
of their fortresses shine
Like
the cross
As
they ride
Never
unfolding the truth
Still
unknown
Altering
consciousness
Evil
has flown
Following
mercy alone
The
masses have grown
THE
BLACK
"The Black" traz uma sonoridade muito interessante, alternando passagens mais suaves e melódicas com outras pesadas e muito intensas. Os vocais de Zak Stevens estão excelentes. A estrutura da composição é muito semelhante ao que Stevens fazia no Savatage.
A
letra é um desejo de libertação:
Into
the black
With
a final chance to save my soul
Waiting
for something
To
release me from this hold
MESSIAH
"Messiah" é um deleite para fãs de Heavy Metal, pois é uma composição pesada, intensa e que, sem firulas, vai diretamente ao ponto. As guitarras estão ótimas muito por conta do afiado trabalho da seção rítmica a qual, mesmo de modo suave, flerta com o Thrash.
A
letra menciona um novo salvador:
Still
the world keeps turning
Through
the maze of lies
I
am returning
To
replace your lives
Feel
them closing in
Follow
me this night
Blood
is their desire
Enter
the new Messiah
SENTENCED
"Sentenced" traz uma sonoridade mais suave e melodiosa ao trabalho. Zak Stevens, como de costuma, brilha nos vocais enquanto as guitarras aparecem bem, especialmente nos solos. Boa composição.
A
letra revela consequências de uma nova vida:
Why
does it always have to end?
I
had all the perfect things
Never
feels like things will change
All
that's left are fears and shame
BURDEN
OF TRUTH
"Burden of Truth" traz a maior faixa do disco homônimo, beirando os 7 minutos de duração. Em uma construção muito bonita, o grupo apresenta uma musicalidade Hard/Heavy em que alterna passagens intensas com suaves, mas sem perder o peso. Novamente, o Savatage volta à mente.
A
letra questiona novos caminhos:
Find
a new horizon
In
the ways
That
we have found
And
we'll find
A
better life
Like
the times we had
LIVE
AS ONE
A décima-primeira - e última - faixa de Burden of Truth é "Live as One". O álbum é encerrado com um Heavy Metal padrão, trazendo peso e melodia se complementando de modo harmônico e muito competente. Boa atuação de Stevens e ótimo solo de guitarra.
A
letra revela um mundo que perdeu suas crenças:
How
can we learn to live as one
How
can we run from things we've done
Could
we ever let it go
How
can we learn to live as one
Is
there nothing left to follow
Considerações
Finais
Burden
of Truth confirmou a boa qualidade do Circle II Circle
como banda de Heavy Metal.
Embora
seja um ótimo trabalho, acabou não repercutindo em termos das
principais paradas de sucesso do mundo, ou seja, a norte-americana e
a britânica.
A
crítica especializada normalmente elogia o disco. O site AllMusic
dá uma nota 3 (de 5) ao trabalho.
Scott
Alisoglu, do site Blabbermouth, dá ao álbum uma nota 8,5 (de
10), afirmando: “Melodia é a chave e Stevens, juntamente aos
guitarristas Andy Lee e Evan Christopher, o baixista Mitch Stewart e
o baterista Tom Drennan entregam-na de uma maneira que permanece com
você de música em música. É um álbum em que você pode escolher
qualquer corte e delirar com os ascendentes vocais de Stevens e a
performance sincera da banda”.
Por
fim, Alisoglu define: “Além da queixa sobre a mixagem de som (...)
não consigo achar nada errado com esse álbum. Burden of Truth
merece ser ouvido por muito mais pessoas que provavelmente terão a
chance de verificá-lo. É um dos melhores álbuns melódicos de hard
rock/metal de 2006”.
Logo
depois do lançamento do disco, tanto Zak Stevens quanto o Circle
II Circle assinaram um acordo de gestão com a Intromental
Management.
Delusions
of Grandeur, quarto álbum de estúdio do grupo, foi lançado em
agosto de 2008.
