14 de dezembro de 2018

PINK FLOYD - MEDDLE (1971)



Meddle é o sexto álbum de estúdio da banda britânica Pink Floyd. Seu lançamento oficial ocorreu em 31 de outubro de 1971, através dos selos Harvest e Capitol Records. As gravações aconteceram entre janeiro e agosto daquele mesmo ano, nos estúdios AIR Studios, Abbey Road Studios e Morgan Studios, todos na Inglaterra. A produção ficou a cargo do próprio Pink Floyd.

Os gigantes do progressivo inglês, Pink Floyd, retornam ao RAC com outra de suas valorosas obras: Meddle. Como de costume, um breve relato dos fatos que antecedem o lançamento do disco vai preceder o tradicionalíssimo faixa a faixa.


Atom Heart Mother

Em 2 de outubro de 1970, o Pink Floyd lançava Atom Heart Mother, seu quinto álbum de estúdio.

O RAC já fez um post sobre o disco e o leitor que quiser pode acessá-lo neste link.

Em termos gerais, Atom Heart Mother é um álbum de transição e aponta para aquilo que o grupo viria a se transformar.

O trabalho atingiu o topo da parada britânica, além de transformar o conjunto, finalmente, em um projeto economicamente viável.

Durante o ano de 1970, a banda excursionou exaustivamente pelos Estados Unidos e por todo o Reino Unido, promovendo o disco. Em janeiro de 1971, era chegado o momento de se fazer um sucessor.

Nick Mason

Antecedentes

Em 1971, o Pink Floyd continuava com sua clássica formação: David Gilmour nos vocais e guitarra, Roger Waters no baixo, Nick Mason na bateria e Rick Wright nos teclados.

Sem material para trabalhar e sem uma ideia clara da direção do novo álbum, o grupo planejou uma série de novos experimentos os quais inspirariam a faixa emblemática do disco, “Echoes”.

Embora muitos dos álbuns posteriores do conjunto fossem unificados por um tema central, com letras escritas principalmente por Roger Waters, Meddle foi um esforço de conjunto com contribuições líricas de cada membro, e é considerado um disco de transição entre o grupo influenciado pelo ex-vocalista Syd Barrett daquele que estava emergindo.

Gravações

Com a banda voltando de uma série de turnês pela América do Norte e Inglaterra, em apoio a Atom Heart Mother, no início de 1971, o Pink Floyd começou a trabalhar em novos materiais no Abbey Road Studios, em Londres.

Na época, o Abbey Road era equipado apenas com instalações de gravação multitrilha de oito pistas, o que o grupo considerou insuficientes para as crescentes demandas técnicas de seu projeto. A banda transferiu seus melhores esforços, incluindo a abertura do que se tornaria “Echoes”, para fitas de 16 pistas, em estúdios menores de Londres (AIR e Morgan, em West Hampstead) e retomou o trabalho com a vantagem de um equipamento de gravação mais flexível.

Os engenheiros John Leckie e Peter Bown gravaram as principais sessões do Abbey Road e do AIR, enquanto que, para os trabalhos menores no Morgan Studios, Rob Black e Roger Quested cuidaram das tarefas de engenharia.

Na falta de um tema central para o projeto, o grupo usou vários métodos experimentais na tentativa de estimular o processo criativo.

Um exercício envolveu cada membro tocando em separado, sem referência ao que os outros membros estavam fazendo. O ritmo era inteiramente aleatório enquanto a banda tocava em torno de uma estrutura de acordes combinada, e humores como “primeiros dois minutos românticos, próximos dois tempos”.

Cada seção registrada foi nomeada, mas o processo foi, em grande parte, improdutivo; depois de várias semanas, nenhuma música completa foi criada.

John Leckie trabalhou em álbuns como All Things Must Pass, de George Harrison, e Sentimental Journey, de Ringo Starr, e foi contratado como operador de fita em Meddle, em parte por sua propensão a trabalhar até as primeiras horas da manhã.

Leckie disse que as sessões do Pink Floyd geralmente começavam à tarde, e terminavam cedo na manhã seguinte, “durante os quais nada seria feito. Não havia nenhum contato da gravadora, exceto quando o gerente aparecia de vez em quando, com um par de garrafas de vinho e um pedaço de carne”.

Roger Waters

Aparentemente, a banda passava longos períodos de tempo trabalhando em sons simples, ou um riff de guitarra em particular. Ela também passara vários dias no AIR tentando criar música usando uma variedade de objetos domésticos, um projeto que seria revisado em seus próximos álbuns, The Dark Side of the Moon e Wish You Were Here.

