My
Generation é o álbum de estreia da banda inglesa The Who. Seu
lançamento oficial aconteceu em 3 de dezembro de 1965, através do
selo Brunswick. As gravações ocorreram em abril de 1965 e de 11 a
15 de outubro daquele mesmo ano no IBC Studios, em Londres, na
Inglaterra. A produção ficou por conta de Shel Talmy.
Finalmente,
o RAC se redime de uma falha imperdoável e
apresenta em suas páginas uma das maiores bandas de todos os tempos,
o The Who. Conforme sua tradição, o Blog fará um breve
histórico com os fatos mais relevantes que se antecederam ao
lançamento do disco antes de adentrar o faixa a faixa.
Os
primórdios
Os
membros fundadores do Who, Roger Daltrey, Pete Townshend e
John Entwistle, cresceram em Acton, em Londres, na Inglaterra, e
todos foram para a escola chamada Acton County Grammar School.
O
pai de Townshend, Cliff, tocava saxofone e sua mãe, Betty, havia
cantado na divisão de entretenimento da Royal Air Force durante a
Segunda Guerra Mundial, sendo que ambos apoiavam o interesse do filho
no rock and roll.
Townshend
e Entwistle tornaram-se amigos em seu segundo ano na Acton County e
formaram um grupo de jazz trad; e Entwistle também tocava trompa na
Orquestra Sinfônica das Escolas do Middlesex. (Nota do Blog:
O trad jazz é um género de jazz com origem nas décadas de 50 e 60,
popular no Reino Unido. Este estilo de jazz tinha por base o
Dixieland e o ragtime).
Ambos
estavam interessados em rock, e Townshend particularmente admirava o
single de estreia de Cliff Richard, “Move It”. (Nota do
Blog: Sir Cliff Richard (nascido Harry Rodger Webb) é um cantor pop
britânico, músico, intérprete, ator e filantropo. Richard vendeu
mais de 250 milhões de discos em todo o mundo. Ele tem vendas totais
de mais de 21 milhões de singles no Reino Unido e é o terceiro
artista mais vendido na história do UK Singles Chart, atrás dos
Beatles e Elvis Presley).
Entwistle
tentou a guitarra, mas lutou com ela devido aos seus grandes dedos, e
mudou-se para o baixo, ouvindo o trabalho de guitarra de Duane
Eddy. Ele não pôde comprar um baixo e construiu o seu próprio
em casa. (Nota do Blog: Duane Eddy é um guitarrista
americano. No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, ele teve
uma série de discos de sucesso produzidos por Lee Hazlewood que
foram conhecidos por sua característica de som “fanhoso”,
incluindo “Rebel Rouser”, “Peter Gunn” e “Because They're
Young”).
Depois
da Acton County, Townshend frequentava a Ealing Art College, um
movimento que ele descreveu como profundamente influente no curso do
Who. (Nota do Blog: Ealing Art College (ou Ealing
Technical College e School of Art) foi uma instituição de ensino
adicional em St Mary's Road, Ealing, Londres, Inglaterra. No início
da década de 1960, a Escola de Arte era composta por Departamentos
de Moda, Gráficos, Design Industrial, Fotografia e Belas Artes, e a
faculdade era frequentada por músicos notáveis como Freddie
Mercury, Ronnie Wood e Pete Townshend).
Daltrey,
que estava na série anterior, mudara-se para Acton vindo de
Shepherd's Bush, uma área mais associada à classe trabalhadora. Ele
teve problemas para se adaptar à escola e se envolveu com gangues e
rock and roll.
Daltrey
foi expulso da escola aos 15 anos e encontrou trabalho em um canteiro
de obras. Em 1959, ele começou o Detours, a banda que
evoluiria para o Who. A banda fazia shows profissionais, como
eventos corporativos e de casamento, e Daltrey ficava de olho nas
finanças e na música.
Daltrey
viu Entwistle por acaso, na rua, carregando um baixo e o recrutou
para o Detours. Em meados de 1961, Entwistle sugeriu Townshend
como guitarrista, e a banda contava com Daltrey na guitarra-solo,
Entwistle no baixo, Harry Wilson na bateria e Colin Dawson nos
vocais.
O
grupo tocava músicas instrumentais do Shadows e do Ventures,
e uma variedade de covers de trad jazz e pop. Daltrey foi considerado
o líder e, de acordo com Townshend, “levava as coisas do jeito que
ele queria”. (Nota do Blog 1: The Shadows
(originalmente conhecido como Drifters) era um grupo de rock
instrumental inglês, e foi a banda de apoio de Cliff Richard
de 1958 a 1968, tendo também colaborado novamente em numerosas
turnês de reunião./Nota do Blog 2: The Ventures é uma banda
de rock instrumental americana, formada em 1958 em Tacoma, Washington
por Don Wilson e Bob Bogle).
