Moto Perpétuo é o álbum de estreia da banda brasileira de mesmo nome, lançado originalmente em 11 de novembro de 1974, através do selo Continental. A produção ficou a cargo de Moracy do Val.
Vamos fazer um resumo sobre a história da banda para depois adentrarmos ao faixa a faixa.
Fontes da parte histórica: Wikipedia, Rock Digital, Whiplash
Guilherme Arantes
Guilherme Arantes nasceu em 28 de julho de 1953, na cidade brasileira de São Paulo.
Durante os anos 1980, Guilherme ficaria conhecido em todo o Brasil, sendo reconhecido como um grande hitmaker, emplacando sucessos na sua própria voz e nas de inúmeros outros artistas tais como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Nando Reis, Elis Regina, Roberto Carlos, Belchior, Gal Costa e MPB4.
Guilherme contribuiu decisivamente também para o surgimento do fenômeno new wave no Brasil, em 1981, assinando aquela que é considerada a primeira música do gênero no país: "Perdidos na Selva".
É um dos poucos pianistas brasileiros a integrar o hall da fama da secular fabricante teuto-americana de pianos Steinway & Sons, estando em companhia de nomes como Guiomar Novaes, Franz Liszt, George Gershwin e Duke Ellington.
Moto Perpétuo
Banda formada em 1969 na cidade de São Paulo, que lançou um único álbum em 1974.
Em 1970, Guilherme Arantes foi assistir a peça Plug, produzida pelo seu primo Solano Ribeiro no Teatro Ruth Escobar e conheceu Diógenes Burani. Em pouco tempo, Guilherme (teclados), Diógenes (bateria e percussão) e Rodolfo Grani Júnior (baixo) estariam acompanhando Jorge Mautner em shows por São Paulo.
Quando entrou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Guilherme conheceu outro músico: Cláudio Lucci. Quando Guilherme apresentou seus dois amigos - Diógenes e Cláudio - um ao outro, os três resolveram montar uma banda. Diógenes, por sua vez, tinha participado de um "embrião" do grupo que Rita Lee tentava montar com sua amiga Lucinha Turnbull, após a saída da primeira dos Mutantes, que se chamava Cilibrinas do Éden. Deste projeto, Diógenes havia conhecido Gerson Tatini (baixo) e Egídio Conde (guitarra), sugerindo seus nomes a Guilherme e Cláudio.
Após a formação da banda, chamam a atenção de Moracy do Val - produtor do álbum de estreia do grupo paulista Secos & Molhados - que passa a promover o grupo. O jornalista e produtor musical consegue um contrato para a gravação de um álbum de estúdio com a gravadora GEL, a mesma da banda Secos & Molhados.
Gravações
Entretanto, o produtor começa a passar por dificuldades com a dissolução da banda que o tornou famoso e fica cada vez menos no estúdio, com Pena Schmidt assumindo grande parte das obrigações de produção.
Assim, nos meses de setembro e outubro de 1974 o grupo grava seu disco, no Estúdio Sonima, em São Paulo. Os desenhos da capa e as fotos ficam por conta de um amigo do grupo, Marcos A. Campacci. O álbum é lançado no dia 11 de novembro de 1974, com uma apresentação no Theatro Treze de Maio, pelo selo Continental.
Vamos às faixas:
MAL O SOL
O disco é aberto com toques de MPB fundidos a um rock suave, bem interessante.
A letra tem uma tonalidade bucólica:
A partir da cama num hotel de fronteira
olhos de água céu e missa
ao calor do dia ou à sua certeza
mal o sol amarelecera no céu
CONTO CONTIGO
Música que apresenta grande influência de bandas como o Yes.
A letra fala de autoconhecimento:
Conto contigo
porque contigo estou são e calmo
Conto contigo que sabe do sonho que pisa
e não precisa muito p'ra que eu
VERDE VERTENTE
Linda música, com uma grande atuação dos vocais de Guilherme.
A letra é enigmática:
Granulou-se verde vertente
onde o brilho solar atinge
muitos anos já se passaram e quase não vi
que espalhou-se o verde em vertente
MATINAL
Há um sabor de melancolia nesta canção, com uma atuação mais contida do grupo, mas igualmente cativante.
Novamente, a letra fala de compreensão de si mesmo:
O sabor da verdade
deixa os homens parados
bom mesmo seria fazer
a cidade inteira se escutar
mas sem outro remédio
que se abrir a si mesmo
ao menos o máximo que der
TRÊS E EU
A faixa se inicia com um lindo violão, numa espécia de musicalidade flamenca, sendo “Três e Eu” mais instrumental, lembrando bastante bandas como o Genesis.
A letra é inteligente e fala sobre solidão:
Só na estação
sob os pés uma cidade
tudo nas mãos
como um louco na neblina.
NÃO RECLAMO DA CHUVA
Em uma fusão de Prog com clube da esquina, esta música é muito interessante.
A letra menciona simplicidade:
Quando se abandona o mundo, fica mais bonito...