Seguindo esses primeiros experimentos - chamados Nothings - a banda desenvolveu “Son of Nothings”, a qual foi seguida por “Return of the Son of Nothings” - o título provisório do novo álbum.

Em um desses primeiros trabalhos envolveu o uso do piano de Richard Wright. Wright tinha alimentado uma única nota através de um alto-falante Leslie, produzindo algo como um ‘sonar’ de submarino. A banda tentou repetidamente recriar esse som no estúdio, mas não teve sucesso, e assim a versão demo foi usada no que mais tarde se tornaria “Echoes”, esta, mixada quase exclusivamente no AIR Studios.

Combinado com a guitarra de David Gilmour, a banda conseguiu desenvolver a música ainda mais, experimentando efeitos sonoros acidentais (como a guitarra de Gilmour sendo conectada a um pedal wah-wah de trás para frente, um efeito que eles usaram em 1970 para a seção central de “Embryo”).

Diferentemente de Atom Heart Mother, os novos recursos de várias trilhas do estúdio permitiram que o grupo criasse a faixa em etapas, em vez de executá-la em uma única cena. A peça final de 23 minutos acabaria por ocupar todo o segundo lado do álbum.

“One of These Days” foi desenvolvida em torno de uma linha de baixo ostinato criada por Roger Waters, alimentando a saída através de um Binson Echorec. A linha de baixo foi executada por Waters e Gilmour usando dois baixos, um com cordas velhas. O abstruso do baterista Nick Mason “One of these days I'm going to cut you into little pieces” foi gravado em velocidade dupla, usando uma voz em falsete, e repetida na velocidade normal. (Nota do Blog: Em música, um ostinato é um motivo ou frase musical que é persistentemente repetido numa mesma altura. A ideia repetida pode ser um padrão rítmico, parte de uma melodia ou uma melodia completa).

Rick Wright

Meddle foi gravado entre vários compromissos de shows da banda e, portanto, sua produção foi espalhada por um período considerável de tempo.

O conjunto gravou na primeira metade de abril de 1971, mas na segunda metade tocou em Doncaster e Norwich, antes de voltar a gravar no final do mês. Em maio eles dividiram seu tempo entre as sessões no Abbey Road, e os ensaios e shows em Londres, Lancaster, Stirling, Edimburgo, Glasgow e Nottingham.

Junho e julho foram focados, principalmente, nos eventos pela Europa. Em agosto o grupo viajou pelo extremo oriente e Austrália, em setembro pela Europa e, de outubro a novembro, pelos EUA. No mesmo período, o grupo também produziu Relics, uma coletânea de alguns trabalhos anteriores do Pink Floyd.

Uma mixagem quadrafônica do álbum foi preparada no Command Studios, em 21 e 26 de setembro, mas permanece inédita. Os novos mixes, estéreo de 2016 e 5.1 do álbum, foram inadvertidamente lançados como faixas ocultas no disco Blu-ray Reverberation, na caixa The Early Years.

Trabalho de composição

Embora suas faixas possuam uma variedade de sentidos, Meddle é geralmente considerado mais coeso que seu antecessor, Atom Heart Mother.

A música “Fearless” emprega gravações do campo do Liverpool FC, com o coro de sua torcida cantando a emblemática “You're Never Walk Alone”, seu hino, a qual encerra a música em um fade-out altamente reverberado.

“San Tropez”, por outro lado, é uma música pop inflada pelo jazz, com um ritmo aleatório, composta por Waters em seu estilo cada vez mais usado de composição alegre e improvisada. A canção foi inspirada na viagem da banda ao sul da França, em 1970.

O Pink Floyd exibiu seu senso de humor com “Seamus”, uma faixa de novidade pseudo-blues apresentando o cachorro de Steve Marriott (que Gilmour estava cuidando) uivando através da canção. A banda, mais tarde, usaria sons de animais novamente, em Animals. (Nota do Blog: Stephen Peter Marriott, popularmente conhecido como Steve Marriott, foi um cantor, compositor e guitarrista britânico. Ele é mais lembrado por sua poderosa voz e sua técnica de guitarra agressiva em grupos como o Small Faces e o Humble Pie).

A última música do álbum é “Echoes”, de 23 minutos. Primeiramente tocada como “Return of the Son of Nothing”, em 22 de abril de 1971, em Norwich, a banda passou cerca de seis meses trabalhando na faixa, em três estúdios (Morgan, AIR e Abbey Road).

A música abre com o supracitado ‘sonar’ de Wright. “Echoes” foi gravada quase inteiramente no Air Studios e concluída em julho de 1971.