Roger Daltrey |
Harry
Wilson foi demitido em meados de 1962 e substituído por Doug Sandom,
o qual era mais velho que o resto da banda, casado e músico mais
proficiente, tendo tocado semiprofissionalmente por dois anos.
Mais
mudanças e começo de profissionalização
Dawson
saiu do conjunto após discutir com Daltrey e, depois de ser
brevemente substituído por Gabby Connolly, Daltrey mudou-se para os
vocais. Townshend, com o incentivo de Entwistle, tornou-se o único
guitarrista.
Através
da mãe de Townshend, o grupo obteve um contrato de gestão com o
promotor local Robert Druce, que começou a promover a banda como um
ato de apoio.
O
Detours foram influenciados pelas bandas que apoiavam,
incluindo Screaming Lord Sutch, Cliff Bennett and the Rebel
Rousers, Shane Fenton and the Fentones, e Johnny Kidd
and the Pirates.
O
Detours estava particularmente interessado no ‘the
Pirates’, já que eles também tinham apenas um guitarrista,
Mick Green, o que inspirou Townshend a combinar bases e solos ao seu
estilo. O baixo de Entwistle tornou-se mais um instrumento de
liderança, tocando as melodias.
Surge
o The Who
Em
fevereiro de 1964, o Detours tomou conhecimento da existência
de um grupo chamado Johnny Devlin and the Detours e, então, mudaram
seu nome.
Townshend
e seu colega de quarto Richard Barnes passaram uma noite pensando em
nomes, concentrando-se em um tema de anúncios de piadas, incluindo
‘No One’ e ‘the Group’. Townshend preferiu ‘the Hair’, e
Barnes gostou de ‘the Who’ porque “tinha um ponche”.
Daltrey
escolheu “The Who” na manhã seguinte.
Quando
o Detours se tornou o Who, ele já se apresentava
regularmente, em locais como o Oldfield Hotel em Greenford, o White
Hart Hotel em Acton, o Goldhawk Social Club em Shepherd's Bush e o
Notre Dame Hall na Leicester Square.
O
grupo também substituiu Druce como gerente, optando por Helmut
Gorden, com quem eles conseguiriam uma audição com Chris
Parmeinter, da Fontana Records.
Parmeinter
encontrou problemas com a bateria e, de acordo com Doug Sandom,
Townshend imediatamente se voltou contra ele e ameaçou demiti-lo se
seu desempenho não melhorasse instantaneamente.
Sandom
saiu do conjunto com desgosto, mas foi persuadido a emprestar seu kit
para qualquer possível substituto. Sandom e Townshend não voltaram
a se falar por 14 anos.
Keith
Moon
Durante
um show, com um baterista substituto, no final de abril de 1964, em
Oldfield, a banda conheceu Keith Moon.
Moon
cresceu em Wembley e tocava em bandas desde 1961. Ele estava se
apresentando com uma banda semiprofissional chamada Beachcombers,
e desejava tocar em tempo integral.
Moon
tocou algumas músicas com o grupo, quebrando um pedal de bumbo e
arrancando uma pele de tambor. A banda ficou impressionada com sua
energia e entusiasmo e ofereceu-lhe o trabalho.
Keith
Moon se apresentou com o Beachcombers mais algumas vezes, mas
os encontros entraram em conflito de datas e ele escolheu se dedicar
ao Who.
Curiosamente,
o Beachcombers fizeram um teste com Doug Sandom, mas não
ficou impressionado e não o convidou para participar do conjunto.
Keith Moon |
Mais
mudanças
O
Who mudou de gerente, novamente, trazendo Peter Meaden para a
função.
Meaden
decidiu que o grupo seria ideal para representar o crescente
movimento dos mods, na Grã-Bretanha, que envolvia moda, scooters e
gêneros musicais, como rhythm and blues, soul e beat. (Nota do Blog:
Mod (abreviatura de Modernismo) é uma subcultura que teve origem em
Londres no final da década de 1950 e alcançou seu auge nos
primeiros anos da década de 1960. A subcultura mod teve início em
turmas de garotos adolescentes cujas famílias eram ligadas ao
comércio de tecidos em Londres. Esses primeiros mods eram geralmente
de classe média, obcecados pelas tendências da moda e estilos
musicais, como ternos italianos bem justos, jazz moderno e rhythm and
blues. Sua vida social urbana era impulsionada, em parte, por
anfetaminas. É crença popular que os mods e seus rivais, os
rockers, foram uma evolução dos Teddy Boys, uma subcultura da
Inglaterra da década de 1950. Os Teddy boys, influenciados pelo
rockabilly norte-americano, usavam trajes eduardianos e penteados
pomposos. No entanto, não existe um contínuo histórico consistente
entre os Teddy Boys e os Mods, cujas origens se encontram fora do
espectro do rock and roll).
