Fragile é o quarto álbum de estúdios da banda inglesa Yes. Seu lançamento oficial aconteceu em 12 de novembro de 1971. As gravações ocorreram entre agosto e setembro daquele mesmo ano, no estúdio Advision, em Londres. A produção ficou a cargo da própria banda com o Eddy Offord e o selo foi o Atlantic.
Momento de falarmos sobre um clássico do Yes: o ótimo Fragile.
Antecedentes
Em 31 de julho de 1971, o Yes realizou o show final de sua então turnê, no Crystal Palace Park, em Londres, em apoio ao seu álbum anterior, The Yes Album (1971). A turnê foi significativa para a banda, pois incluiu seu primeiro conjunto de shows nos EUA, o que a ajudou a ganhar impulso quando o The Yes Album e seu single, "Your Move", alcançaram o top 40 dos EUA.
A formação do grupo durante esse período consistia no vocalista principal Jon Anderson, o baixista Chris Squire, o baterista Bill Bruford, o tecladista Tony Kaye e o guitarrista Steve Howe. Após a turnê, o Yes começou a trabalhar em seu próximo álbum de estúdio, que foi originalmente concebido como um disco duplo com uma combinação de faixas de estúdio e ao vivo, mas que não pôde ser realizado devido ao aumento do tempo necessário para fazê-lo. As ideias de gravar em Miami, Flórida, com o produtor Tom Dowd também nunca se concretizaram.
Os ensaios ocorreram em agosto de 1971 em um pequeno estúdio no Shepherd Market, em Londres. Quando a gravação começou, Kaye estava relutante em expandir seu som além de seu órgão Hammond e piano e tocar instrumentos mais novos, como o sintetizador Mellotron ou Moog, causando desentendimentos artísticos com seus companheiros de banda, particularmente Anderson e Squire. Kaye foi demitido do Yes e, por insistência do empresário Brian Lane, entregou seus royalties dos três primeiros álbuns em troca de uma quantia em dinheiro.
Um substituto foi rapidamente encontrado em Rick Wakeman, um pianista com formação clássica com experiência em tocar uma grande variedade de teclados. Wakeman era um membro da banda de folk rock Strawbs e um músico de estúdio requisitado. Ele recebeu uma oferta de uma vaga na banda de turnê de David Bowie no mesmo dia em que foi convidado a se juntar ao Yes, mas escolheu o Yes devido à oportunidade de mais liberdade artística.
Wakeman soube que a banda retornaria aos Estados Unidos para outra turnê e recusou categoricamente, mas rapidamente percebeu que estava segurando uma boa oferta e aceitou. Wakeman lembrou que a base de "Roundabout" e "Heart of the Sunrise" foi elaborada no final de seu primeiro dia com a banda.
Squire falou sobre aquela primeira sessão: "Isso marcou a primeira aparição real do sintetizador Mellotron e Moog - adicionando o sabor desses instrumentos a uma peça que basicamente já havíamos elaborado". Wakeman ficou surpreso ao ver a frequência com que o grupo discutia entre si e, em um ponto, logo após sua chegada, pensou que se separariam.
Gravações
As gravações ocorreram em agosto e setembro de 1971, no Advision Studios, em 16 canais. Eddy Offord, que atuou como engenheiro de gravação em Time and a Word (1970), assumiu seu papel enquanto dividia as tarefas de produção com a banda. A Rolling Stone relatou que o álbum custou 30 mil dólares para ser produzido.
Fragile marca o início da longa associação da banda com o artista inglês Roger Dean, que criaria muitas de suas futuras capas de álbuns, seu logotipo e cenários de palco ao vivo. Em 1971, Dean enviou um portfólio para Phil Carson, então gerente geral europeu da Atlantic Records, que disse que entraria em contato com Dean para trabalhar quando uma de suas bandas precisasse de um artista para a arte da capa, que veio a ser o Yes.
Antes de começar a capa, Dean havia inventado uma narrativa de mito da criação sobre uma criança que sonhava viver em um planeta que começou a se desintegrar, então eles construíram uma "arca espacial" para encontrar outro planeta para viver enquanto rebocavam os pedaços quebrados com eles.
Dean estava ciente de que o título do álbum descrevia "a psique" do grupo na época, o que influenciou seu design "muito literal" de um mundo Bonsai frágil que iria se desintegrar. A banda desejava uma imagem de um pedaço de porcelana fraturado, mas Dean acabou quebrando o planeta em dois pedaços como um compromisso. Dean produziu três versões da capa com o planeta em verde, vermelho e azul, em uma tentativa de "obter a aparência certa".
Bruford achou que Dean "brilhantemente transformou essa ideia [de Fragile] na imagem presciente do frágil planeta Terra, com implicações de um ecossistema delicado e quebrável". Dean continuou a narrativa em sua arte para o primeiro álbum ao vivo do Yes, Yessongs (1973), mas seu estilo havia evoluído nessa época e o planeta não se parecia mais com o original do Fragile.