“Echoes” também deu seu nome à coletânea Echoes: The Best of Pink Floyd, na qual uma versão muito editada da faixa-título foi incluída. Na compilação, várias edições em toda a música reduzem o tempo de execução em cerca de sete minutos.

David Gilmour

Parte do material composto durante a criação de Meddle não foi utilizado; no entanto, uma música acabaria por se tornar “Brain Damage”, de The Dark Side of the Moon.

Título e Capa

O título do álbum, Meddle, é um jogo de palavras: uma medalha (medal) e interferir (interfere).

Storm Thorgerson, do grupo de arte design Hipgnosis, sugeriu originalmente um ‘close’ do ânus de um babuíno para a fotografia da capa do álbum. A ideia foi rejeitada pela banda, que o informou, através de um telefonema intercontinental, enquanto em turnê no Japão, que eles preferiam ter “um ouvido embaixo d'água”.

A imagem da capa foi fotografada por Bob Dowling. A imagem representa uma orelha, debaixo d'água, coletando ondas de som (representadas por ondulações na água).

Thorgerson, posteriormente, expressou insatisfação com a capa, alegando que ela era a sua menos favorita de álbuns do Pink Floyd: “Eu acho que Meddle é um álbum muito melhor do que a capa”.

O colega de Thorgerson, Aubrey Powell, compartilhou seus sentimentos, dizendo: “Meddle era uma bagunça. Eu odiei essa capa. Eu não acho que nós fizemos justiça a eles, é meio desanimada”.

O encarte contém uma fotografia da banda (a última do Floyd até A Momentary Lapse of Reason, de 1987).

Vamos às faixas:

ONE OF THESE DAYS

A introdução de "One of These Days", com a 'parceria' dos baixos comandados por Roger Waters e David Gilmour, é uma pequena amostra da força demolidora desta instigante faixa instrumental. É um início arrebatador para a obra!


A canção foi lançada como single, mas não obteve maior repercussão em termos das principais paradas de sucesso pelo mundo.

A composição é instrumental, exceto pela única fala do baterista Nick Mason, “One of these days I'm going to cut you into little pieces”.

O elemento predominante da peça é o de um baixo tocado através de uma unidade de delay (eco), configurada para produzir repetições em triplets de semínimas. O Pink Floyd usaria novamente essa técnica na linha de baixo para “Sheep”.

Os acentos distintivos de teclado nesta faixa são compostos de três componentes: um órgão Hammond forma o ‘fade in’, seguido por um ‘Stab’ composto por um segundo órgão Hammond com parada de percussão, e um piano acústico alimentado através de um alto falante Leslie, como também foi usado em “Echoes”. Para versões ao vivo, a parte ‘fade in’ foi tocada em um órgão Farfisa.

A letra ameaçadora, uma rara contribuição vocal de Nick Mason, foi gravada através de um modulador de anel desacelerado para criar um efeito misterioso. Foi dirigida a Sir Jimmy Young, então DJ da BBC Radio 1 e Radio 2, que a banda supostamente não gostava por causa de sua tendência a balbuciar.

Durante os primeiros anos da década de 70, eles tocaram uma colagem de clipes do programa de rádio de Young, a qual foi editada para soar completamente sem sentido, assim, figurativamente, “cortando-o em pedacinhos”.

A compilação bootleg A Treeful of Secrets contém uma versão demo de “One of These Days”, em que a colagem de Jimmy Young faz um loop em segundo plano durante a apresentação. No entanto, a autenticidade desta demo não foi confirmada.

De acordo com John Peel, Waters descreveu “One of These Days” como uma “avaliação pungente da situação social contemporânea”. Gilmour afirmou que ele a considera como a peça mais colaborativa já produzida pelo grupo.

A música foi um marco nas turnês da banda entre 1971 e 1973 e de 1987 a 1994. A versão Live at Pompeii foi renomeada como “One of These Days I'm Going to Cut You into Little Pieces”.

Ela foi ressuscitada para as turnês de 1987–1989 de A Momentary Lapse of Reason e Another Lapse e da The Division Bell Tour, realizada por David Gilmour na guitarra, Tim Renwick na guitarra base, Guy Pratt no baixo, Richard Wright e Jon Carin nos teclados, com Nick Mason e Gary Wallis na bateria e percussão.

Em 25 de junho de 2016, David Gilmour e sua banda solo tocaram a música durante o show no Plac Wolności, em Wrocław, Polônia, pela primeira vez em que Gilmour a tocou ao vivo em mais de 20 anos, e a primeira vez que ela fez parte de um set list da sua carreira solo.