Peter
renomeou o grupo para ‘High Numbers’, vestindo-os em roupas mod e
garantindo uma segunda audição mais favorável com a Fontana
Records, além de escrever as letras de ambos os lados do single
“Zoot Suit”/”I'm the Face”, em uma clara apelação para o
público mod.
A
música de “Zoot Suit” era, na verdade, “Misery”, do The
Dynamics, e “I'm the Face” foi emprestada de “I Got
Love If You Want It”, do Slim Harpo.
Embora
Meaden tenha tentado promover o single, este não conseguiu chegar ao
top 50, e a banda voltou a se chamar de Who.
O
grupo começou a melhorar sua imagem de palco: Daltrey começou a
usar o cabo do microfone como chicote no palco e, ocasionalmente,
pulava na multidão; Moon jogava as baquetas no ar no meio da batida;
Townshend imitava uma metralhadora com sua guitarra enquanto pulava
no palco e tocava guitarra com um rápido movimento de ‘moer’ o
braço, ou mesmo ficava de braços abertos, permitindo que sua
guitarra produzisse feedback em uma postura apelidada de ‘o Homem
Pássaro’.
Meaden
foi substituído como gerente por dois cineastas, Kit Lambert e Chris
Stamp. Eles estavam procurando por um jovem grupo de rock (e sem
contrato), sobre o qual eles pudessem fazer um filme, e haviam visto
a banda no Railway Hotel, em Wealdstone, local que se tornou regular
para as apresentações do conjunto.
Lambert
relacionou-se com Townshend e seu histórico na escola de arte, e
encorajou-o a escrever canções. Em agosto, Lambert e Stamp fizeram
um filme promocional com o grupo e seu público na Railway.
Então,
a banda mudou seu set para canções soul, rhythm and blues e covers
da Motown, e criou o slogan ‘Maximum R&B’.
Em
junho de 1964, durante uma apresentação na Railway, Townshend
acidentalmente quebrou a cabeça de sua guitarra no baixo teto do
palco. Enraivecido pela risada do público, ele destruiu o
instrumento a frente de todos, pegou outra guitarra e continuou o
show.
Na
semana seguinte, o público estava ansioso para ver uma repetição
do evento. Moon foi ‘obrigado’ a chutar sua bateria, e a arte
autodestrutiva se tornou uma característica do set ao vivo do Who.
John Entwistle |
Singles
No
final de 1964, o Who estava se tornando popular no clube
Marquee, em Londres, e uma crítica de seu show apareceu na famosa
revista britânica Melody Maker.
Lambert
e Stamp atraíram a atenção do produtor americano Shel Talmy, que
produziu o The Kinks. Townshend escreveu uma canção, “I
Can't Explain”, que deliberadamente soava como o The Kinks
para atrair a atenção de Talmy.
Talmy
viu o grupo nos ensaios e ficou impressionado. Ele o contratou para
sua produtora, e vendeu a gravação para o braço norte-americano da
Decca Records, o que significou que os primeiros singles do grupo
foram lançados na Grã-Bretanha através da Brunswick Records, um
dos selos da UK Decca para artistas norte-americanos.
“I
Can't Explain” foi gravada no começo de novembro de 1964, no Pye
Studios, em Marble Arch com Ivy League nos backing vocals, e Jimmy
Page tocando guitarra em “Bald Headed Woman”, seu lado B.
O
single tornou-se popular entre as estações de rádio piratas, como
a Rádio Caroline. A rádio pirata era importante para as bandas, já
que não havia estações de rádio comerciais no Reino Unido e a BBC
Radio tocava pouca música pop.
O
grupo ganhou mais exposição quando apareceu no programa de
televisão Ready Steady Go! Lambert e Stamp receberam a tarefa
de encontrarem ‘adolescentes típicos’ e convidaram a plateia
regular do Goldhawk Social Club.
A
entusiasmada recepção na televisão e airplay regular nas rádios
piratas ajudou o single a lentamente subir nas paradas, no início de
1965, até chegar ao top 10.
O
single seguinte, “Anyway, Anyhow, Anywhere”, de Townshend e
Daltrey, apresenta inovações de guitarra (como pick sliding, toggle
switching e feedback), que foram tão pouco convencionais, provocando
a rejeição inicial do braço norte-americano da Decca Records.