É bem melhor uma roupa esfarrapada que o medo de sujar…
DUAS
“Duas” conta com um solo de guitarra bem interessante.
A letra brinca com a dualidade:
Duas são as partes de um todo
duas faces, uma vida, uma morte
satisfeito é meio conforto
confortado tem somente a metade.
SOBE
“Sobe” é uma música com fortes influências de Beatles, seja no instrumental, seja na forma como Arantes a canta.
A letra fala sobre determinação:
Cante, mas não desgraça
não se desfaça de nada
mexa-se, mais vontade sem mais razão.
SEGUIR VIAGEM
Faixa bem curtinha com vocais de Lucci.
A letra menciona uma certa resignação:
Pra não lembrar
Pra não chorar
Pra não parar
OS JARDINS
“Os Jardins” tem uma musicalidade mais intrincada e menos linear, sendo uma das melhores do disco.
A letra é bonita:
Nunca me responderão que sim
Ou se me encontro errado
Então me responda
TURBA
“Turba” encerra o disco com uma pegada semelhante a da faixa anterior, sendo mais complexa em seu instrumental.
A letra fala sobre resistência:
há montes de gente correndo na guia
há muita barriga a soluçar...
bom dia, café com leite
bom dia planalto
que diabo o cinza desse asfalto
Considerações Finais
A sonoridade da banda é notadamente influenciada pelo Clube da Esquina - muito em voga na época - e por famosas bandas de rock progressivo como Genesis, Yes, Emerson, Lake & Palmer, e as bandas italianas Le Orme e Premiata Forneria Marconi.
Alguns meses mais tarde, o grupo acabaria por divergências internas, com Guilherme Arantes querendo se afastar daquela sonoridade progressiva que ele considerava "elitista".
O álbum foi relançado diversas vezes nos anos seguintes. Em 1977, recebeu um relançamento em LP e fita cassete pelo selo Phonodisc, também de propriedade da GEL, como parte da série Rock Brasil Anos 70.
Em 1989, novamente o disco é relançado em LP e fita cassete. Em 2002, como parte da série Arquivos Warner - comandada por Charles Gavin, o trabalho recebe seu primeiro lançamento em CD. Finalmente, em 2017, o álbum é relançado novamente em CD.
Em 1981, três dos membros do Moto Perpétuo - Cláudio Lucci, Gerson Tatini e Diógenes Burani - se reuniram com a vocalista e violonista Mônica Marsola, formando o grupo São Quixote e gravando um único álbum autointitulado. O disco contou, ainda, com a participação especial de Guilherme Arantes tocando moog e piano em cinco faixas do álbum gravado pelo selo independente Lira Paulistana.
O trabalho é conhecido como o primeiro do cantor, compositor e pianista Guilherme Arantes que viria a desenvolver uma carreira solo de sucesso a partir de 1976 em uma linha mais popular do que a deste disco.
Com os sucessivos relançamentos do álbum, o disco tornou-se um clássico cult.
Formação:
Guilherme Arantes: piano e vocais
Egídio Conde: guitarra solo e vocais
Cláudio Lucci: violões, violoncelo, guitarra e vocais
Gerson Tatini: baixo e vocais
Diógenes Burani: bateria, percussão e vocais
Faixas:
01. Mal o Sol (Arantes) - 2:48
02. Conto Contigo (Arantes) - 2:54
03. Verde Vertente (Arantes) - 3:16
04. Matinal (Arantes) - 4:32
05. Três e Eu (Lucci) - 5:18
06. Não Reclamo da Chuva (Arantes) - 2:30
07. Duas (Arantes) - 2:16
08. Sobe (Arantes) - 3:17
09. Seguir Viagem (Lucci) - 1:38
10. Os Jardins (Arantes) - 3:00
11. Turba (Arantes) - 5:50
Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.letras.mus.br/moto-perpetuo/
Opinião do Blog:
Como disse na resenha passada, nunca fui um grande conhecedor de músicas brasileiras, em português, e tomei uma enorme surpresa quando ouvi este disco. Ainda mais quando a pessoa que me indicou disse que era o primeiro trabalho do Guilherme Arantes (a quem eu associava a músicas românticas para programas popularescos de TV).
A sonoridade do disco tem uma profunda influência do Clube da Esquina, especialmente nas harmonias. Simultaneamente, há forte influência do Prog inglês, aos meus ouvidos, bandas como Genesis e Yes, principalmente.
Uma coisa que senti falta foi de mais protagonismo das guitarras, pois a sonoridade é dominada pelos pianos/teclados do Guilherme Arantes, o qual é o grande destaque do trabalho. Seus vocais são absurdamente bons.
Minhas faixas preferidas são “Conto Contigo”, “Três e Eu” e “Duas”. É importante frisar que aqui não há nenhuma música sequer mediana.
Concluindo, o único álbum da banda Moto Perpétuo é excelente, uma obra que deve ser cada vez mais resgatada. Disco que recomendo especialmente para fãs de Rock Progressivo – embora, qualquer bom ouvinte vai saboreá-lo.
0 Comentários:
Postar um comentário