Roger Waters toca a música no primeiro conjunto da turnê Us + Them de 2017. A música também faz parte do 'Saucerful of secrets show’, de Nick Mason, fechando o set principal. O desempenho novamente apresenta Guy Pratt no baixo.

Entre as versões cover para “One of These Days” estão a de grupos como Girls Under Glass e Men of Porn.

“One of These Days” tem sido usada em vários contextos esportivos. O melhor exemplo disso foi a patinadora húngara Krisztina Czakó, a qual usou a faixa (junto com “Shine On You Crazy Diamond”) como a música de seu longo programa nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1992, uma das poucas vezes que uma canção de rock clássico já foi destaque em uma competição de patinação no gelo.

A música também aparece em programas de TV como The Sopranos e Life on Mars. Também foi sampleada na música “Johnny Ryall”, presente no álbum Paul's Boutique (1989), do Beastie Boys.



A PILLOW OF WINDS

Já em "A Pillow of Winds", a banda aposta em uma abordagem mais contida, com inegável aspecto bucólico e, porque não, melancólico. Há clara influência Folk na belíssima melodia, a qual se combina perfeitamente com o excelente vocal de Gilmour.

A letra possui conteúdo romântico:

And deep beneath the ground the early morning sounds
And I go down
Sleepy time when I lie with my love by my side
And she's breathing low
And I rise like a bird,
In the haze when the first rays touch the sky
And the night winds die

Esta suave canção de amor, acústica, pode não ser tão característica do material anterior e nem futuro da banda. O guitarrista David Gilmour compôs a sequência de acordes, usando uma afinação Open E, tocada em uma série de arpejos, a melodia e parte das letras.

Esta música também apresenta o trabalho de ‘slide guitar’ de Gilmour, bem como um baixo fretless, interpretado por Waters. (Nota do Blog: Slide guitar, ou Bottleneck guitar, é uma forma de tocar guitarra, em que se utiliza no dedo médio, anular, mínimo ou indicador (este último menos comum), um pequeno tubo oco cilíndrico, feito de metal, vidro ou cerâmica. Com o objetivo de alterar o tom em que se toca, deslizando esse tubo pelas cordas da guitarra. Este método, introduzido inicialmente na música do Havaí, passou a ser utilizado nos blues (Blues rock) e no country). (Nota do Blog: Fretless refere-se a uma guitarra ou a um baixo em que não há trastes. O baixo fretless é muito popular no Jazz, Funk e R&B).

De acordo com Nick Mason, o título da música se origina de uma possível mão no jogo de mahjong, com o qual a banda ficou fissurada durante as turnês. (Nota do Blog: Mahjong (Mah Jongg, Majiang, Majongue, Majong, Ma-Jong, Mahjongg) é um jogo de mesa de origem chinesa que foi exportado, a partir de 1920, para o resto do mundo e principalmente para o ocidente. É composto de 144 peças, chamadas comumente de “pedras”).

As letras da música se referem a um edredom (eiderdown), mais conhecido nos EUA como um ‘consolador’ (comforter). Duas outras canções conhecidas do Pink Floyd fazem referência a um edredom, “Flaming”, de Syd Barrett, e “Julia Dream”, de Waters.



FEARLESS

"Fearless" segue com o grupo apostando em influências de Folk, em outra canção mais contida, mas, novamente, com uma melodia incrível. Gilmour abusa de vocais suaves e encantadores. Belíssima canção!

A letra fala sobre determinação e coragem:

And who's the fool who wears the crown?
And go down
in your own way
And every day is the right day
And as you rise above the fearlines in his brow
You look down, hear the sound of the faces in the crowd

O ritmo lento da música e o som acústico suave têm semelhanças com algumas das outras faixas do primeiro lado de Meddle.

David Gilmour e Roger Waters compuseram a música na guitarra usando uma afinação aberta em sol maior, ensinada a Waters pelo ex-membro Syd Barrett.

Perto do começo e no final da canção, uma gravação de campo dos fãs do Liverpool FC, cantando “You're Never Walk Alone”, é sobreposta à música. (Nota do Blog: O Liverpool Football Club ou L.F.C é um clube de futebol inglês com sede na cidade de Liverpool. Fundado em 1892, ingressou na Football League no ano seguinte e desde então atua no Anfield Road. Seu uniforme, que originalmente adotava camisas vermelhas e calções brancos, é todo vermelho desde 1965. O lema do clube é “You'll Never Walk Alone” , que traduzido significa ‘Você Nunca Caminhará Sozinho’).