Mesmo assim, o single alcançou o top 10 no Reino Unido e foi usado
como tema para o programa Ready Steady Go!
A transição para uma banda de sucesso, com material original,
encorajada por Lambert, não se mostrava bem com Daltrey, e uma
sessão de gravação de covers de R&B não foi lançada.
Os membros do Who não eram amigos íntimos, à exceção de
Moon e Entwistle, que gostavam de visitar casas noturnas juntos, no
West End, de Londres.
O grupo passou por um período difícil ao visitar a Dinamarca em
setembro, o que culminou com Daltrey jogando as anfetaminas de Moon
no vaso sanitário. Imediatamente após retornar à Grã-Bretanha,
Daltrey foi demitido, mas acabou reintegrado sob a condição de que
o conjunto se tornasse uma democracia sem sua liderança dominante.
Neste momento, o grupo recrutou Richard Cole como roadie.
O próximo single, “My Generation”, saiu em outubro. Townshend
havia o composto como um blues lento, mas depois de várias
tentativas abortivas, foi transformado-o em uma música mais poderosa
com um solo de baixo de Entwistle.
A música usava truques como um gaguejar vocal para simular a fala de
um mod em (uso de) anfetaminas. Townshend insistiu, em entrevistas,
que a letra ‘Espero morrer antes de envelhecer’ não deveria ser
tomada literalmente.
Chegando ao 2º lugar, “My Generation” é o single mais
bem-sucedido do grupo no Reino Unido.
Pete Townshend |
My Generation, o álbum
No começo de 1965, um álbum foi iniciado, durante o período
‘Maximum R&B’ do The Who, e incluiu versões cover das
populares “I Don't Mind” e “Please, Please, Please”, ambas de
James Brown, além das inclinações R&B das faixas
compostas pelo guitarrista da banda, Pete Townshend.
Nove faixas foram gravadas, mas várias delas foram rejeitadas para
darem lugar às originais criadas por Townshend, em novas sessões
que começariam em outubro.
De acordo com o livreto da edição Deluxe, “I'm a Man” foi
eliminada do lançamento, nos EUA, devido ao seu conteúdo sexual. O
álbum norte-americano também usou a versão britânica editada de
“The Kids Are Alright”.
Muitas das músicas do álbum foram lançadas como singles.
Além de “My Generation”, que precedeu o lançamento do álbum e
alcançou a segunda posição no Reino Unido, “A Legal Matter”,
“La-La-La Lies” e “The Kids Are Alright” também foram
lançadas como singles domésticos, pela Brunswick, depois que a
banda começou a lançar material novo pelo selo Reaction, em 1966.
Como eles não eram promovidos pela banda, eles não tiveram sucesso
comercial como “My Generation” ou como os singles da Reaction.
“My Generation” e “The Kids Are Alright”, em particular,
permanecem duas das músicas mais regravadas do grupo; enquanto “My
Generation” é uma peça bruta e agressiva que pressagiou os
movimentos heavy metal e punk rock, “The Kids Are Alright” é uma
canção pop mais sofisticada, com guitarras, harmonias em três
partes e uma melodia vocal ritmada, embora ainda mantendo o ritmo de
condução de outras canções do Who do período.
A capa original britânica apresenta uma fotografia da banda.
Vamos às faixas:
OUT IN THE STREET
Já na primeira faixa de seu álbum de estreia, o Who demonstra um de seus diferenciais: a bateria frenética de Keith Moon e o baixo preciso de John Entwistle. Eles criam uma base sólida para a guitarra catártica de Pete Townshend.
A letra fala sobre uma garota:
I know your mind
I can see that you're in need
I'll show you woman
Yeah, that you belong to me
I DON’T MIND
Versão profunda e repleta de sentimento para "I Don't Mind", na qual a guitarra de Pete Townshend aparece precisa em solos muito envolventes. A interpretação de Roger Daltrey é incrível.
A letra é sobre um amor:
I don't mind
Your love so sound
I don't mind
It can't go cold
Trata-se de um cover para a versão originalmente lançada por James
Brown em 1961.
THE GOOD’S GONE
"The Good's Gone" é uma pequena amostra daquilo que o Who se tornaria. Para o ano de seu lançamento, a faixa já se revela mais agressiva, seja pela guitarra de Pete Townshend, seja pela bateria ousada de Keith Moon.
A letra é sobre um relacionamento no final:
Now it ain't no fun
And the good's gone now
We used to love as one
But we have forgotten now
LA-LA-LA-LIES
Nesta música, o grupo propõem uma sonoridade bastante sessentista, utilizando uma abordagem mais suave e com vocais mais "pop". O resultado final é divertido e o destaque novamente vai para a participação de Moon.
