Magick Brother é o álbum de estreia da banda
de origem francesa chamada Gong. Seu lançamento oficial aconteceu em março de
1970, através do selo BYG Actuel. As gravações ocorreram entre os meses de
setembro e outubro de 1969, no Studio ETA e no Studio Europa Sonor, ambos em
Paris, na França. A produção ficou a cargo de Jean Georgakarakos e de Jean-Luc
Young.
O RAC traz até suas páginas o
álbum Magick Brother, o qual é a
estreia da banda Gong. Após um breve
histórico, o tradicional faixa a faixa é apresentado.
Daevid
Allen
Christopher David Allen nasceu em Melbourne,
Austrália, em 13 de janeiro de 1938.
Em 1960, inspirado pelos escritores da chamada
Beat Generation, que ele havia descoberto enquanto trabalhava em uma livraria
de Melbourne, Allen viajou para Paris, onde ficou no Beat Hotel, mudando-se
para um quarto recentemente desocupado por Allen Ginsberg e Peter Orlovsky.
Enquanto ganhava o dia vendendo o
International Herald Tribune, em torno de Le Chat Qui Pêche e do Latin Quarter,
ele conheceu Terry Riley e também ganhou acesso gratuito aos clubes de jazz da
região.
Em 1961, Allen viajou para a Inglaterra e
alugou um quarto em Lydden, perto da cidade de Dover, onde logo começou a
procurar trabalho como músico. Ele primeiro respondeu a um anúncio de jornal
oferecendo vaga a um guitarrista para se juntar ao grupo de Dover, Rolling
Stones (sem qualquer conexão com a banda mais famosa desse nome), que havia
perdido o vocalista/guitarrista Neil Landon, mas não se juntou a eles.
Depois de se encontrar com William S.
Burroughs, e inspirado nas filosofias de Sun Ra, ele formou um trio de free jazz,
o Daevid Allen Trio ('Daevid' adotado como uma afetação de David), que incluía
o filho de seu senhorio, com 16 anos, Robert Wyatt. Eles se apresentaram nas
peças de teatro de Burroughs baseadas no romance The Ticket That Exploded.
Em 1966, junto com Kevin Ayers e Mike
Ratledge, eles formaram a banda Soft Machine,
cujo nome veio do romance de Burroughs, The Soft Machine. Ayers e Wyatt já
haviam tocado na banda Wilde Flowers.
Após uma turnê pela Europa, em agosto de
1967, Allen foi recusado a reentrar no Reino Unido porque havia ultrapassado o
tempo de permanência de seu visto em uma visita anterior. Ele voltou a Paris,
onde formou o Gong, juntamente com sua parceira Gilli Smyth.
Daevid Allen |
Antecedentes
do Gong
Em setembro de 1967, o vocalista e
guitarrista australiano Daevid Allen, membro da banda inglesa de rock Soft Machine, teve sua entrada negada
no Reino Unido por três anos, após uma turnê francesa, porque seu visto havia
expirado.
Ele se estabeleceu em Paris, onde ele e sua
parceira, a professora de Sorbonne, nascida em Londres, Gilli Smyth, estabeleceram
a primeira encarnação do Gong (mais
tarde referida por Allen como "Protogong"), juntamente com Ziska Baum
nos vocais e Loren Standlee na flauta.
No entanto, a banda nascente chegou a um fim
abrupto durante a revolução estudantil de maio de 1968, quando Allen e Smyth
foram forçados a fugir do país após a emissão de um mandado de prisão. Eles
foram para Deià in Majorca, onde haviam vivido por um tempo em 1966.
Gilli Smyth |
Surge
o Gong
Em agosto de 1969, o diretor de cinema Jérôme
Laperrousaz, amigo íntimo da dupla, os convidou de volta à França para gravarem
uma trilha sonora de um filme de corrida de moto que ele estava planejando.
Isso não deu em nada na época, mas eles foram
abordados posteriormente por Jean Karakos, do recém-formado selo independente
BYG Actuel, para gravarem um álbum e, assim, começaram a montar uma nova
formação do Gong em Paris, recrutando
sua primeira seção rítmica com Christian Tritsch (baixo) e Rachid Houari
(bateria e percussão) e se reconectando com um saxofonista chamado Didier
Malherbe, que eles conheceram em Deià.
Entretanto, Tritsch não estava disponível a
tempo para as sessões e, portanto, Allen tocou baixo. O álbum, intitulado Magick Brother, foi concluído em
outubro.
O renascido Gong fez sua estréia no BYG Actuel Festival, na pequena cidade
belga de Amougies, em 27 de outubro de 1969, acompanhado por Danny Laloux na
trompa e na percussão, e Dieter Gewissler e Gerry Fields nos violinos, e a
banda foi apresentada ao palco, por ninguém menos que Frank Zappa.