Embora não tenha sido lançada como single no Reino Unido e nunca tenha sido tocada ao vivo, a faixa foi escolhida como ‘B-side’ do single “One of These Days”, em 1971.

Roger Waters ressuscitou, brevemente, a música, para um pequeno número de shows em 2016, e a música foi tocada pelo Saucerful of Secrets, de Nick Mason, em 2018.

A canção foi incluída no álbum Side Orders, de Circe Link e Christian Nesmith.



SAN TROPEZ

"San Tropez" mantém o ar bucólico das faixas anteriores e o clima mais leve. Aqui, há também um elemento de elegância na música, com uma abordagem levemente jazzística. Os vocais de Waters são ótimos.

A letra possui um ar bucólico:

Backward and homebound,
The pigeon, the dove,
Gone with the wind
And the rain, on an airplane
Owning a home
With no silver spoon,
I'm drinking champagne
Like a good tycoon

Ao contrário das outras faixas de Meddle, “San Tropez” não foi composta de forma colaborativa; em vez disso, Roger Waters escreveu a peça e levou-a para o estúdio já praticamente finalizada.

É a única música de Meddle não coescrita por David Gilmour.

Esta canção versa sobre um lugar chamado Saint-Tropez, uma comuna do departamento de Var, no sul da França, localizada na Riviera Francesa. A faixa reflete uma visão idealizada de como poderia ser um dia naquela localidade.

Uma curiosidade: “Ao longo da década de 1970, o verso da música, ‘Making a date for later by phone’, tem sido compreendida, na Itália principalmente, por conta da pronúncia distorcida de Waters (‘... lita-pah-fon’), como sendo ‘Making a date for Rita Pavone’, como uma referência à famosa cantora italiana dos anos 1960.

A própria Pavone afirmou várias vezes, em entrevistas de TV e em outras mídias, que realmente acredita que o verso seja sobre ela.



SEAMUS

"Seamus" é uma canção bem curta, com pouco mais de 2 minutos. A gaita tocada por Gilmour é um destaque e há uma abordagem Country em sua musicalidade. Bastante interessante.

A letra fala sobre um cão:

I was in the kitchen
Seamus (that's the dog) was outside
Well, I was in the kitchen
Seamus, my old hound, was outside
Well you know the sun was sinkin' slowly
But my old hound dog sat right down and cried

A canção foi nomeada por causa do cão da raça Collie (pertencente ao líder da banda Humble Pie, Steve Marriott) que uiva ao longo da peça.

O biógrafo do grupo, Nicholas Schaffner, chama a música de ‘dispensável’; no que David Gilmour adicionou “Eu acho que não é realmente tão engraçado para todos os outros [como] foi para nós”.

O diretor de cinema Adrian Maben capturou a única performance ao vivo de “Seamus” (em uma forma muito alterada, excluindo as letras, e a renomeou “Mademoiselle Nobs”) em seu filme Pink Floyd: Live at Pompeii.

Para recriar a música, David Gilmour tocou gaita, em vez de cantar, e Roger Waters tocou uma das guitarras Stratocaster de Gilmour. Uma fêmea da raça Borzoi chamada Nobs, que pertencia a Madonna Bouglione (filha do diretor de circo Joseph Bouglione), foi levada ao estúdio para fornecer um acompanhamento uivante, como Seamus fizera na versão do álbum.

Há também um baixo audível nesta gravação, provavelmente adicionado durante a mixagem da trilha sonora do filme, em outro estúdio.

Algumas fontes afirmam que “Seamus” também foi tocada no Charlotte Park Center, como bis, em 23 de março de 1973, durante a turnê de Dark Side of the Moon, mas isso nunca foi confirmado.



ECHOES

A sexta - e última - faixa de Meddle é "Echoes". Sem medo de soar muito bajulador, mas "Echoes" é uma das mais incríveis composições do Rock. Sua diversidade e riqueza de melodias, improvisações e dinâmicas encantam qualquer bom ouvinte do Rock. É apenas ouvir e aproveitar sua beleza.

A letra possui um sentido existencial:

And no one calls us to move on
And no one forces down our eyes
And no one speaks and no one tries
And no one flies around the sun

“Echoes” é um clássico incontestável do Pink Floyd.

“Echoes” é uma composição que inclui extensas passagens instrumentais, efeitos sonoros contínuos e larga improvisação musical. Composta em 1970, por todos os quatro membros do grupo, a faixa tem um tempo de execução de 23:31 minutos e compreende todo o segundo lado das gravações de Meddle em vinil e em cassete.

Ela também aparece, de forma abreviada, como a quinta canção da coletânea que recebeu seu nome, Echoes: The Best of Pink Floyd.