Evidentemente, a letra fala sobre mentiras:
I don't insist that you feel bad
I just want to see you smile
Don't ever think you made me mad
I didn't listen to your
“La-La-La-Lies” foi lançada como single, mas não repercutiu em
termos das principais paradas de sucesso.
Townshend escreveu a música durante o verão de 1965, e a banda
gravou consistentemente com suas demos em casa. De acordo com ele, a
música “não era tão boa assim antes de eu tocá-la com Keith
[Moon]. Não é a minha favorita no LP. Ela me lembra um pouco de
Sandie Shaw”.
Nicky Hopkins junta-se à banda no piano, para a canção.
Em comum com várias músicas de My Generation, o tema de
“La-La-La-Lies” é a ‘ilusão de identidade’. Dave Marsh,
crítico da Rolling Stone, chamou-a de “tão pessoal quanto
qualquer coisa que Pete Townshend escreveu”. As letras criticam um
amigo que mente sobre o cantor.
MUCH TOO MUCH
"Much Too Much" aumenta mais a intensidade e, novamente repetindo, para os anos 60, revela-se com uma pegada poucas vezes vista. Ótima canção.
A letra é romântica:
If I ever leave you darlin'
I hope you see
That I really love you
But your love's too heavy on me
MY GENERATION
Não é exagero afirmar que a clássica "My Generation" seja um dos primórdios do Hard Rock. Pesada como muito pouca coisa na época era, a música possui uma seção rítmica pulsante e a guitarra de Townshend voraz! A "cereja do bolo" é a atuação de Daltrey nos vocais. Sensacional!
A letra fala sobre a juventude em seu espaço social:
People try to put us down
(Talkin' 'bout my generation)
Just because we get around
(Talkin' 'bout my generation)
Things they do look awful cold
(Talkin' 'bout my generation)
Hope I die before I get old
(Talkin' 'bout my generation)
“My Generation” é um dos maiores clássicos do The Who.
A canção foi lançada como single, antes mesmo do álbum, atingindo
a excepcional 2ª posição da parada britânica desta natureza.
Ainda ficou com o 74ª lugar na sua correspondente norte-americana.
Townshend supostamente escreveu a canção em um trem, e é afirmado
que ele teria sido inspirado pela Rainha Mãe, que é acusada de ter
rebocado o carro de Townshend (um Packard 1935) numa rua em
Belgravia, porque ela ficou ofendida com sua visão durante seu
passeio diário pela vizinhança.
Townshend também creditou a “Young Man Blues”, de Mose Allison,
como uma inspiração para a canção, dizendo “Sem Mose eu não
teria escrito “My Generation””. Townshend disse à revista
Rolling Stone, em 1985, que ““My Generation” é muito
sobre tentar encontrar um lugar na sociedade”.
Um dos elementos mais marcantes da música é sua letra, considerada
uma das mais destiladas declarações de rebeldia juvenil na história
do rock. O tom da faixa sozinho ajudou a torná-la um conhecido
ancestral do movimento punk rock.
Um dos versos mais citados - e patentemente reescritas - da história
do rock é “Espero morrer antes de envelhecer”, sarcasticamente
enunciada pelo vocalista Roger Daltrey.
Como reflexo da influência anterior do movimento Mod sobre o The
Who, a música possui claras influências do rhythm and blues
americano, mais explicitamente na forma de chamada e resposta dos
versos. Daltrey canta uma linha, e os backing vocalists,
Pete Townshend (baixa harmonia) e John Entwistle (alta harmonia),
respondem com o refrão ‘Talkin' 'bout my generation’.
Outro aspecto importante de “My Generation” é a entrega de
Daltrey: uma gagueira irritada e frustrada. Várias histórias
existem quanto à razão para essa entrega distinta que vão desde um
‘feliz acidente’ (algo acidental, mas que funcionou para a versão
final) até uma tentativa de se imitar um Mod britânico com pressa.
A instrumentação da música reflete a letra: rápida e agressiva.
Significativamente, “My Generation” também apresentou um dos
primeiros solos de baixo na história do rock.
Versões ao vivo da música, muitas vezes deságuam em improvisos
prolongados, durando 15 minutos, como evidenciado pela versão que
aparece em Live at Leeds. As gravações ao vivo de 1969 a
1970 incluem trechos de músicas do álbum Tommy.
A música foi nomeada a 11ª colocada, da revista norte-americana
Rolling Stone, em sua lista the 500 Greatest Songs of All
Time e 13ª lugar da lista das 100 Maiores Músicas de Rock &
Roll, do canal de televisão VH1.
