The Play On é o terceiro álbum de estúdios da banda britânica Fleetwood Mac. Seu lançamento oficial aconteceu em 19 de setembro de 1969, através do selo Reprise Records. As gravações ocorreram entre 1968 e 1969, nos estúdios CBS e De Lane Lea, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou a cargo da própria banda.
Antecedentes
O Fleetwood Mac foi formado em julho de 1967, em Londres, Inglaterra, por Peter Green após ele ter deixado a banda britânica John Mayall & the Bluesbreakers. Green já havia substituído o guitarrista Eric Clapton no Bluesbreakers e recebeu aclamação da crítica por seu trabalho no álbum A Hard Road.
Green esteve em duas bandas com Mick Fleetwood, Peter B's Looners e a subsequente Shotgun Express (a qual apresentava um jovem Rod Stewart como vocalista) e sugeriu Fleetwood como substituto do baterista Aynsley Dunbar, quando Dunbar deixou o Bluesbreakers para se juntar à nova banda de Jeff Beck/Rod Stewart. John Mayall concordou e Fleetwood se juntou ao Bluesbreakers.
O Bluesbreakers então consistia em Green, Fleetwood, John McVie e Mayall. Mayall deu a Green tempo de gravação grátis como um presente, que Fleetwood, McVie e Green usaram para gravar cinco canções. A quinta música foi uma faixa instrumental que Green a batizou com os nomes da seção rítmica, "Fleetwood Mac" ("Mac" sendo abreviação de McVie).
Logo depois disso, Green sugeriu a Fleetwood que formassem uma nova banda. A dupla queria McVie no baixo e a batizou de "Fleetwood Mac" para seduzi-lo, mas McVie optou por manter sua renda estável com Mayall em vez de se arriscar em uma nova banda.
Peter Green |
Nesse ínterim, Green e Fleetwood se juntaram ao guitarrista Jeremy Spencer e ao baixista Bob Brunning. Brunning estava na banda com o entendimento de que iria embora se McVie concordasse em aderir ao projeto.
A versão do grupo com Green, Fleetwood, Spencer e Brunning, fez sua estreia em 13 de agosto de 1967, no Windsor Jazz and Blues Festival, como "Peter Green's Fleetwood Mac, também apresentando Jeremy Spencer". Brunning fez apenas alguns shows com o Fleetwood Mac.
Poucas semanas depois desse show, John McVie concordou em se juntar à banda como baixista permanente.
O autointitulado álbum de estreia do Fleetwood Mac foi uma obra de blues rock e foi lançado pelo selo Blue Horizon em fevereiro de 1968. Não houve outros músicos no álbum (exceto na música "Long Gray Mare", que foi gravada com Brunning no baixo). O disco fez sucesso no Reino Unido e alcançou a 4ª posição de sua parada, embora nenhuma faixa tenha sido lançada como single. No final do ano, os singles "Black Magic Woman" (posteriormente, um grande sucesso do Santana) e "Need Your Love So Bad" foram lançados.
O segundo álbum de estúdio da banda, Mr. Wonderful, foi lançado em agosto de 1968. Como o primeiro álbum, era voltado ao blues rock. O disco foi gravado ao vivo no estúdio com amplificadores microfonados e um sistema de PA, ao invés de ser plugado na placa de som. O grupo também adicionou uma amiga da banda nos teclados, Christine Perfect, do Chicken Shack.
Logo após o lançamento de Mr. Wonderful, o Fleetwood Mac recrutou o guitarrista Danny Kirwan, de 18 anos. Ele fazia parte do trio de blues, do sul de Londres, Boilerhouse, composto por Kirwan (guitarra), Trevor Stevens (baixo) e Dave Terrey (bateria). Green e Fleetwood assistiram à Boilerhouse ensaiar, e Green ficou tão impressionado que convidou a banda para tocar slots de apoio para o Fleetwood Mac.
Green queria que a Boilerhouse se tornasse uma banda profissional, mas Stevens e Terrey não estavam preparados para tal, então Green tentou encontrar outra seção rítmica para Kirwan colocando um anúncio no Melody Maker. Havia mais de 300 candidatos, mas quando Green e Fleetwood fizeram audições no Nag's Head, em Battersea, (casa do Mike Vernon Blue Horizon Club), o difícil de agradar Green não conseguiu encontrar ninguém bom o suficiente. Fleetwood então convidou Kirwan para se juntar ao Fleetwood Mac como terceiro guitarrista.
Em novembro de 1968, com Kirwan na banda, eles lançaram seu primeiro single número um na Europa, "Albatross", no qual Kirwan fez um dueto com Green. Em janeiro de 1969 eles lançaram sua primeira compilação, English Rose, que continha metade de Mr. Wonderful e mais novas músicas de Kirwan.
Seu próximo e mais bem-sucedido álbum de compilação, The Pious Bird of Good Omen, foi lançado em agosto e continha vários singles, lados B e faixas que a banda havia feito com Eddie Boyd.