A composição foi originalmente montada a partir de fragmentos separados, e, mais tarde, foi dividida em duas partes para servir tanto como abertura quanto como fechamento do filme da banda, Live at Pompeii.

A peça teve sua gênese em uma coleção de experimentos musicais separados, escritos pela banda, alguns dos quais foram sobras de sessões anteriores. O grupo então organizou estes ‘pedaços’ para fazer uma composição coerente de 23 minutos originalmente chamada de ‘Nothing, Parts 1–24’.

Nem todas as partes foram usadas para a faixa final e algumas tomadas incluíam dizer uma frase ‘de trás para frente’, de modo que soaria correto (e estranho) quando a fita fosse invertida.

Fitas subsequentes do trabalho em andamento foram rotuladas como “The Son of Nothing” e “The Return of the Son of Nothing”; o último título acabou sendo usado para introduzir o trabalho ainda não lançado durante suas primeiras apresentações ao vivo, no início de 1971.

A gravação foi dividida entre Abbey Road Studios, Morgan Studios e AIR Studios, em Londres; os dois últimos foram usados porque possuíam um gravador de 16 pistas, o que facilitou a montagem dos componentes individuais das músicas.

Em uma entrevista em 2008, para a revista britânica Mojo, quando perguntado sobre quem havia composto “Echoes”, Wright afirmou que compusera a longa introdução ao piano e a principal progressão de acordes da canção.

Na mesma entrevista, Wright confirmou que Waters escreveu as letras. Durante esse estágio de desenvolvimento, o primeiro verso da música ainda não havia sido finalizado. Ele se referia, originalmente, ao encontro de dois corpos celestes. O primeiro verso originalmente tirou palavras do poema Two Planets, de Muhammad Iqbal, e posteriormente sendo reescrito com a incorporação de imagens subaquáticas originais em seu lugar.

O título “Echoes” também foi submetido a revisões significativas antes e depois do lançamento de Meddle: Waters, um fã aficionado de futebol, propôs que a banda chamaria sua nova peça “We Won the Double” em comemoração às vitórias do Arsenal em 1971.

E, durante uma turnê de 1972, pela Alemanha, Waters introduziu-a jovialmente, por duas noites consecutivas, como “Looking Through the Knothole in Granny's Wooden Leg” (uma referência a The Goon Show) e The Dam Busters, respectivamente.

O Pink Floyd tocou “Echoes”, pela primeira vez, no Norwich Lads Club, em 22 de abril de 1971. Foi uma parte regular criada para o show no Knebworth Park, em 5 de julho de 1975.

A música foi executada no Live at Pompeii, onde foi dividida em duas partes para abrir e fechar o filme.


As performances de 1974 e de 1975 incluíam backing vocals de Venetta Fields e Carlena Williams, e solos de saxofone de Dick Parry, em vez dos solos de guitarra das performances entre 1971-73.

A faixa também foi tocada onze vezes na turnê mundial da banda, em 1987, para A Momentary Lapse of Reason, em uma versão ligeiramente rearranjada reduzida para 17 minutos. Foi, então, descartada, pois a banda não estava feliz com as performances.

Semelhante ao efeito Dark Side of the Rainbow, grandes rumores sugeriram que “Echoes” coincidentemente sincronizaria com o filme de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisséia no Espaço, de 1968, exatamente quando tocado simultaneamente com o segmento final de 23 minutos, intitulado ‘Júpiter e Além do Infinito’.

Na época da produção do filme, entre 1967 e 1968, o Pink Floyd não trabalhou em qualquer material para ele e nem foram contatados sobre fornecimento de música para tal. É até mesmo possível que Kubrick nunca tenha ouvido a música da banda até o final do filme.

Kubrick apresentaria imagens de cópias da trilha sonora de 2001 e do álbum Atom Heart Mother (do Pink Floyd) como figurantes, na cena da loja de discos, em A Clockwork Orange, de 1971.

O filme Crystal Voyager, de 1973, de George Greenough, termina com um segmento de 23 minutos em que a versão completa de “Echoes” acompanha uma montagem de imagens de Greenough com uma câmera montada em suas costas enquanto navega em sua prancha.

Em entrevistas promovendo Amused to Death, Waters afirmou que Andrew Lloyd Webber havia plagiado o riff de “Echoes” para seções do musical O Fantasma da Ópera; no entanto, Roger decidiu não entrar com uma ação judicial sobre o assunto. Ele afirmou:

“Sim, o começo daquela maldita musica do Phantom é de “Echoes”. * DAAAA-da-da-da-da *. Eu não pude acreditar quando ouvi isso. É a mesma assinatura de tempo - é 12/8 - e é a mesma estrutura e são as mesmas notas e é o mesmo tudo. Desgraçado. Provavelmente é acionável. E é realmente! Mas eu acho que a vida é muito longa para se preocupar em processar Andrew fucking Lloyd Webber”.