O encarte que acompanha o LP contém duas pinturas adicionais de Dean; a capa frontal retrata cinco criaturas amontoadas sob um sistema de raízes e a parte de trás retrata uma pessoa escalando uma formação rochosa. O interior apresenta várias fotografias da banda com uma página dedicada a cada membro, com ilustrações menores e fotografias de suas esposas e filhos. A página de Anderson contém um pequeno poema, e a de Wakeman inclui uma lista de agradecimentos, incluindo Mozart, o pub The White Bear em Hounslow e o Brentford F.C.
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Jon Anderson |
Vamos às faixas:
ROUNDABOUT
“Roundabout” é uma faixa magnífica do Yes, trazendo mudanças de alternâncias, Wakeman e Howe destruindo tudo.
A letra reflete sobre ciclos:
In and around the lake
Mountains come out of the sky and they stand there
One mile over, we'll be there, and we'll see you
Ten true summers, we'll be there, and laughing too
Twenty four before my love you'll see
I'll be there with you
“Roundabout” é um clássico do Yes. Ela foi lançada como single, atingindo a 13ª colocação na principal parada desta natureza nos Estados Unidos.
CANS AND BRAHMS
É uma adaptação da Sinfonia n.º 4, de Johannes Brahms, com a classe de Rick Wakeman.
WE HAVE HEAVEN
É uma canção mais acústica, bem curtinha, aplicando um coral de vozes.
A letra é curta:
Tell the Moon-dog, tell the Mars-hare
Tell the Moon-dog, tell the Mars-hare
We have heaven
To Look around, to look around
Yes, he is here; Yes, he is here
SOUTH SIDE OF THE SKY
Outra faixa incrível do disco, com Wakeman soberbo e dominando-a.
A letra se refere a um acidente polar:
"Move forward," was my friend's only cry
Dig deeper to somewhere we can lie
And rest for the day
With cold in the way
FIVE PER CENT FOR NOTHING
Música instrumental com cerca de 37 segundos, dominada pela bateria de Bruford.
LONG DISTANCE RUNAROUND
“Long Distance Runaround” é uma canção bonita, criativa e cativante, com uma melodia complexa, mas acessível.
A letra é uma reflexão sobre competição e religião:
Long distance runaround
Long time waiting to feel the sound
I still remember the dream there
I still remember the time you said goodbye
Did we really tell lies
Letting in the sunshine
Did we really count to one hundred
THE FISH
O – enorme – talento de Chris Squire é realçado nesta canção.
A letra repete o nome de uma espécie de peixe marinho:
Schindleria Praematurus
MOOD FOR A DAY
Linda música acústica dominada por Steve Howe.
HEART OF THE SUNRISE
A impressionante “Heart of the Sunrise” apresenta um Yes agressivo, pesado, sombrio e igualmente genial.
A letra pode ser interpretada como uma procura pelo valor da vida:
Straight light moving and removing
Sharpness of the colour sunshine
Straight light searching all the meanings of the song
Considerações Finais
Fragile foi lançado em 12 de novembro de 1971 no Reino Unido, mas somente nos EUA em 4 de janeiro de 1972. Atingiu a excelente 4ª posição na principal parada de discos nos EUA, conseguindo a 7ª na correspondente britânica.
O disco recebeu uma recepção principalmente positiva após seu lançamento. A revista Billboard descreveu-o como "vibrante, calmante, tumultuado, plácido e instrumentalmente brilhante" e os vocais de Anderson "deliciosamente insinuantes". Em sua crítica para a Rolling Stone, Richard Cromelin destacou as "belas melodias do álbum, arranjos inteligentes, cuidadosamente elaborados, constantemente surpreendentes, performances concisas e enérgicas" e "letras enigmáticas, mas evocativas", mas destacou que o Yes "tende a sucumbir à síndrome do exibicionismo”.
Em sua análise para a AllMusic, Bruce Eder deu ao álbum cinco estrelas de cinco. Ele escreve: “Fragile foi o álbum inovador do Yes, impulsionando-os em questão de semanas de um ato cult para um fenômeno internacional”.
Em 2005, Fragile foi incluído na publicação de referência musical 1001 Albums You Must Hear Before You Die. Em 2014, os leitores da Rhythm votaram nele como o sexto melhor álbum de bateria na história do rock progressivo.
Em
fevereiro de 1972, o Yes gravou uma versão cover de "America",
de Simon & Garfunkel, e a lançou em julho. O single alcançou a
posição 46 na parada de singles dos EUA. A faixa apareceu
posteriormente em The New Age of Atlantic, um álbum de
compilação de 1972 de várias bandas contratadas pela Atlantic, e
novamente na compilação de 1975, Yesterdays.
Lançado
em setembro de 1972, Close to the Edge, o quinto álbum da
banda, foi seu trabalho mais ambicioso até então.
Segundo estimativas, Fragile suplanta a casa de 2 milhões de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos.