Em turnê nos Estados Unidos, em janeiro de 1969, a banda gravou Fleetwood Mac in Chicago (lançado em dezembro como um álbum duplo) no Chess Records Studio, com algumas das lendas do blues de Chicago, incluindo Willie Dixon, Buddy Guy e Otis Spann.
A banda, então, mudou de gravadora e acabou assinando com a Warner Bros. Records (através da Reprise Records, uma gravadora fundada por Frank Sinatra), com a qual permaneceram desde então.
Gravado em dois estúdios diferentes, o CBS e o De Lane Lea, ambos em Londres e com produção da própria banda, Then Play On, terceiro álbum de estúdios do grupo, seria lançado em 19 de setembro de 1969, pelo selo Reprise Records.
Para a gravação de Then Play On, técnicas de edição e overdubbing foram usadas extensivamente pela primeira vez. Green havia começado com improvisação nas apresentações ao vivo da banda e isto apareceu em três das faixas do álbum, incluindo "Underway", "Searching for Madge" e "Fighting for Madge", que foram compiladas por Green a partir de várias horas de jam sessions em estúdio.
Green, o líder da banda de fato na época, delegou metade da composição ao colega de banda Danny Kirwan para que ele pudesse cantar mais os vocais principais.
Danny Kirwan |
Jeremy Spencer, o outro guitarrista da banda, não tocou em nenhuma das faixas originais do álbum. Spencer lançou um álbum solo, em 1970, com os membros do Fleetwood Mac como sua banda de apoio.
A pintura usada para a arte da capa do álbum é um mural do artista inglês Maxwell Armfield. A pintura foi apresentada na edição de fevereiro de 1917 da revista The Countryside, que apontava o fato do mural foi originalmente projetado para a sala de jantar de uma mansão em Londres.
Vamos às faixas:
COMING YOUR WAY
“Coming Your Way” tem uma pegada psicodélica envolvente. Vocais de Kirwan.
As letras falam de movimentações:
You've got things to do
You move everyday
I hope you don't mind
'Cause I'm coming your way
CLOSING MY EYES
“Closing My Eyes” é mais soturna, um Blues mais contido.
Esta é uma letra de esperança:
But is it asking too much
When the question is what to do
With the life I'll have
It seems I know nothing now
Except my love for you
And the strength in my hands
To go on feeding your smile
FIGHTING FOR MADGE
Faixa instrumental que flerta com o Hard Rock.
WHEN YOU SAY
Com vocais de Kirwan, “When You Say” é uma canção mais contida.
A letra é sobre amor:
When you say
That there'll always be
You and me
SHOW-BIZ BLUES
“Show-Biz Blues” é um Hard Blues Rock bem afiado.
A letra é sobre um amor:
If I need anybody
Baby I would take you home with me
If I need anybody
Baby I would take you, Baby I would take you
Baby I would take you home with me
Whoa but I don't need nobody
I don't anybody but him and me
UNDERWAY
Pequena música instrumental, sem muito brilho.
ONE SUNNY DAY
“One Sunny Day” flerta mais fortemente com o Hard Rock e há um ar de Cream na canção - que é ótimo.
A letra é divertida:
All I want from you
Is more then I can do
There's one thing that I know
I'll never let you go
Although the people say
I shouldn't treat you this way
ALTHOUGH THE SUN IS SHINNING
Uma faixa bem contida, com um ar psicodélico sessentista.
A letra é uma declaração de amor:
When we're together
We will never part
And if you leave me
It'll break, it'll break my heart
RATTLESNAKE SHAKE
“Rattlesnake Shake” é um ponto alto do disco, faixa bem agressiva e ousada.
A letra é sobre um “auto amor”:
Now, I know this guy
His name is Mick
Now, he don't care when he ain't got no chick
He do the shake
The rattlesnake shake
Yes, he do the shake
And jerks away the blues
Now, jerk it
A canção foi lançada como single, mas não repercutiu nas principais paradas de sucesso.
WITHOUT YOU
“Without You” é um blues bem contido, com uma pegada BB King, e é uma linda música.
A letra é sobre frustração amorosa:
I woke up last night
Found she was gone
I woke up last night
Found she was gone
I'm so lonely babe
I'm so lonely babe
No I can't live without you babe
I'm so lonely babe
SEARCHING FOR MADGE
Excelente canção instrumental!
MY DREAM
Mais uma faixa instrumental, mas desta feita, apesar de boa, sem o mesmo brilhantismo.
LIKE CRYING
“Like Crying” é um Blues bem divertido, contando com um dueto de Green e Kirwan.
A letra é divertida:
She's got so much blues
Her best friend can't help her
Her best friends a woman
How can a woman help her
Woman's got the blues
BEFORE THE BEGINNING
O álbum se encerra bem, com a inspirada “Before the Beginning”.
A letra é bonita:
You talk about a life
Been searching for the key
But can't find an answer
To comfort me
I ask myself about love
Can't even find the door
To take me to a place
I've never seen before
Considerações Finais
Then Paly On atingiu a 4ª colocação da principal parada britânica conquistando a 109ª posição de sua correspondente norte-americana, sendo o primeiro disco do Fleetwood Mac a entrar nesta última.