O músico britânico Ewan Cunningham fez um cover de “Echoes”, em um vídeo do YouTube, no qual ele interpretou todas as partes. Esta versão foi fortemente baseada naquela de Live at Pompeii e recebeu elogios de Nick Mason.

O projeto britânico de música eletrônica Banco de Gaia fez uma versão de “Echoes” em seu álbum de 2009, Memories Dreams Reflections.



Considerações Finais

Meddle manteve a curva ascendente de sucesso comercial e crítico do Pink Floyd.

O álbum atingiu a excelente 3ª posição da principal parada britânica, alcançando apenas a modesta 70ª colocação em sua correspondente norte-americana. Também conquistou os 2º, 11º e 21º lugares nas paradas de Holanda, Alemanha e Espanha; respectivamente.

Meddle foi lançado em 31 de outubro de 1971 nos EUA e em 13 de novembro no Reino Unido.

Embora no Reino Unido tenha atingido o terceiro lugar da principal parada de sucessos, a fraca publicidade, por parte da Capitol Records, levou a vendas fracas do disco nos EUA e a uma baixa posição na Billboard.

“O Pink Floyd tinha um público forte no Reino Unido e em outras partes da Europa”, lembrou Rupert Perry, então chefe da A&R na Capitol. “Mas eles precisavam ser maiores nos Estados Unidos, onde estavam vendendo apenas 200 mil unidades. Eles eram muito mais um álbum – e não singles - o que era uma má notícia para nós. Eles tinham um alto fator de credibilidade sem as vendas”.

Meddle foi, depois, certificado como disco de ouro, em 29 de outubro de 1973 e, em seguida, recebeu o duplo de platina, em 11 de março de 1994, após a atenção adicional conquistada pelos sucessos posteriores da banda nos Estados Unidos.

No lançamento, Meddle recebeu críticas positivas. Jean-Charles Costa, da revista norte-americana Rolling Stone, escreveu: “Meddle não apenas confirma o surgimento do guitarrista David Gilmour como uma verdadeira força formadora do grupo, mas também afirma que o grupo está no caminho do crescimento novamente”.

A revista britânica NME chamou de “um álbum excepcionalmente bom”. Steve Peterson, da revista musical norte-americana Hit Parader, citou “Fearless” como sua melhor música e afirmou sobre o álbum “Esse tem que ser o melhor de todos”.

Ed Kelleher, da revista norte-americana Circus, chamou o disco de “outra obra prima de um grupo magistral”, apontando-o como “destemido” e “fascinante”, e elogiando “Echoes” como “um poema tônico que permite aos quatro membros do grupo muito tempo para alongarem seus músculos”.

No entanto, o britânico Melody Maker foi mais reservado, descrevendo o trabalho como “uma trilha sonora de um filme inexistente”.

Robert Christgau afirmou que Meddle foi uma progressão bastante boa sobre o trabalho anterior do grupo e apresentou canções ‘folk’ destacadas por melodias únicas, embora tenha lamentado a letra de “A Pillow of Winds”, afirmando: “A palavra 'behold' nunca deve cruzar seus filtros novamente”.

Stephen Thomas Erlewine, do site AllMusic, dá ao trabalho uma nota 4,5 (de 5), afirmando: “o álbum é uma das explorações de humor mais consistentes do Floyd, especialmente a partir de seu tempo na Harvest, e se destaca como o álbum mais forte lançado entre a saída de Syd e The Dark Side”.

Meddle foi lançado mais tarde como um LP remasterizado pelo Mobile Fidelity Sound Lab, e, em abril de 1989, em seu formato de CD de ouro ‘Ultradisc’. O álbum também foi incluído como parte do box set Shine On, em 2 de novembro de 1992.

O trabalho seguinte do grupo seria o álbum Obscured by Clouds, sétimo disco do conjunto, e trilha sonora do filme francês La Vallée, de 1972.

Meddle supera 2,3 milhões de cópias vendidas pelo mundo.