Formação:
Zak
Stevens - Vocal
Paul
Michael "Mitch" Stewart - Baixo, Teclados, Guitarras,
Backing Vocals
Andrew
Lee - Guitarras, Backing Vocals
Tom
Drennan - Bateria, Backing Vocals
Evan
Christopher - Guitarras, Backing Vocals
Faixas:
01.
Who Am I to Be? (Stevens/Stewart/Lee) - 5:03
02.
A Matter of Time (Stevens/Stewart) - 4:08
03.
Heal You (Stevens/Stewart/Lee) - 4:16
04.
Revelations (Stevens/Stewart) - 3:41
05.
Your Reality (Stevens/Stewart) - 4:29
06.
Evermore (Stevens/Stewart) - 2:53
07.
The Black (Stevens/Stewart/Lee) - 4:55
08.
Messiah (Stevens/Stewart) - 3:31
09.
Sentenced (Stevens/Stewart/Lee) - 4:58
10.
Burden of Truth (Stevens/Stewart) - 6:44
11.
Live as One (Stevens/Stewart) – 5:05
Letras:
Para
o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.letras.mus.br/circle-ii-circle/
Em 2006, Zak Stevens já era um nome conhecido e consagrado, ao menos entre o público fiel do Heavy Metal que acompanhava a lendária banda que o consagrou: o fantástico Savatage. Com ela, Stevens gravou discos muito bons como The Wake of Magellan, de 1997.
Após deixar o Savatage e constituir o Circle II Circle, Stevens ainda foi auxiliado por ex-companheiros de banda, Jon Oliva e Chris Caffery, em seus 2 primeiros discos no novo conjunto, Watching in Silence e The Middle of Nowhere.
Deste modo, Burden of Truth é o primeiro esforço de Stevens sem seus amigos do Savatage. E se pode afirmar que o Circle II Circle se saiu de modo excelente, superando expectativas.
O primeiro ponto é que Zak Stevens se cercou de um grupo bastante competente de músicos e quem ouve o disco percebe o ótimo trabalho tanto nas guitarras quanto na seção rítmica. Claro, Stevens tem uma atuação excelente e é o destaque individual do álbum.
O segundo ponto é que a sonoridade padrão escolhida é o Heavy Metal, o qual se apresenta moderno, mas com ótimos referenciais. Por vezes, a musicalidade flerta com o Hard Rock e até com o Metal Progressivo, mas a referência principal é, ainda, o próprio Savatage.
Para tornarem as coisas ainda mais difíceis, Stevens resolveu que Burden of Truth seria um álbum conceitual, baseado na obra Código da Vinci. Mas recomendamos que o leitor ouça o trabalho acompanhando as letras e perceba que os compositores conseguiram, de modo muito orgânico e eficiente, criarem o arcabouço temático entre as composições e o ligarem à instrumentalidade sonora da obra.
Sendo assim, Burden of Truth não possui canções de enchimento ou desnecessárias, constituindo-se em um álbum coeso e consideravelmente homogêneo.
O Heavy Metal clássico é reverenciado na ótima "A Matter of Time". Toques de 'Prog Metal' são palpáveis em "Evermore" enquanto "Your Reality" é intensa e tocante, ao mesmo tempo!
Mas o Circle II Circle caprichou no Hard/Heavy de "Heal You", na belíssima mistura de melodias da faixa-título, "Burden of Truth", e no peso absurdo de "The Black", possivelmente a preferida do RAC.
Concluindo, os méritos de Burden of Truth não estão em tentar construir nada novo ou ainda revolucionário, mas são facilmente encontrados na qualidade tanto de suas composições quanto na sua brilhante execução. O Circle II Circle bebeu em ótimas fontes, principalmente no sensacional Savatage (como não poderia deixar de ser) e trouxe, em Burden of Truth, um dos álbuns mais divertidos de Heavy Metal dos anos 2000, ao menos para o Blog. Altamente recomendado!
0 Comentários:
Postar um comentário