“Rattlesnake Shake” foi lançada como single para promoção do disco, mas não repercutiu nas paradas de sucesso. Entretanto “Oh Well”, uma faixa que foi lançada apenas na versão estadunidense do disco, ficou no 2º lugar da principal parada britânica de singles, atingindo o 55º em sua correspondente dos Estados Unidos.
As críticas daquela época foram mistas. Robert Christgau recebeu bem o disco, enquanto a Rolling Stone não curtiu o trabalho. Entretanto, as críticas contemporâneas são extremamente favoráveis, por exemplo, a revista Blender deu nota máxima ao álbum.
Em 1970, Green, o vocalista da banda, estava usando LSD. Durante a turnê européia da banda, ele passou por uma viagem de ácido em uma comuna hippie em Munique. Clifford Davis, o empresário da banda, destacou este incidente como o ponto crucial no declínio mental de Green.
O autor e cineasta alemão Rainer Langhans afirmou em sua autobiografia que ele e Uschi Obermaier conheceram Green, em Munique, e o convidaram para seu Highfisch-Kommune, onde as bebidas eram enriquecidas com ácido. Langhans e Obermaier planejavam organizar um "Woodstock da Baviera" ao ar livre, para o qual queriam que Jimi Hendrix e os Rolling Stones fossem os artistas principais e esperavam que Green os ajudasse a entrar em contato com os Stones.
O último hit de Green com o Fleetwood Mac foi "The Green Manalishi (With the Two-Prong Crown)". Em abril, Green decidiu deixar a banda após o término de sua turnê européia. Seu último show com o Fleetwood Mac foi em 20 de maio de 1970.
Formação:
Peter Green – Vocal, Guitarra, Gaita, Baixo de 6 cordas, Percussão
Danny Kirwan – Vocal, Guitarras
John McVie – Baixo
Mick Fleetwood – Bateria, Percussão
Músicos Adicionais:
Christine Perfect – Piano – não creditada
Faixas:
01. Coming Your Way (Kirwan) - 3:47
02. Closing My Eyes (Green) - 4:50
03. Fighting for Madge (Fleetwood) - 2:45
04. When You Say (Kirwan) - 4:22
05. Show-Biz Blues (Green) - 3:50
06. Underway (Green) - 3:06
07. One Sunny Day (Kirwan) - 3:12
08. Although the Sun Is Shining (Kirwan ) - 2:31
09. Rattlesnake Shake (Green) - 3:32
10. Without You (Kirwan) - 4:34
11. Searching for Madge (McVie) - 6:56
12. My Dream (Kirwan) - 3:30
13. Like Crying (Kirwan/Green) - 2:21
14. Before the Beginning (Green) - 3:28
Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.letras.mus.br/fleetwood-mac/#R
Opinião do Blog:
A degradação mental de Peter Green, pelo uso excessivo de substâncias nocivas, acabou por dar um fim precoce a sua (ótima) fase mais produtiva e inspirada.
É claro que o Fleetwood Mac teria mais sucesso com álbuns como Rumours (1977) e uma sonoridade mais acessível e palatável, mas, confesso, eu prefiro os discos anteriores – e em especial – esta fase com o Green.
Then Play On mostra como a parceria entre Peter Green e Danny Kirwan poderia ter rendido frutos ainda melhores, mas, já aqui, há algumas faixas memoráveis.
“Show-Biz Blues”, “Searching for Madge” e o belo dueto de “Like Crying” apontam o potencial desta dupla. E ainda há a melhor do álbum, a porrada “Rattlesnake Shake”.
Talvez Then Play On não fosse o álbum que o público do site esperava que usássemos para abordar uma banda do porte do Fleetwood Mac, mas escolhas incomuns sempre foram parte – essencial – do nosso trabalho.
Excelente álbum, diferente dos dois primeiros por ser menos calcado no blues tradicional e de todos os seguintes, que vão se tornando progressivamente mais pop até chegarem ao AOR praticamente perfeito da segunda metade dos anos 70 com Stevie e Lindsay. Danny Kirwan se mostrou um parceiro à altura de Peter Green, que precisava de um segundo guitarrista no palco, já que Jeremy Spencer não admitia tocar guitarra-base para Greeny quando este apresentava seu material. Gosto bastante da edição com "Oh Well", que traz a única participação de Spencer no disco, tocando um piano discreto na parte 2. É uma pena que Peter Green não soube lidar com a fama e a fortuna e abusou das drogas, porque era um guitarrista de talento e bom gosto incomuns, além de um compositor de mão cheia e um cantor bastante razoável. Quando Jeremy Spencer saiu, ele acabou completando a turnê americana de 1970 do Mac, e depois participaria numa música de "Tusk", em 1979 - mas só nos anos 90, com o Peter Green's Splinter Group, que ele voltou a gravar material comparável com os primeiros discos do Fleetwood Mac. Mas, para mim, a grande obra-prima deles é mesmo o primeiro LP, melhor disco de blues britânico de todos os tempos!
ResponderExcluirEu curto imaginar o que teria ocorrido se Kirwan e Green continuassem compondo juntos. Infelizmente, é apenas um sonho. Valeu pelo ótimo comentário.
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