Formação:
David Gilmour - Guitarra, Vocal, Harmonia Vocal em 03, Baixo (em uníssono com Waters) em 01, Gaita em 05
Roger Waters - Baixo, Violão e Vocal em 04
Nick Mason - Bateria, Percussão, Frase Vocal em 01
Rick Wright - Órgão (Hammond e Farfisa), Piano, Vocal em 06, EMS VCS 3 em 01

Faixas:
01. One of These Days (Waters/Gilmour/Wright/Mason) - 5:57
02. A Pillow of Winds (Waters/Gilmour) - 5:13
03. Fearless (Waters/Gilmour) - 6:08
04. San Tropez (Waters) - 3:43
05. Seamus (Waters/Gilmour/Wright/Mason) - 2:16
06. Echoes (Waters/Gilmour/Wright/Mason) - 23:31

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/pink-floyd/

Opinião do Blog:
Dando continuidade a resgatar a história de uma das maiores formações da história da música do século XX, o RAC encerra 2018 com um novo post sobre o Pink Floyd.

Para o Blog, não existem muitas formações tão impressionantemente capacitadas e talentosas quanto Gilmour, Waters, Wright e Mason. Ao ouvir atentamente Meddle, o leitor amigo poderá chegar a esta conclusão tranquilamente.

O RAC pensa que Meddle é uma evolução quando comparado ao já bom Atom Heart Mother, no ponto de vista da qualidade de suas canções. Aqui, a banda aposta em melodias e sonoridades mais bem desenhadas e melhores desenvolvidas.

Desta forma, as músicas mais curtas, as quais compõem a primeira parte do disco, são enxutas, mas, ao mesmo tempo, dinâmicas, permitindo que a qualidade dos músicos integrantes da banda sejam expostas. Há uma nítida influência Folk nesta parte do álbum, deixando-o com um ar bucólico e nostálgico, em passagens predominantemente acústicas.

Mas, é óbvio, "Echoes" por si só já vale todo Meddle. Abusando de efeitos sonoros, longas passagens instrumentais e improvisações, a canção briga fortemente pelo posto de melhor suíte da discografia do Pink Floyd.

Se no disco anterior, para o RAC, o grupo já havia acertado na boa "Atom Heart Mother", em Meddle, "Echoes" representa o passo seguinte, com o conjunto aprofundando no experimentalismo e caprichando ainda mais no seu desenvolvimento e em seus arranjos. Totalmente brilhante.

Enfim, concluindo nossos trabalhos no ano de 2018, cabe ao Blog ressaltar a qualidade ímpar de Meddle, um álbum que, além de toda a sua virtude, é uma comprovação de que o Pink Floyd seria capaz de compor músicas que entrariam para a eternidade. Um disco mais que obrigatório! 

3 comentários:

  1. Meddle é mais uma das minhas sugestões anteriores atendidas pelo blog recentemente, afinal, trata-se de um dos cinco álbuns históricos lançados pela minha banda favorita de todos os tempos, que é o Pink Floyd. Inclusive no post anterior da banda, que falava sobre o álbum Atom Heart Mother (1970), eu comentei que o famoso "disco da vaca" (por causa de sua estranha e curiosa capa) em si, musicalmente é bom, mas que para mim está um pouco abaixo do que a banda iria fazer nos anos seguintes, a começar por este excelente álbum aqui resenhado, que eu considero o embrião da chamada "segunda fase" do Pink Floyd, a mais produtiva da banda, marcada por uma sucessão de quatro maravilhosas obras-primas: o aclamado e multiplatinado The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975) que é até hoje o meu disco favorito da discografia deles (e que foi resenhado aqui nos primórdios deste blog), Animals (1977) que foi o meu primeiro contato verdadeiro com o Pink Floyd há uns 16 anos atrás, e por fim, o também aclamado e multiplatinado The Wall (1979), álbum duplo que no ano que vem completará 40 anos de lançamento.

    Posso dizer que se Meddle não existisse, essas quatro obras-primas citadas em sequência não existiriam também. Destaque óbvio e merecido para a soberba canção "Echoes" que ocupa o lado B inteiro do vinil e por si só vale toda a bolacha com certeza. Enfim, deixo aqui novamente minha sincera gratidão ao chefe Daniel pela resenha de Meddle e aproveito para desejar a todos os leitores um Feliz Natal e um ótimo 2019 repleto de novidades e muitas outras coisas boas para todo mundo.

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    1. Obrigado pelo comentário, Igor, e pelos sempre generosos elogios ao Blog, o qual, sinceramente, nem sei se os merece. Ademais, agradeço ainda mais pela dedicada participação aqui nos comentários, sempre adicionando informação e opinião aos nossos posts.

      Por fim, deixo meu desejo de um bom natal e um ótimo 2019 para você. Saudações!

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    2. Claro que merece, patrão! Muito obrigado por me responder e nos veremos em 2019!

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