Também faz parte das 500 músicas do The Rock and Roll Hall of
Fame, The Rock and Roll Hall of Fame's 500 Songs that Shaped
Rock and Roll, e foi introduzida no Grammy Hall of Fame
por seu valor “histórico, artístico e significativo”. Em 2009,
foi nomeada a 37ª maior canção de hard rock da VH1.
THE KIDS ARE ALRIGHT
"The Kids Are Alright" é mais suave e menos agressiva, mas não deixa de ser uma música muito interessante, apostando em todo o ritmo oferecido pela seção rítmica enquanto a guitarra de Townshend brilha.
A letra fala sobre tomar decisões:
And I know if I don't
I'll go out of my mind
Better leave her behind
With the kids, they're alright
The kids are alright
“The Kids Are Allright” é outro clássico do The Who.
A canção foi lançada como single, atingindo a 41ª posição da
principal parada britânica, conquistando 106ª colocação na sua
correspondente norte-americana.
“The Kids Are Alright” foi lançada como single seis meses depois
de aparecer pela primeira vez no LP, primeiro nos Estados Unidos e
depois no Reino Unido.
Embora não tenha sido um grande sucesso na época, a música, junto
a “My Generation”, tornaram-se hinos da banda e da cultura Mod da
Inglaterra, na década de 1960.
Mais tarde, tornou-se o nome do documentário sobre a banda, em 1979.
A música foi editada para o single americano e esta versão se
tornou muito mais comum que a versão original do álbum.
Um filme promocional para a música foi filmado no Hyde Park, em
julho ou agosto de 1966.
Em 2006, a música foi listada no 34º lugar na lista da Pitchfork
com as 200 maiores canções dos anos 60.
A música foi alvo de covers por bandas como The Queers,
Goldfinger, Eddie & Hot Rods, Dropkick Murphys,
Hi-Standard, Green Day, Pearl Jam, The
Raveonettes e Belle & Sebastian, que fecharam o set no
Bowlie Weekender. Em 1999.
Em 1995, a banda Flatus gravou uma versão para o seu álbum
Talk Show Hero. Em 2008, a banda de Billy Bob Thornton, The
Boxmasters, gravou uma versão da música como o número de
encerramento do segundo disco de seu álbum The Boxmasters. A
música também foi gravada para um álbum de covers da vocalista do
Matthew Sweet and Bangles, Susanna Hoffs.
Keith Moon, o baterista do The Who, também gravou um cover
desta canção para seu álbum solo Two Sides of the Moon.
Esta música é referenciada no título da música “The Kids Aren't
Alright” do the Offspring, “The Kids Are Insane” do Urge
Overkill, “The Kids Are All Wrong” da Lagwagon, “All
the Kids Are Right” da Local H, e “The Kids” da The
Parlor Mob, na qual o refrão ainda diz ‘No the kids ain't
alright’, assim como a faixa “Kids” de Robbie Williams e
Kylie Minogue.
O título da música também foi usado no filme The Kids Are All
Right e para um episódio do programa de televisão americano
Supernatural. Também
foi apresentada no episódio dos Simpsons ‘The Kids Are All Fight’.
PLEASE, PLEASE, PLEASE
Nesta ótima versão, o grupo aposta em um Blues Rock generoso, com a guitarra de Townshend abusada e o baixo de Entwistle absolutamente dominante. O resultado final é incrível!
A letra é romântica:
Please, please, please, please me (You don't have to go)
Baby please, baby please, please me (You don't have to go)
Baby please, baby please don't go (You don't have to go)
Don't go, I said baby, don't baby
I love you so (You don't have to go)
Trata-se de um cover da canção originalmente composta por Johnny
Terry e James Brown, lançada como single em 1956.
IT’S NOT TRUE
"It's Not True" é uma faixa rápida, envolvente e com uma melodia deliciosa. Daltrey abusa de seus ótimos vocais. Entwistle e Townshend brilham novamente.
A letra é sobre autenticidade:
I haven't got eleven kids
I weren't born in Baghdad
I'm not half-chinese either
And I didn't kill my dad
I’M A MAN
O Blues Rock retorna ao disco com peso e ferocidade. Keith Moon dá uma pequena amostra de seu talento e de sua fúria nas baquetas. Os solos da guitarra de Townshend são bem legais.
A letra possui apelo sexual:
All you pretty women
Stand on a big long line
When I get you in a bed
I can make love all time
In an hour's time
Now i'm a man
I spell M-A-N... man
Trata-se de outra versão cover no álbum, desta feita da canção
originalmente composta e lançada por Bo Diddley, como single,
em 1955.