Magick
Brother
Magick
Brother é o primeiro álbum de estúdio da banda Gong, gravado em Paris, durante
setembro e outubro de 1969, e lançado em março de 1970 pela gravadora francesa
BYG Actuel.
O baixista recentemente recrutado da banda,
Christian Tritsch, não estava pronto a tempo de tocar no álbum, então o
vocalista/compositor/guitarrista Daevid Allen tocou o baixo; uma foto de Allen
gravando faixas com seu baixo, para o disco, é apresentada na capa.
O grupo também fez uso dos contrabaixistas de
jazz Earl Freeman e Barre Phillips, que estavam trabalhando para a gravadora ao
mesmo tempo, em três faixas do disco.
Ocasionalmente, o colaborador do Gong, Dieter Gewissler, que normalmente
tocava violino, também contribuiu com um contrabaixo para duas canções.
As capas do LP foram impressas antes da ordem
final das faixas e de seus títulos serem decididos, e as músicas "Rational
Anthem" (AKA "Change the World") e "Glad To Sad To
Say" foram listadas de maneira errada.
Didier Malherbe |
Curiosamente, o lado A do LP original foi
chamado de ‘early morning’ e o lado B de ‘late night’.
Vamos às faixas:
MYSTIC SISTER, MAGICK BROTHER
Após uma introdução bem distópica e
experimental, a faixa se torna um Rock leve e suave, de influência psicodélica
e com a flauta de Malherbe como protagonista.
A letra possui um sentido místico:
Believe what you want for you its true
You are your boundry
Give what you've got
And you'll get more than you have found already
RATIONAL
ANTHEM (CHANGE THE WORLD)
A suavidade continua sendo preponderante em “Rational
Anthem (Change the World”, uma canção bem interessante e com vocais bem
criativos.
A letra fala sobre mudança:
Sitting up there in your ivory city
Look so ugly and you feel so pretty
Tick tock heart clock waiting til the bombs drop
Too late now
GLAD
TO SAD TO SAY
Esta música possui um clima mais melancólico,
com um sentimento de tristeza mesmo, mas que não a torna menos interessante.
Pelo contrário, a atmosfera da faixa é muito enigmática.
A letra possui um sentido de despedida:
Oh my,
Sad to say goodbye,
Goodbye to all the wisdom in the world
Glad to say goodbye,
Goodbye to all the children in the world
CHAINSTORE
CHANT / PRETTY MISS TITTY
Um Rock com a cara bem sessentista é a pegada
desta canção. O refrão é bem agradável e a musicalidade pop acaba cativando.
A letra possui sentido sensual:
Pretty Miss Titty
She works in the city
Whiter than whiter
She gets up typewriter
Men catch up later
They don't love or hate her
They just masturbate her potatoe
Well big bad businessman
Have you any love
FABLE
OF A FREDFISH / HOPE YOU FEEL OK
Esta faixa é mais experimental, com aspectos
bem inventivos e pouco ortodoxos para os padrões da época.
A letra fala sobre seguir em frente:
And it feels like morning
And the sun is shining
If it's today tomorrow
There'll be no time for sorrow
You find that you always knew
The things to do
EGO
“Ego” já possui uma roupagem mais
convencional, sendo uma música mais suave, embora com a pegada jazzy mais
evidente. Bastante legal.
A letra é
simples:
Now's the time to leave the show
Ego, there you go
Leave the merry-go-round and go
Ego, there you go
GONG
SONG
“Gong Song” é uma canção com roupagem mais
costumeira, novamente contando com a flauta como uma protagonista. Outro bom
momento do disco.
A letra possui um sentido folclórico:
You know
Once upon a time, in a far-off planet
There was a little green man, came down by comet
I first met him in a London taxi
He told me his name was Mr. Pothead Pixie
He told me he came from a planet called Gong
He sang me
this small green song
PRINCESS
DREAMING
Esta é mais uma composição futurista e de
ordem pouco convencional.
A letra é
simples:
Now, she goes to bed, to bed
Now she's going to bed, to bed
Now she is in bed
Her mother is kissing her
She's kissing her goodnight
5
AND 20 SCHOOLGIRLS
Esta é uma música bem interessante, um Rock
sessentista muito simples, mas com a bateria sendo uma protagonista.
A letra é
divertida:
Five and twenty schoolgirls lost in the fog
Nobody can find them, even with a dog
Everybody wants to put them in the bag
But little did they know that they're hiding in a log
COS
YOU GOT GREEN HAIR
A décima – e última – faixa de Magick Brother
é “Cos You Got Green Hair”. O disco é encerrado com uma sonoridade bem viajante,
com viés transcendental, em uma abordagem curiosa.
A letra possui um sentido romântico:
I want you
'Cause you got green hair
'Cause of all the clothes you wear
'Cause you come from nowhere
Obs.:
Foi-se levada em consideração a versão do álbum em CD.