Formação:
Jon Anderson – Vocal
Steve Howe – Guitarra, Violão, Backing vocals
Chris Squire – Baixo, Backing vocals
Rick Wakeman – Hammond, Piano, RMI 368 Electra-Piano e Harpsichord, Mellotron, Minimoog
Bill Bruford – Bateria, Percussão
Faixas:
01. Roundabout (Anderson/Howe) - 8:29
02. Cans and Brahms (Johannes Brahms, arranjos de Wakeman) - 1:34
03. We Have Heaven (Anderson) - 1:38
04. South Side of the Sky (Anderson/Squire) - 7:57
05. Five per Cent for Nothing (Bruford) - 0:35
06. Long Distance Runaround (Anderson) - 3:28
07. The Fish (Squire) - 2:36
08. Mood for a Day (Howe) - 2:55
09. Heart of the Sunrise (Anderson/Squire/Bruford) - 11:16
Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/yes/
Opinião do Blog:
O Yes retorna ao Blog com um de seus álbuns mais emblemáticos: Fragile.
Aqui, o Yes transforma a sonoridade proposta no bom álbum anterior em algo a mais. A técnica, as mudanças de dinâmicas, os arranjos complexos e as estruturas intricadas ganham mais potência e mais possibilidades.
Muito disto é devido à chegada de um músico espetacular: a adição de Rick Wakeman levou o Yes a um patamar estratosférico e, como consequência, elevou o potencial de seus companheiros de bandas a um nível mais elevado. Tudo isto já é comprovado na magnífica “Roundabout”.
Fragile tem letras lindas, muitas viajantes e bases de ficção, e, aqui, não existem músicas descartáveis. O disco é simplesmente impecável.
Minhas preferidas são as incríveis “South Side of the Sky”, a pesada “Heart of the Sunrise” e, claro, a monumental “Roundabout”, esta um verdadeiro deleite para fãs de Prog.
Em suma, Fragile colocou o Yes no patamar de ícones do Rock Progressivo. Embora um tanto menos alardeado, Fragile é, para mim, um dos melhores álbuns de Progressivo da história do Rock. Salve, Rick Wakeman!!!!
"Roundabout", "South Side of Sky" e "Heart of the Sunrise" são os destaques absolutos do disco para mim, prova de que o Yes no longínquo ano de 1971 estava a mil por hora. Os números solo, à exceção do de Steve Howe e do de Chris Squire, não empolgam muito, mas o conceito, retirado do "Ummagumma" do Pink Floyd, era interessante (e depois foi significativamente expandido pelo Emerson Lake & Palmer no primeiro volume de "Works", em que cada músico ganhou um lado para se divertir).
ResponderExcluirSempre achei curioso o fato de que Tony Kaye saiu - ou foi saído - da banda porque não queria tocar outros instrumentos, pois ele tocou um sintetizador bem proeminente em "One Live Badger"! Como ele nunca deu sua versão sobre o assunto, eu especulo se os outros não forçaram a sua saída para que Rick Wakeman pudesse entrar...
Pois é, a história da saída do Kaye sempre me deixou em dúvidas também.
ExcluirDiferente do álbum sucessor, o superestimado Close to the Edge (marcado pelo choque de egos entre Bill Bruford e os outros membros do Yes, que motivou a sua saída após as gravações no estúdio), este Fragile me mostra exatamente o contrário do que aconteceu um ano depois: este disco de 1971 do Yes representa uma banda 100% unida e coesa, tocando muito e mostrando tudo o que sabe fazer nos momentos certos, seja coletivamente ou individualmente.
ResponderExcluirE é uma pena que essa formação do Yes na época (vista por muitos como a melhor, embora eu não a pense assim) tenha durado apenas dois discos de estúdio e somente uma turnê de shows. Como seria a continuação de tudo isso se Bruford não colocasse tudo a perder com o grupo e "largasse o barco" logo no momento do auge de seu sucesso? Pensa bem...
Respeito sua opinião, mas penso que Close to Edge é um dos melhores álbuns de Prog já feitos - e isto não diminui em nada a qualidade de Fragile.
ExcluirAbraços!
Concordo que Close to the Edge seja um dos melhores discos de prog já feitos, só que na discografia do Yes é um disco muito superestimado por causa das opiniões de fãs/críticos que o elegem como o seu melhor trabalho, o que eu acho um exagero enorme, já que o Yes tem felizmente outros discos bem melhores do que esse em sua discografia.
ExcluirSobre o problema do Bruford é verdade: o baterista talentoso (mas contraditório) saiu após as gravações de CTTE no estúdio por causa de suas discordâncias com os outros membros da banda a respeito da direção musical que eles estavam tomando a partir deste trabalho, daí o tal "choque de egos" que eu citei acima. Se acontecesse o contrário, pensa bem como seria... Entendeu agora, chefe?
Mas o "se" nunca existiu. O fato material é CTTE é um dos pilares do Rock Progressivo, independente de se gostar ou não.
ExcluirMas, porém, sagrado é seu direito de ter outra opinião.
Abraço!
Obrigado pela resposta de novo, chefe... Mas acho que isso foi culpa do destino que começou a mostrar a sua face cruel dentro do seio interno do Yes durante a época de Close to the Edge, daí vem essas expeculações dos fãs de como seria a banda se não acontecesse o que aconteceu com o Bruford em 1972...
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