A LEGAL MATTER
O riff inicial de "A Legal Matter" é bem legal. A faixa é rápida e intensa, com bastante ritmo e uma melodia cativante. Os vocais de Townshend deixam um pouco a desejar, mas não diminuem o valor da canção.
A letra fala sobre casamento:
Now it's a legal matter, baby
Marryin's no fun
It's a legal matter, baby
A legal matter from now on
A canção foi lançada como single e atingiu a 32ª posição da
principal parada britânica desta natureza.
O tema da música é uma quebra de promessa e marca a primeira vez
que Townshend cantou os vocais, em vez de Roger Daltrey,
possivelmente porque a música era muito próxima de Roger, que
estava se divorciando de sua esposa na época.
THE OX
A décima-segunda - e última - faixa de My Generation é "The Ox". The Who na essência, "The Ox" é uma apreciação daquilo que o grupo se tornaria. A bateria de Moon está frenética e a guitarra de Townshend permanece indomável. Fecha o disco com chave-de-ouro.
A música foi raramente tocada ao vivo pelo Who. A única aparição
conhecida desta canção foi em um medley de “My Generation”, no
Concertgebouw, em Amsterdã, Holanda, em 29 de setembro de 1969,
parte da turnê de Tommy.
O título é um apelido dado a Entwistle, pela banda, por causa de
sua forte constituição e aparente habilidade de “comer, beber ou
fazer mais do que o resto deles”.
Considerações Finais
My Generation fez bastante barulho no Reino Unido,
apresentando canções fortes e uma banda com talento incomparável.
O álbum atingiu a ótima 5ª posição da principal parada britânica
desta natureza, embora não tenha repercutido na sua correspondente
norte-americana. Ainda ficou com o 14º lugar na principal parada
alemã.
Em sua coluna de 1967, para a revista Esquire, o crítico de
música Robert Christgau chamou My Generation de “o rock
mais duro da história”. Em 1981, ele incluiu sua versão americana
em sua “biblioteca de registros básicos”.
Richie Unterberger, do site AllMusic, dá nota máxima ao
trabalho, afirmando: “Uma estreia explosiva e o mais difícil mod
pop gravado por qualquer um. Na época de seu lançamento, também
tinha as guitarras e baterias mais ferozmente poderosas já
capturadas em um disco de rock”.
Por fim, Richie conclui: “Enquanto a execução era às vezes
grosseira, e as composições não tão sofisticadas quanto em breve
se tornariam, o Who nunca superou o nível de energia pura
deste disco”.
Em 2003, My Generation ficou em 237º lugar na lista da
revista Rolling Stone dos 500 maiores álbuns de todos os
tempos, e foi nomeado o segundo maior álbum de guitarra de todos os
tempos pela revista britânica Mojo.
Em 2004, ficou em 18º lugar na lista da revista britânica Q
de 50 Best British Albums Ever. Em 2006, ficou em 9º lugar na
lista 100 Greatest British Albums do site NME.
Em junho de 2009, a versão americana do álbum, lançada em 1966, e
nomeada The Who Sings My Generation, foi selecionada para o
National Recording Registry, da US Library. O álbum, considerado
‘culturalmente significativo’, será preservado e arquivado.
Escrevendo para a BBC, Chris Jones descreveu o álbum como “uma das
mais vitais e importantes razões para se amar o rock 'n' roll”.
Depois de My Generation, o Who rompeu com Sheldon
Talmy, o que significou um fim abrupto do contrato de gravação. A
resultante da celeuma legal culminou em Talmy mantendo os direitos
das fitas master, o que impediu que o álbum fosse reeditado até
2002.
O Who assinou com o selo de Robert Stigwood, Reaction, e
lançaram “Substitute”. Townshend disse que escreveu a música
sobre a crise de identidade e como uma paródia de “19th Nervous
Breakdown”, do Rolling Stones,
e foi o primeiro
single a apresentá-lo tocando uma guitarra acústica de doze cordas.
Talmy apresentou uma ação legal sobre o lado B, “Instant Party”,
e o single foi recolhido. Um novo lado B, “Waltz for a Pig”, foi
gravado pela Graham Bond Organization sob o pseudônimo ‘the
Who Orchestra’.
Em 1966, o Who lançou “I'm a Boy”, sobre um menino
vestido como uma menina, tirado de uma coleção abortada de músicas
chamada Quads; a faixa “Happy Jack”; e um EP, Ready
Steady Who, que equivaleu com suas aparições regulares no Ready
Steady Go!