Considerações Finais
Magick
Brother foi lançado em março de 1970, e foi seguido em abril por
um single, "Est-Ce Que Je Suis; Garçon Ou Fille?"/"Hip Hip
Hypnotise Ya", que novamente apresentava Laloux e Gewissler.
Em outubro, a banda mudou-se para um pavilhão
de caça abandonado de 12 quartos chamado Pavillon du Hay, perto de Voisines e
Sens, cerca de 120 km a sudeste de Paris. Neste local eles permaneceriam como
base até o início de 1974.
Houari deixou a banda no começo de 1971 e foi
substituído pelo baterista inglês Pip Pyle, a quem Allen havia sido apresentado
por Robert Wyatt, durante a gravação de seu primeiro álbum solo, Banana Moon.
A nova formação gravou uma trilha sonora do
filme de Laperrousaz, agora intitulado Continental Circus, e tocou no segundo
Glastonbury Festival, mais tarde documentado no álbum Glastonbury Fayre.
Em seguida, começaram a trabalhar em seu
segundo álbum de estúdio, Camembert
Electrique, de 1971.
Formação:
Daevid Allen - Guitarra, Baixo, Vocal
Gilli Smyth - ‘Sussurro Espacial’
Didier Malherbe - Flauta, Saxofone soprano
Rachid Houari - Bateria, Percussão
Músicos
Adicionais:
Barre Phillips - Contrabaixo
Earl Freeman - Contrabaixo
Burton Greene - Piano
Dieter Gewissler - Contrabaixo
Tasmin Smyth - Voz
Faixas:
01. Mystic
Sister, Magick Brother - 5:54
02. Rational
Anthem - 4:08
03. Glad To Sad
To Say - 3:45
04. Chainstore
Chant & Pretty Miss Titty - 4:49
05. Fable Of A Fredfish
& Hope You Feel O.K. - 4:43
06. Ego - 3:58
07. Gong Song - 4:12
08. Princess
Dreaming - 2:56
09. Five &
Twenty Schoolgirls - 4:30
10. Cos You Got
Green Hair - 5:05
Observação:
Todas as canções foram compostas por Daevid Allen, mas foram creditadas a Gilli
Smyth por motivos legais.
Letras:
Para o conteúdo completo das letras,
recomenda-se o acesso a: https://genius.com/albums/Gong/Magick-brother
Opinião
do Blog:
Esta foi uma ótima oportunidade do RAC
iniciar suas comemorações de seus 9 anos de existência.
Magick
Brother é o álbum de estreia da banda Gong e marca o ponto inicial de um grupo de vanguarda, cuja
musicalidade se arriscava em caminhos pouco convencionais para o início da
década de 1970.
Composto por músicos muito competentes, o Gong ainda não apresenta sua
musicalidade mais Progressiva em Magick
Brother, embora sua veia experimental esteja, sim, muito presente em faixas
como “Fable Of A Fredfish & Hope You Feel O.K.” e “Cos You Got Green Hair”.
Em outras canções, o Rock Psicodélico, com
evidente viés sessentista, flerta também com o lado Pop, mais acessível, mas
construído de modo criativo e interessante. As letras refletem bem isso.
O RAC escolhe como suas
favoritas “Glad to Sad to Say”, “Ego” e “Gong Song”.
Enfim, o Gong
é uma banda extremamente criativa e altamente recomendada pelo Blog. Magick Brother ainda não traz a
musicalidade clássica do conjunto, mas é um álbum divertido e bem agradável de
ser ouvido.
Os discos do Gong pré-Virgin são pouco conhecidos, infelizmente, e são um tanto diferentes da famosa trilogia de Zero The Hero, dos Octave Doctors e dos Pothead Pixies. Para minha suprema vergonha demorei uns vinte anos para entender o jogo de palavras envolvido na metáfora das Flying Teapots, mas, tudo bem. É uma pena que por questões de licenciamento esses discos não foram incluídos na box "Love From Planet Gong" (uma das melhores que circulam por aí no quesito "obras completas" de uma banda - ou melhor, de uma fase específica dela), porque é interessante ouvir "Magick Brother...", "Continental Circus" e "Camembert Electrique" numa sequência antes de mergulhar na box. "Ego" e "Gong Song" são as minhas favoritas aqui, e fico imaginando como elas teriam soado com Steve Hillage, Pierre Moerlen e Mike Howlett na fase clássica do Gong.
ResponderExcluirUma pergunta: mais alguém concorda que Didier Malherbe é um dos melhores saxofonistas da história do rock? Monsieur Bloomdido Bad De Grasse é absurdamente criativo!!
Eu curto muito o trabalho do Didier Malherbe... Eu gosto de (tentar) entender como uma banda chega no seu som mais reconhecido e, embora minhas limitações sejam muito grandes, faço continuamente este exercício e acabo descobrindo álbuns interessantes, menos badalados. Este foi um clássico caso deste tipo de experimento.
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