O grupo continuou a ter conflitos; em 20 de maio, Moon e Entwistle
estavam atrasados para um show no Ready Steady Go!, ambientado
com Bruce Johnston, dos Beach Boys. Durante “My Generation”,
Townshend atacou Moon com sua guitarra; Moon sofreu um olho roxo e
hematomas, e ele e Entwistle deixaram a banda, mas mudaram de ideia,
voltando a se reunirem uma semana depois.
Moon continuou procurando outro trabalho, e Jeff Beck o fez
tocar bateria em sua música “Beck's Bolero” (com Page, John Paul
Jones e Nicky Hopkins), pois ele estava “tentando tirar Keith do
Who”.
O segundo álbum do The Who, A Quick One, seria lançado
em dezembro de 1966.
My Generation vendeu mais de 100 mil cópias apenas no Reino
Unido.
Formação:
Roger Daltrey - Vocal, Gaita
Pete Townshend - Guitarra, Backing Vocals, Vocal em 11
John Entwistle - Baixo, Backing Vocals
Keith Moon - Bateria
Músicos
adicionais:
Nicky Hopkins - Piano
Faixas:
01. Out in the Street (Townshend) - 2:31
02. I Don't Mind (Brown) - 2:36
03. The Good's Gone (Townshend) - 4:02
04. La-La-La-Lies (Townshend) - 2:17
05. Much Too Much (Townshend) - 2:47
06. My Generation (Townshend) - 3:18
07. The Kids Are Alright (Townshend) - 3:04
08. Please, Please, Please (Brown/Terry) - 2:45
09. It's Not True (Townshend) - 2:31
10. I'm a Man (Diddley) - 3:21
11. A Legal Matter (Townshend) - 2:48
12. The Ox (Townshend/Entwistle/Moon/Hopkins) - 3:50
Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.letras.mus.br/the-who/
Opinião do Blog:
É praticamente inaceitável que uma banda do porte e com a relevância histórica do The Who tenha demorado tanto tempo a aparecer no RAC.
O grupo era formado por músicos que marcaram a história do Rock. Roger Daltrey é um vocalista incrível. Townshend era a principal força criativa do Who, além de um guitarrista de primeira, enquanto Entwistle dispensa maiores comentários.
E Keith Moon era um baterista muito à frente de seu tempo. A forma, técnica e a fúria com que ele atacava seu instrumento ainda permanecem como referências para o Rock, mesmo 5 décadas depois de seus trabalhos iniciais.
Além disso, o The Who era uma banda muito criativa e inovadora. Contemporâneos de Beatles e Stones, o grupo se diferenciava por unir a sonoridade típica daqueles gloriosos tempos com uma abordagem, até então, inovativa e inédita.
O Who era extremo e pesado como nenhum conjunto era na metade dos anos 60. Entwistle criava a base sólida para que a guitarra de Townshend brilhasse, enquanto Moon destruía tudo na bateria. Aliado ao carisma de Daltrey, o grupo conquistava o público com performances matadoras.
Embora My Generation demostre uma banda em formação e ainda configurando sua sonoridade, o talento do conjunto está presente em uma coleção de canções memoráveis e totalmente encantadoras.
As 3 canções covers são uma prova do talento do Who em uma perspectiva Blues Rock, especialmente na excepcional "I'm a Man".
A abordagem excêntrica do Who para a sonoridade da época é apresentada com total categoria em canções como "It's Not True", "Much Too Much" e na clássica "The Kids Are Alright".
Mas as preferidas do RAC ficam com as pauladas do grupo no disco: a incomparável faixa-título, "My Generation", e a destruidora "The Ox".
Enfim, cabe mais uma vez ressaltar que My Generation é um álbum de qualidade excepcional. A estreia do The Who já mostrava se tratar de uma banda diferente, muito especial e que criaria obras que entrariam para a história definitiva do Rock. Disco sensacional!
Sempre que ouço o primeiro álbum do The Who entendo o que eles queriam dizer com "Maximum R&B", especialmente nas versões para as músicas do James Brown e do Bo Diddley. A banda tinha em Pete Townshend um compositor de mão cheia, que já se mostrava muito mais maduro do que seus 20 anos em "My Generation", "A Legal Matter", "The Kids are Alright" e "The Good's Gone". E o que falar de "The Ox"? O peso do grupo nessa música é avassalador, completamente fora de sua época em 1965.
ResponderExcluirPara mim o único defeito do The Who foi ter gravado poucos discos, mas isso se deve ao fato de que o repertório se baseava em composições do Pete Townshend. Se Daltrey escrevesse algumas músicas e John Entwistle abrisse fizesse letras menos pessoais, quem sabe a banda teria lançado mais álbuns...
Sim, mas até a morte do Keith Moon, a banda tinha uma peridiocidade ok. Após ela é que os hiatos ficaram enormes.
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